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01/10/2008 - 11h06

Trabalho de plaqueiro de eleição rende R$ 200 semanais e inclui carregar placas de até 5 kg

Thyago Mathias
Especial para o UOL
Do Rio de Janeiro

Ao proibir o uso de outdoors e a fixação de cartazes em postes e espaços públicos, desde as últimas eleições, a legislação que regulamenta as campanhas políticas impulsionou o surgimento de uma nova categoria de empregados temporários informais. Os plaqueiros, como ficaram conhecidos os vigias da propaganda eleitoral móvel, trabalham escondidos atrás ou embaixo de placas, com até três metros de altura, que ocupam o calçadão, as praças e esquinas movimentadas do Rio.


Estima-se em mais de três mil o número de pessoas que prestam o serviço em jornadas de 11 horas diárias, de segunda a segunda, como alternativa ao desemprego. Nesse universo é possível encontrar sujeitos alheios à política em que se inserem ativamente, sem se dar conta, e outros como Rosinete de Jesus Morais, que não revela a idade, aparentemente acima dos 40 anos.


  • Thyago Mathias

    Plaqueiros ganham cerca de R$ 200 por semana e trabalham mais de 10 horas/dia


    "Minha visão política é de uma pessoa esperançosa. Eu verdadeiramente sou otimista. Cada eleição, para mim, é sempre uma esperança", contou Rosinete, no calçadão em frente a um hotel de luxo em Copacabana, sob a placa de uma vereadora candidata à reeleição, em quem ela diz que vai votar: "Eu voto, porque acredito nela. E pode ter certeza de que se eu não acreditasse, não estaria trabalhando para vereadora".


    Moradora do Méier, subúrbio da Central, a plaqueira revela que folga apenas um domingo por mês e que chega todos os dias às 7 horas e vai embora às 20 horas, quando fiscais da candidata passam para recolher a propaganda. Ela leva uma marmita preparada em casa e recebe lanche uma vez ao dia, pelo menos, além do salário semanal de R$ 252, "pagos sem atraso", diz. Quando chove, Rosinete, que tem 1,46 m de altura e pesa 35,5 kg, resiste o quanto pode, antes de recolher e carregar os cerca de 5 quilos da placa para um abrigo. Ela, porém, não reclama e diz que aproveita o tempo para ler.


    "Eu sou muito monarquista. Acredito e amo a monarquia. No plebiscito eu descobri que era monarquista e não sabia. Se o Brasil fosse uma monarquia, eu acredito que o perfil do país seria outro e seria bem melhor", revelou, ao ser flagrada com um livro sobre a Princesa Isabel.


    Rosinete parece ser uma exceção, quando comparada a outros nove plaqueiros encontrados pelo UOL Eleições, em diferentes pontos da zona sul carioca.


    Morador de uma favela em Copacabana, Giovanne Mendonça ganha R$ 400 quinzenalmente para tomar conta da propaganda de outra vereadora, mas reclama de atrasos no pagamento e de desorganização do comitê de campanha que o fiscaliza.


    • Thyago Mathias

      Rosinete, plaqueira, lê sobre monarquia, enquanto toma
      conta de placa de candidata


      "Quando chove a gente pega vento, pega chuva, é um massacre. Só pra quem 'tá' precisando mesmo. E a gente, às vezes, nem tem certeza se vão pagar mesmo, porque tem uns que não pagam, mas a gente tem que confiar, porque a gente 'tá' precisando", desabafou o rapaz, com 20 anos, sob o apoio de plaqueiros que dividiam o ponto com ele.


      Ao contrário de Rosinete, Mendonça não demonstra afinidade com a candidata para quem trabalha. "Eu tive a oportunidade de conhecer a candidata, mas não conheço as propostas dela. Sinceramente, ela só pediu voto e eu não pretendo dar meu voto não", comentou, para, em seguida, ironizar: "Ela 'tá' cheia de plaqueiros com ela pelas ruas, mas 'tá' escrito lá na placa dela: 'pela ordem urbana'. Vamos ver, né?", comenta.


      Mendonça diz que o horário de trabalho, das 8h às 19 horas, lhe permite estudar à noite e lamentou, junto com colegas, pelo fim do serviço. De acordo com a legislação eleitoral, a propaganda deve ser concluída na sexta-feira (3).



      Trabalho pode comprometer saúde



      Apesar de reforçar o orçamento, a atividade representa um risco para a saúde dos plaqueiros, que passam todo o tempo sentados em bancos improvisados ou em pé para apoiar as placas. A pedido da reportagem, o chefe do Serviço de Ortopedia da Casa de Saúde São José, Dr. Paulo Renato Menezes Moreira, listou conseqüências que essas condições de trabalho podem trazer para a saúde, no curto prazo.


      "Esse serviço traz conseqüências maléficas para a circulação dos membros inferiores, com inchação nas pernas, com mais prejuízo para as mulheres; para a coluna lombar e cervical, já que essas pessoas trabalham em geral em posição ortostática ou sentadas sem apoio para as costas; além de dor nos joelhos e articulações da bacia e riscos aos efeitos provocados pelo calor, como problemas de pele, de insolação e desidratação, já que as pessoas ficam expostas ao sol por longos períodos", enumerou o Dr. Menezes Moreira.


      Com 38 anos, Eduardo Rocha, que trabalha para um candidato a vereador, menciona situações de desconforto pela falta de banheiro e por ter que movimentar a propaganda, ocasionalmente: "Minha placa deve pesar uns 20kg, porque ela é grande, é a maior aqui do calçadão", revelou.


      Na avaliação do Dr. Menezes Moreira, "essa nova profissão em vésperas de eleições, não é muito salutar, já que as pessoas que fazem esse serviço trabalham em condições subumanas, expostas a intempéries e a todos os tipos de riscos".



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