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02/09/2008 - 16h04

Candidato apoiado por Requião acredita no 'imponderável' em Curitiba

Marcus Vinicius Gomes
Especial para o UOL
Em Curitiba
Há duas semanas, o candidato a prefeito de Curitiba, Carlos Moreira (PMDB), 49 anos, se envolveu numa polêmica futebolística. Em entrevista a um jornal da capital paranaense, não quis declarar qual era o seu clube do coração no Paraná. "Torço para um time paranaense. Não vou falar porque em época de eleição é complicado".
  • Divulgação

    O candidato Carlos Moreira (PMDB)


    A declaração de Moreira provocou polêmica e fez parecer que ele "escondia o jogo" para não perder os votos de eleitores que torciam para outros times. Afinal, ele havia acabado de inaugurar comitês de campanha que levavam o apoio de membros dos três principais times de Curitiba: Paraná, Atlético-PR e Coritiba.

    Não foi a primeira vez que o ex-reitor da Universidade Federal do Paraná, que nunca havia se candidatado para um cargo político, se envolveu em polêmicas. Em maio, quando se apresentou como pré-candidato à prefeitura, contando com o apoio do governador Roberto Requião (PMDB), Moreira fez discurso ácido criticando os políticos profissionais e aqueles que herdavam a carreira política da família como se fosse uma "gleba de terra".

    A afirmação provocou mal-estar entre os parlamentares do PMDB, inclusive no próprio governador Requião, ele mesmo vindo de uma família de políticos. "Eu não retiro uma vírgula do que disse naquela ocasião, se o Requião me escolheu é porque ele concorda comigo", assinalou Moreira em entrevista ao UOL.

    Na última pesquisa Ibope, divulgada na sexta-feira (29), o "Reitor Moreira", como ele se apresentará na urna eletrônica, atingiu 2% das intenções de voto. Antes, colecionava índices abaixo de 1%. Ele reconhece que está "começando do zero" e confia que a propaganda gratuita no rádio e na TV eleve os seus percentuais até as vésperas do primeiro turno, em 5 de outubro.

    "Tirando Beto Richa (PSDB), que está com 70%, e Gleisi Hoffmann (PT), que chegou a 16%, todos estão nas mesmas condições", afirma, referindo-se aos outros seis candidatos.

    Ainda assim, Moreira, que é professor universitário e médico oftalmologista, acredita no "imponderável" ou na expressão cunhada pelo dramaturgo Nelson Rodrigues, o "Sobrenatural de Almeida". Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

    UOL - Afinal, para que time o senhor torce?


    Carlos Moreira

    - Para o Coritiba. A questão é que neste momento eleitoral é preciso ser ecumênico. Afinal, não torço contra nenhum time do Paraná, mas não tenho nenhuma dificuldade, sou Coxa sim, apesar de ter um pai atleticano. E veja que ele foi um bom pai até nisso, porque, em 1966, o Atlético estava sendo rebaixado. E bem nesta época, com 6 anos, eu acordei para o futebol. E ele disse: "Torça para o Coritiba, o clube está fazendo um estádio maior, e é um time de vitória". Foi o que eu fiz.

    O CANDIDATO

    • NOME: Carlos Augusto Moreira Jr.
    • IDADE: 49
    • PARTIDO: PMDB
    • CARGO: Reitor da Universidade Federal do Paraná (2003-2008)

    UOL - O senhor é um professor universitário, foi reitor da Universidade Federal do Paraná e é, portanto, um administrador da educação. O que é preciso mudar no setor em Curitiba?


    Moreira

    - A decisão que proponho é fazer um investimento maciço em educação. O orçamento da Secretaria Municipal de Educação de 2008 em Curitiba é de R$ 501 milhões. A proposta é ir para R$ 960 milhões. E sem maquiagem. Porque há uma lei de 2003 em vigor na capital que permite incluir em gastos com educação a publicidade com meio ambiente, por exemplo. No fim das contas, o gasto com educação é de 17% do total. A prefeitura, provavelmente, atinge o limite constitucional de 25% através dessas manobras. Temos que ser criativos. Ou seja, fazer com que as empresas que tenham número maior de funcionários tenham creches. O HC (Hospital de Clínicas, ligado à UFPR) tem creche, o que foi uma das grandes conquistas. Por isso tem que dar isenção fiscal parcial ou um estímulo tributário para que os hospitais e outras empresas possam oferecer creches para as mães trabalhadoras.

    UOL - Mas há uma lei que já faz essa exigência.


    Moreira

    - Mas as empresas não cumprem isso. A fiscalização é deficiente. É mais um desses casos em que a lei existe, mas não é cumprida. E tem a questão das igrejas, evangélicas, católicas e outras tantas, que tem um papel muito forte na periferia. Há regiões de Curitiba em que há três igrejas numa mesma quadra e essas igrejas podem receber incentivo da prefeitura para terem uma creche. A prefeitura já tem o vale-creche que faz um pagamento mensal para determinadas creches e isso pode ser estendido para creches de igrejas.

    UOL - De onde virão os recursos?


    Moreira

    - De outros setores. Quanto Curitiba gasta com o ICI (Instituto Curitiba de Informática)? R$ 70 milhões por ano. É a máquina mais cara do Brasil. O número de computadores, dividido pelo custo, dá um absurdo. Curitiba tem um custo por máquina de R$ 2.550, só por usar software proprietário e todo o ICI está nas mãos de empresas privadas de informática. Para piorar, os quadros-fontes de todos os programas que rodam em Curitiba estão nas mãos de três empresas, que são do mesmo proprietário. Então se ele for embora, Curitiba fica às escuras em informática. A cidade poderia fazer o mesmo pela metade do custo e talvez com software livre. Aí você começa a economizar. Em quatro anos, o prefeito atual gastou R$ 128 milhões em propaganda, pelos nossos cálculos. É muito dinheiro, é mais que São Paulo e em números absolutos. Então dá para cortar custos.

    UOL - Falemos da eleição. O senhor acredita que o governador Requião tem a capacidade de transferência de votos que o senhor precisa para conseguir subir nas pesquisas?


    Moreira

    - O governador é o maior líder do PMDB e nosso maior eleitor. E quem me diz que o Requião não consegue mobilizar pessoas se engana. Que ele tem uma taxa de transferência de votos, tem. Mas é difícil dizer qual é. Alguns institutos avaliaram em 11%. Mas existe uma outra barreira que é minha: o desconhecimento absoluto. Até ser conhecido e até vincularem o Moreira, candidato do PMDB - que tem também o seu eleitorado -, e juntar isso com o Requião é um processo lento. E a televisão é a única capaz de fazer isso. Posso estar presente em mil reuniões todos os dias e ainda assim o impacto da televisão será maior.

    UOL - Qual é a estratégia para atrair o eleitor?


    Moreira

    - A estratégia é mostrar quem eu sou. Eu não sou um político profissional. Eu vim a convite de um governador de Estado que entendeu que eu tenho valores e qualidades muito boas. E eu sou uma pessoa que sempre fiz muito, eu sou um fazedor.

    UOL - O senhor recebeu críticas de setores do seu partido, o PMDB, por criticar os políticos profissionais e as famílias que comandam o Paraná. Isso não o desgastou?


    Moreira

    - Tudo o que eu disse continuo a afirmar. Não mudo uma vírgula. É só pegar os livros de cientistas políticos e conferir. Qual o Estado brasileiro que só teve dois governadores em duas décadas? O Paraná. E a democracia precisa de alternância de poder.

    UOL - As pesquisas de intenção de voto até agora mostram o senhor com números que variam de 0% a 2%. Como o senhor pretende alcançar números mais expressivos?


    Moreira - Primeiro, é preciso considerar que a margem de erro dos levantamentos divulgados até agora é muito grande. Que tenho baixo índice não há dúvida. Não estou negando isso. Mas do ponto de vista estatístico, em uma pesquisa de 4% de margem de erro, eu posso estar com 2% ou estar com 6%. Abaixo de 0% não existe, porque ao menos eu irei votar em mim. O que quero dizer é que há oito candidatos disputando a prefeitura de Curitiba e, exceto Beto Richa (PSDB), que ultrapassa 70%, e Gleisi Hoffmann (PT), que está na casa dos 15% de intenção de voto, todos os outros estão no mesmo barco.

    UOL - O senhor reconhece então que está saindo do zero?


    Moreira

    - Exatamente. Do ponto de vista estatístico, as pesquisas divulgadas até agora só valem para o Beto e para a Gleisi, o resto está no limbo.

    UOL - Mesmo com a propaganda eleitoral na TV e no rádio, os números são desanimadores. O senhor acredita que ainda seja possível reagir?


    Moreira

    - Claro, do contrário não estaria disputando o cargo. Eu acredito no imponderável. Sei das dificuldades. Não sou ingênuo ou desvairado, mas considero que há chance da oposição levar a eleição para o segundo turno.

    UOL - Como fazer isso?


    Moreira

    - Atacando os problemas de Curitiba. Ou será que não há problemas? Outra coisa: que unanimidade é essa do prefeito? Aonde eu vou as pessoas reclamam do trânsito, das filas nos postos de saúde, das condições das ruas, da precariedade das escolas, das condições de habitação. Ou seja, há problemas e eles precisam ser abordados.

    UOL - É verdade que o senhor se ofereceu para disputar a Prefeitura de Curitiba?


    Moreira

    - Foi isso mesmo. Eu costumava cavalgar com o governador Requião todas as manhãs e perguntei a ele se havia um nome do PMDB para disputar a Prefeitura de Curitiba. Ele se mostrou irritado e disse que o quadro partidário era horrível. Eu então sugeri que, se ele preparasse uma lista dos nomes que poderiam concorrer à prefeitura, que colocasse o meu nome no topo. Dias depois, fui chamado ao Palácio Iguaçu e recebi o convite formal do governador para disputar a prefeitura. Imediatamente aceitei.

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