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06/10/2008 - 03h13

Presidente do PV acredita em um movimento suprapartidário para eleger Gabeira

Thyago Mathias
Especial para o UOL
Do Rio de Janeiro
Com a definição de um segundo turno entre Eduardo Paes (PMDB) e Fernando Gabeira (PV) na corrida eleitoral carioca, não se espera perda de tempo na definição de estratégias e formação de alianças. Em entrevista exclusiva ao UOL Eleições, logo após os resultados de domingo (5), porém, o presidente estadual do Partido Verde e quarto candidato mais votado ao cargo de vereador no Rio, Alfredo Sirkis, disse que o partido precisa de tempo para fazer um balanço da apuração e adiantou a estratégia para a formação de alianças em torno de Gabeira, no segundo turno.

UOL - Foi alguma surpresa a virada de Gabeira, ao longo da última semana de campanha?

Alfredo Sirkis - A virada do Gabeira, em si, não foi surpresa, porque nós vínhamos acompanhando, tínhamos acesso a pesquisas que já davam Gabeira na frente do Crivella por cinco pontos, já no final da semana passada. Então, foi surpresa só para aqueles que levam a sério o Ibope. De fato, a proximidade que ele teve do Eduardo Paes é significativa, porque aponta para um segundo turno altamente competitivo com chances reais de vitória.
  • Divulgação

    Sirkis, presidente do PV, crê em um 2º turno altamente competitivo


    Gabeira teria sido favorecido, de alguma forma, por um "voto útil anti-Crivella", como justificou a candidata Jandira Feghali (PCdoB)?

    Provavelmente não por um "voto útil anti-Crivella". Na verdade, ele recuperou um voto que foi para o Eduardo no momento em que o Crivella liderava as pesquisas e as pessoas tinham muito medo de um segundo turno entre Crivella e Jandira. O Eduardo beneficiou-se desse voto e, ao longo do processo, o Gabeira acabou recuperando esse voto.

    Quais são as estratégias que o PV pretende adotar para levar Fernando Gabeira à vitória, no segundo turno?

    Basicamente, nós achamos que vai haver um movimento cívico da cidade, suprapartidário, contrapondo-se aos esquemas da política tradicional. Nossa busca de alianças vai se dar menos em cima dos partidos, enquanto instrumentos burocráticos, e mais em cima de um diálogo direto com seus eleitores, através de algumas lideranças. As alianças de segundo turno têm características diferentes das alianças de primeiro turno, que são mais alianças de partidos. No segundo turno, é preciso criar movimentos de características mais amplas, já que são eleições plebiscitárias. Então, se junta em torno de um denominador comum uma série de segmentos sociais, às vezes, até díspares. E qual é o denominador comum nesse caso? A salvação do Rio de Janeiro, a vontade de ter uma gestão profissionalizada, técnica, sem o loteamento da máquina pública entre partidos políticos. Também é preciso manter a cidade afastada das polarizações da política nacional. Uma coisa que nós queremos evitar é a transformação da eleição do Rio de Janeiro em um microcosmo de questões nacionais no âmbito político. O Rio de Janeiro não vai ser palco de um enfrentamento entre o PT e o PSDB. A nossa aliança é com o PSDB carioca, sobre questões que interessam à população do Rio de Janeiro, e não implica numa aliança nacional.

    É possível contar, no Rio, com alianças dos partidos de esquerda, mesmo após as críticas recebidas, de que a coligação PV-PSDB-PPS havia dado uma guinada mais à direita?

    Direita? E o Eduardo Paes, o que é? Eu acredito que nós vamos ter uma facilidade maior de interlocução com o (Alessandro) Molon, em função de laços, afetos e estima que já existem entre nós e ele. No caso da Jandira, a questão é mais complicada, mas o fundamental são os eleitores dela, que teve um resultado importante, de quase 10%. Mas esses 10% não são todos de eleitores do PCdoB, porque o partido não tem isso tudo. São, na verdade, pessoas de esquerda histórica da sociedade carioca que a entenderam, naquele momento, como a candidata que melhor representava esses valores. Nós queremos dialogar com esse segmento para mostrar que, de fato, a candidatura do Gabeira encarna os valores de esquerda, adaptados à contemporaneidade. A esquerda também tem que entender que a eleição local tem uma dinâmica própria e não é uma miniatura da política nacional. Historicamente, a esquerda tem essa tendência de achar que tudo é reflexo de alguma coisa maior. Mas os desafios locais são de uma riqueza extraordinária. Muitas vezes as alianças que você faz para salvar uma cidade são diferentes das alianças que você faz para implementar uma política no âmbito nacional.

    Esses candidatos que saíram no primeiro turno têm um poder de transferência direta de votos?

    Acho que não. Ninguém tem e nós também não teríamos. Ninguém é dono de seus eleitores. Nossos eleitores votam em nós num momento dado. É uma ilusão achar que essas lideranças têm o poder de, disciplinadamente, transferir esses votos para um ou para outro, de acordo com a sua escolha. Evidentemente, um eventual apoio desses candidatos é um elemento facilitador. É claro que é muito melhor ter o apoio da Jandira do que não ter. Agora, nossa interlocução vai ser no sentido de deixar os partidos à vontade para até, eventualmente, nem se posicionarem explicitamente, mas deixarem uma margem de liberdade para seus filiados. Nós entendemos a circunstância de que certos partidos de esquerda tem vínculos com o Governo do Estado, mas também aí é preciso entender que a política municipal não é uma miniatura da política estadual, sobretudo num Estado tão complicado quanto o Rio de Janeiro, onde a capital tem uma realidade que é muito peculiar dentro do Estado. São dois estados diferentes que formam um.

    O apoio do Democratas e do prefeito Cesar Maia levaria a uma aliança natural nesse segundo turno?

    Uma coisa tem que ficar clara: o ciclo do prefeito Cesar Maia tem que ser historicamente encerrado. Ele foi um bom prefeito em certos momentos e um mau prefeito em outros, eu acho que a história o julgará, mas eu acho que é preciso registrar que o ciclo do Cesar Maia acabou. Nesse sentido, em relação ao Democratas, a interlocução nossa é com lideranças que, neste momento, foram consagrada pelo sufrágio do voto. A Rosa Fernandes, por exemplo, é uma interlocutora extremamente importante, uma vereadora que novamente está entre as mais votadas, uma liderança que tem luz própria e que não é caudatária do Cesar Maia. Nós vamos procurar vereadores eleitos pelo DEM, sobretudo a Rosa Fernandes, e estabelecer essa interlocução.

    Acho que o prefeito Cesar Maia precisa de uma pausa histórica para reflexão e precisa fazer um profundo exame de consciência em relação ao que fez com a cidade e com ele mesmo. Neste momento, o resultado do primeiro turno aconselha um momento de certa hibernação política. Como ele apresenta uma carreira promissora como blogueiro, a mim me parece que ele deveria passar um tempinho dedicado a essas outras atividades e deixar que a política flua com certas lideranças emergentes. Para o Democratas, isso facilitaria muito o processo.

    E como o Gabeira pode tentar conquistar uma parcela do eleitorado do senador Marcelo Crivella, que obteve mais de 600 mil votos?

    Primeiro, ele vai mostrar que não é o "bicho-papão". A nossa questão com o Crivella é basicamente a ingerência da religião na política, que ele nega que promova, mas, sem dúvida nenhuma, faz. Há também o fato de uma instituição religiosa tornar-se um ator político tão direto, como essa ação observada nos últimos anos a partir do Edir Macedo e da (igreja) Universal. A nossa questão é a defesa do Estado laico. Isso não impede que tenhamos o maior respeito pela fé evangélica e pentecostal. Nós não somos contra eles por aquilo que são do ponto de vista religioso. Nós apenas não concordamos com certas pressões que visam reverter conquistas do século XIX, como a separação entre Estado e Igreja. Então, se nós conseguirmos uma boa parte dos eleitores do senador Crivella, com o entendimento de que nós respeitamos sua fé religiosa, seus valores, e queremos uma administração do bem comum que vale para todos os cidadãos e, inclusive ,vai favorecê-los, eu acho que uma parte desses eleitores poderá superar certos preconceitos arraigados. Eu tenho conversado muito com outras correntes evangélicas, com pastores, e nós temos encontrado um terreno comum. Sempre que nós conseguirmos impedir a mistura de religião com política e a tentativa de uma instituição religiosa acumular poder político, o resto torna-se mais fácil.

    Eu não diria que tenho a esperança de atrair uma multidão de seguidores do Crivella, mas acho que podemos atrair certos segmentos, que pode engrossar o bloco social que se cria para dar a vitória a Fernando Gabeira no segundo turno.

    Já existe alguma reunião partidária confirmada, a fim de decidir os rumos da campanha no segundo turno?

    Ainda não, porque o Gabeira precisa descansar e nós queremos um tempo de reflexão, para deixar a poeira assentar, já que é uma realidade muito nova, embora não tenha sido absolutamente uma surpresa par nós. Este é um momento que exige parar e respirar fundo para pensar bem sobre os próximos passos. Não é preciso se precipitar e também os candidatos que não foram além do primeiro turno precisam de tempo para fazer seu balanço. É claro que o tempo urge, mas não precisamos ser apressados.

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