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15/09/2008 - 16h34

Acusado de grampo, candidato a vereador adota slogan "Fala que eu te escuto"

Marcus Vinicius Gomes
Especial para o UOL
Em Curitiba
Preso durante a campanha ao governo em 2006, acusado de escutas telefônicas ilegais, o policial civil Délcio Rasera é candidato a vereador em Curitiba pelo nanico PRTB com um slogan em que, aparentemente, faz piada de si mesmo: "Fala Curitiba que eu te escuto".
  • Franklin de Freitas

    O policial civil Délcio Rasera (PRTB)


    Rasera foi preso há pouco mais de dois anos, em 5 de setembro, em uma operação da PIC (Promotoria de Investigações Criminais), órgão ligado ao Ministério Público do Paraná, em uma ação que envolveu 10 PMs e quatro promotores.

    Na época, Rasera ocupava o cargo de assessor especial do governador Roberto Requião (PMDB), trabalhando no quarto andar do Palácio Iguaçu. Junto com equipamentos de escuta, teriam sido apreendidos ainda armas de médio e grosso calibre. Algumas de uso exclusivo das Forças Armadas.

    Segundo Rasera, elas estavam em um cofre e fariam de parte de sua coleção. "Sou membro da Associação Paranaense de Atiradores de Rifles há dez anos", defende-se o policial.

    Rasera passou 319 dias preso na ala C da Delegacia de Furtos e Roubos Veículos da capital paranaense. Foi libertado em 20 de julho do ano passado, depois que seus advogados conseguiram o habeas-corpus.

    Durante o período em que ficou na prisão, Rasera negou-se a falar com a imprensa e só concordou em conceder entrevista ao UOL na semana passada, depois que o TRE-PR (Tribunal Regional Eleitoral do Paraná) indeferiu o pedido de impugnação de sua candidatura.

    Na cadeia, Rasera diz ter escrito um livro em que contaria a sua "versão da história", porém informa que já instruiu a família a publicá-lo só depois de sua morte. "É a minha garantia de vida", afirma.

    Rasera acusa os promotores da PIC de "motivação política" em sua prisão. Quando foi preso, ele estava lotado no gabinete da Casa Civil do governo, onde era encarregado de resolver "assuntos de interesses do governo". "Eu era o único policial civil no Palácio Iguaçu. Havia 275 policiais militares, mas eu era o único civil. Fui chamado para trabalhar no governo porque sou especializado em anti-grampos e na detecção de fraudes. Interceptação telefônica eu nunca fiz. Nunca gravei ninguém", garante ele.

    De acordo com Rasera, sua prisão teve motivação eleitoral e tinha o propósito de intimidá-lo a "entregar" Requião. "Não recebi voz de prisão. Não fui confrontado com meus acusadores. Fui algemado e levado para a cadeia. Na delegacia, só me perguntavam quem era o meu chefe, eles queriam que eu delatasse o governador Requião, que naquele ano disputava a reeleição".

    Rasera admite, contudo, que o Paraná possui o supercomputador "Guardião" utilizado para interceptação. Segundo ele, o equipamento teria custado R$ 1,5 milhão aos cofres públicos e está instalado na sede da Central de Inteligência da Secretaria Estadual de Segurança Pública (CISESP), com capacidade para monitorar simultaneamente 1.200 ligações telefônicas.

    "Mas as escutas são feitas com autorização judicial e um relatório é enviado ao juiz que expediu o mandado de 15 em 15 dias", assinala. Leia abaixo a entrevista.

    UOL - Promotores do Ministério Público dizem que o senhor está tripudiando da Justiça ao usar a frase "Fala Curitiba que eu te escuto" como slogan de campanha. Isso é verdade?
    Délcio Rasera - De maneira alguma. Eu trabalho com a população diariamente há 28 anos e minha principal missão é ouvir as pessoas. Eu escuto bastante as pessoas. Porque quando um cidadão chega ao balcão da polícia o que ele mais quer é que alguém ouça os seus problemas. O slogan tem esse sentido.

    UOL - O seu número de candidato é o 28102. E o 102 é o serviço de informações das companhias telefônicas. Há algum duplo sentido?
    Rasera - Também não. O número, para falar a verdade, foi escolhido ao acaso.

    UOL - O senhor está sendo acusado de fazer interceptações telefônicas ilegais. Como se defende?
    Rasera - Nunca fiz esse trabalho, não sou grampeador. Sou um policial especializado. Promotores e policiais militares invadiram minha casa, no Jardim Social, em 5 de setembro de 2006, e reviraram tudo. Há imagens juntadas no processo que mostram isso. Minha família foi impedida de entrar. Havia quatro cofres na casas e os policiais precisaram de três horas e 16 brocas para abri-los. Havia dinheiro em um deles. Sumiu. As câmeras dentro da minha casa registraram os promotores e policiais usando a minha churrasqueira no fim do dia, bebendo o meu uísque e se servindo de salaminho.

    UOL - E as armas apreendidas?
    Rasera - Eu sou colecionador. As armas que não foram registradas serão em breve, uma vez que o governo federal lançou nova campanha de desarmamento.

    UOL - A promotora de Justiça, Danielle Gonçalves Thomé, uma das supostas vítimas de grampo, diz que o senhor ironiza a Justiça em sua campanha porque teria certeza da impunidade.
    Rasera - Eu entendo a cólera dela na condição de vítima, só não aceito que me impute a culpa. Eu a aconselho a procurar em suas entranhas que ela encontrará as respostas que precisa. No mais, desejo que ela seja muito feliz.

    UOL - O senhor atribui sua prisão a uma motivação política. Por quê?
    Rasera - Porque eu trabalhava com Requião e havia gente interessada em prejudicá-lo na campanha de 2006. O que eles (os promotores) queriam era que eu entregasse o governador na bandeja, mas eu não sou delator e não faço parte dessa Jihad (guerra santa).

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