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04/10/2008 - 13h41

No último dia de campanha, candidatos de esquerda miram a visibilidade da zona sul carioca

Thyago Mathias
Especial para o UOL
Do Rio de Janeiro

Com apenas 12,74% do eleitorado carioca, a zona sul não tem o apelo quantitativo da zona oeste e dos subúrbios, mas garante visibilidade mesmo a atos pequenos de campanha - e faz diferença para os candidatos que contam com o chamado "voto de opinião". Não é por acaso que a região foi escolhida por Jandira Feghali (PCdoB), Alessandro Molon (PT) e Chico Alencar (PSOL) para o último dia de campanha. Neste sábado (4), eles participam de carreata pela orla e pelo Flamengo e de caminhada por Laranjeiras. Fernando Gabeira (PV) marcou presença no calçadão de Copacabana já na sexta (3).


  • Ricardo Moraes/Folha Imagem

    Zona Sul (na foto, a praia de Copacabana) concentra o voto de opinão

  • Vinícius Queiroz Galvão/Folha Imagem

    Em contrapartida, na região, estão as favelas da Rocinha (foto) e Dona Marta, que representam realidade à parte


    "O candidato tem que ter discurso para a classe-média escolarizada, que é esse segmento que nós observamos aqui da zona sul a Barra e Recreio. Esse segmento é aquele que pode mudar de opinião pelo convencimento. Todo o debate que sai nos noticiários, sobre, por exemplo, o 'voto útil' da esquerda ou a nacionalização ou não das eleições municipais, impacta essa parte da cidade", explica o professor Cesar Romero Jacob, da PUC-Rio, autor de análises sobre indicadores da geografia eleitoral carioca.


    Com a sobreposição dos mapas elaborados pelo pesquisador a partir de dados do IBGE e do TSE, Tribunal Regional Eleitoral, Cesar Romero observa a presença do "voto de opinião" na região. Nas eleições municipais de 2004, o maior número de votos para os candidatos da esquerda - Jandira Feghali (PCdoB), Jorge Bittar (PT) e Nilo Batista (PDT) - saiu da região, segundo o professor. Por outro lado, na disputa presidencial de 2006, a zona sul demonstrou-se a mais anti-lulista do Rio - e Geraldo Alckmin (PSDB) obteve mais da metade dos votos daqueles bairros.


    Queira nacionalizar, ou não, a atual corrida pelo executivo, Gabeira, que concorre numa coligação com o PSDB, têm capitalizado o eleitorado da região. Segundo pesquisa do IBPS, divulgada na sexta (3), 27% das intenções de voto na zona sul vão para o candidato do PV, contra 24% de Eduardo Paes (PMDB) e 11% de Marcelo Crivella (PRB).


    "O rádio e a TV ajudaram a levar a minha imagem a todos os cantos da cidade. Isso de ser chamado de ser candidato da zona sul não me preocupa mais", afirmou Gabeira, que é, não por coincidência, apontado como preferido dos eleitores com educação superior.


    A região, de fato, apresenta os maiores níveis de renda e escolaridade do município. Das 31 regiões administrativas em que a cidade se encontra dividida, as três primeiras colocadas, quanto ao índice de desenvolvimento humano (IDH), ficam na zona sul: Copacabana (0,88), Lagoa (0,86) e Botafogo (0,86). A presença ostensiva de favelas como Rocinha e Dona Marta, no entanto, contrasta com o desenvolvimento dos bairros. Em 24º lugar no ranking do IDH municipal, a Rocinha (0,72) representa uma realidade à parte, em relação, não apenas à renda e à escolaridade, mas também à formação religiosa.


    Com pouco mais de 56 mil habitantes, de acordo com dados oficiais da Prefeitura fundamentados no Censo de 2000, a Rocinha tem a maior proporção de evangélicos dentro de uma zona sul predominantemente católica. Foi o único ponto da região onde, em 2004, Marcelo Crivella (PRB) obteve votação superior a 20%.


    De acordo com as pesquisas de intenção de voto realizadas ao longo desse pleito, a rejeição de Crivella permanece alta entre os moradores da zona sul.


    "Ainda que ele tenha inaugurado um comitê em Copacabana no início de setembro, a falta de perspectivas eleitorais ali fez com que ele adotasse um discurso de oposição entre uma zona sul 'das elites' e uma zona oeste 'do povo sofrido'", avalia a socióloga Samara Mancebo, da UERJ.


    "Mas é na zona sul e na Barra, nas áreas de renda mais alta da cidade, que moram todos os candidatos, sem exceção", lembrou o professor Cesar Romero.


    Ainda que ganhar "em casa" não seja primordial para garantir a vaga no segundo turno, o fluxo de pessoas que moram em outras regiões da cidade, mas trabalham ou passam pela zona sul, pode garantir votos além dos 583 mil registrados ali. Para contar com esses eleitores, não basta o discurso ideológico ou a defesa das Áreas de Proteção do Ambiente Cultural contra a especulação imobiliária. Como território turístico da cidade, a região apresenta sensibilidade à violência e aos negócios que repercutem por todo o Rio.


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