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12/10/2008 - 11h39

Candidatos travam guerra do lixo pela Prefeitura do Rio

Thyago Mathias
Especial para o UOL
Do Rio de Janeiro
A implantação de um centro de tratamento de resíduos no bairro de Paciência, zona oeste do Rio, entrou para o centro da disputa no segundo turno das eleições cariocas.

Neste sábado (11), manifestantes da favela Nova Ucrânia, ligados ao PMDB, foram surpreendidos por fiscais do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) quando faziam campanha negativa contra Fernando Gabeira (PV): "Gabeira e lixão não", levavam escrito nas camisetas". Foi também o destino do lixo que motivou a polêmica entre Gabeira e a vereadora Lucinha (PSDB), na quarta-feira (8).

Tanto o candidato do PV quanto Eduardo Paes (PMDB) posicionaram-se contra a implantação do aterro sanitário, mas eles divergem quanto à solução para as cerca de 10 mil toneladas de lixo produzidas pela cidade diariamente.

"Precisamos discutir Paciência com paciência", comentou Gabeira, que defende uma discussão aberta com moradores e catadores e pretende firmar parceria com a Prefeitura de Nova Iguaçu para construir uma usina de reciclagem na Baixada Fluminense.

"É preciso achar solução, mas vem se forçando uma situação ali que agride e ofende a população", contrapôs o peemedebista, que aponta para o escoamento do lixo, por trilhos, até o município de Seropédica.

O projeto inicial para o lixão de Paciência previa a transferência integral para lá das oito mil toneladas de detritos que, atualmente, seguem para o aterro de Gramacho, em Duque de Caxias, todos os dias. Em outubro de 2007, um estudo elaborado por técnicos da Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (Feema) havia dado apenas mais 170 dias de vida útil para Gramacho. Mais de 50% do 1,5 milhão de quilômetros quadrados ocupado pelo lixão estão interditados.

"Há mais de dois anos que eu acompanho o acúmulo de detritos em Gramacho e já naquela época o risco de transbordamento para a Baía de Guanabara é grande. Ele foi erguido num terreno instável, de acordo com métodos dos anos 1970 que não prevêem o tratamento dos resíduos. As Prefeituras da região negam, mas o vazamento de chorume para o rio Sarapuí e a Baía é evidente", avaliou o engenheiro ambiental Victor Leal Costa, da PUC-Rio.

Outras duas mil toneladas são despejadas no aterro de Gericinó, em Bangu. Segundo o especialista, o tamanho reduzido de Gericinó não permite que o aterro acomode mais lixo do que o recebido hoje, como Gabeira disse, no sábado, que pretende verificar. Ali, ao contrário de Paciência, há um movimento de moradores pela manutenção e ampliação do lixão.

Cooperativas de catadores estabeleceram uma economia local em torno do lixo, na região. "Se acabam com o lixão, acabam com nossos empregos", protestou a catadora Célia Santana.

A alternativa proposta pelos dois candidatos é a de implantação do projeto de ecopolos, que aproveitam os gases liberados pela decomposição da matéria orgânica para produzir energia elétrica. O problema é definir as áreas para execução das obras, preferencialmente dentro do perímetro municipal. As duas últimas administrações de Duque de Caxias, da qual fez parte o prefeito eleito Zito (PSDB), têm aumentado as exigências para permitir que a Companhia Municipal de Limpeza Urbana da capital (Comlurb) continue a despejar lixo em Gramacho.

Paciência não quer lixão

Os cerca de 70 mil moradores que cercam os terrenos previstos para o aterro de Paciência, por sua vez, não aceitam negociar. A vereadora Lucinha e o deputado estadual Luiz Paulo (PSDB), que concorre a vice-prefeito, são porta-vozes das favelas da região, dentro da coligação de Gabeira.

"Há um movimento muito forte dos moradores de Paciência contra o aterro sanitário. Embora os projetos licitados pela Comlurb apresentam rigoroso controle técnico para evitar contaminações, é inegável que a presença de um lixão tende a atrair animais como urubus e ratos, além de desvalorizar os imóveis na região", apontou Leal Costa.

De fato, há dois projetos licenciados para construção de aterros no bairro da zona oeste. Desde 2006, porém, o decreto da prefeitura que reclassificou a região de zona rural para zona industrial, a fim de permitir a implantação do lixão, é questionado por mais de 50 ações que tramitam na Justiça estadual. Pelo contrato firmado com a Comlurb, o Grupo Júlio Simões, que venceu as licitações, deve receber R$ 1 bilhão ao longo de 15 anos para dar um destino ao lixo carioca.

Com a liberação da Feema, tanto o Grupo Júlio Simões quanto a construtora Marquise, que tem projeto para construção de um aterro privado também em Paciência, podem iniciar a preparação do terreno até antes do segundo turno, no dia 26 de outubro.

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