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17/09/2008 - 13h37

Mulheres têm chances de vitória em prefeituras de cinco capitais

Rosanne D'Agostino
Em São Paulo
Agora é que são elas. Este ano, 29 candidatas disputam prefeituras em 26 capitais brasileiras. Delas, 12 conquistaram posições de destaque nas últimas pesquisas de intenção de voto e, em cinco capitais, há grandes chances de que o cargo de prefeito em 2009 seja ocupado por uma mulher.






*Clique na cidade para ver a pesquisa

A capital com o maior número de candidatas concorrendo à prefeitura é Porto Alegre, que também é a única com mais mulheres do que homens na disputa: quatro contra três. No último pleito, havia apenas uma candidata, Vera Guasso (PSTU), contra oito homens.

No atual, Manuela D'Ávila (PC do B) e Maria do Rosário (PT) dividem o segundo lugar nas pesquisas mais recentes, seguidas de Luciana Genro (PSOL), candidata mais bem colocada de seu partido no país -ela alcançou 8% no Ibope contra 1% em média dos demais candidatos da sigla no restante do país. Vera Guasso também disputa o pleito de 2008.
  • Nestas eleições, mulheres estão bem colocadas nas pesquisas em grandes capitais brasileiras



A segunda capital do ranking é São Paulo. São três candidatas disputando com oito homens: Marta Suplicy (PT), Soninha Francine (PPS) e Anaí Caproni (PCO). A capital paulista liderava o ranking de 2004, com quatro aspirantes à prefeita: Marta, que perdeu a reeleição para o atual governador José Serra (PSDB), Havanir Nimtz (Prona), Luiza Erundina (PSB) e Anaí. Já o número de homens era de 10.

Natal, por sua vez, certamente deve ter uma mulher no comando a partir de 2009. Lá está a candidata mais bem colocada do país, com 54% das intenções de voto (Ibope, 24 e 28 julho), a deputada estadual Micarla de Souza (PV), que disputa o cargo com outra mulher, Fátima (PT), com 17%.

Outra candidata com grandes chances de levar a disputa é Valéria Pires Franco (DEM), empatada tecnicamente em primeiro lugar com o atual prefeito de Belém, Duciomar Costa (PTB). No segundo turno, ela vence Duciomar, conforme a mais recente pesquisa Datafolha (2 e 4 de setembro).

Entre os partidos escolhidos por elas para disputar, o PT e PC do B dominam o cenário feminino nas capitais. Marta (SP), Rosário (Porto Alegre), Gleisi Hoffman (Curitiba), Dalva (Macapá) e Fátima (Natal) são candidatas pelo PT, enquanto pelo partido comunista concorrem Jô Moraes (BH), Manuela (Porto Alegre) e Jandira Feghali (Rio de Janeiro).

Mulheres x preconceito



Em 2004, 28 mulheres concorreram nas capitais -14,7% do total de candidatos (191 homens). Delas, duas foram eleitas em capitais -Luizianne Lins (PT), em Fortaleza, e Teresa (PPS), em Boa Vista (ela renunciou em 2006 para disputar o Senado). Agora, elas são 16,8% dos 174 aspirantes ao cargo. Ainda assim, são minoria se comparadas aos homens.

Por que há poucas
mulheres nas eleições?


Em 2004, não houve candidatas na disputa pela prefeitura em seis capitais: Rio Branco, Cuiabá, Porto Velho, Campo Grande, Maceió e Florianópolis. Nestas eleições, são nove: Salvador, Vitória, Boa Vista, São Luís, Goiânia, Manaus, Porto Velho, Rio Branco, Cuiabá.

Atual líder das pesquisas na capital paulista com mais de 30% das intenções de voto, e feminista histórica, Marta Suplicy considera que muito foi conquistado pelas mulheres na política.
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    Marta Suplicy (PT) lidera em SP e tenta prefeitura pela segunda vez:

    "Acredito que a mulher, em pleno século 21, ainda tem muitos desafios e preconceitos a enfrentar".



    "Apresentei e defendi a lei que obrigou, pela primeira vez na história do país, a legislação eleitoral a estabelecer cota mínima de participação de mulheres candidatas em eleições proporcionais. Aliás, entrei na política tendo essa bandeira, entre outras, como propósito", afirma.

    "Mas também é fato que ainda estamos bem aquém do que poderíamos. Nem sempre vimos a lei ser cumprida, mas é inegável que despertamos da inércia secular da baixa participação e melhoramos índices de mulheres eleitas. Acredito que a mulher, em pleno século 21, ainda tem muitos desafios e preconceitos a enfrentar. Eu mesma vivi e às vezes me vejo diante disso: desafios e preconceitos. Nossa determinação tem de ser a de enfrentá-los e vencê-los", completa Marta.

    A candidata em Porto Alegre Maria do Rosário (PT) também avalia que discriminação em relação às mulheres na política existe e, muitas vezes, ocorre de forma indireta, subliminar. Ela já foi vereadora, deputada estadual (1999-2003) e deputada federal, reeleita em 2006.

    "Na Câmara Federal, por exemplo, não há nenhuma representante feminina na Mesa Diretora e mesmo nas comissões da Casa a presença das parlamentares é reduzida", diz.
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      Maria do Rosário (PT) divide vice-liderança com Manuela (PC do B) em Porto Alegre:

      "A participação ajuda a diminuir a discriminação. É preciso cada vez mais fortalecer a presença feminina nos espaços de poder".



      No entanto, completa Rosário, a participação das mulheres na política, nos sindicatos e em movimentos sociais tem crescido e isso ajuda a diminuir a discriminação. "Por isso, é preciso cada vez mais fortalecer a presença feminina nos espaços de poder. Por outro lado, acredito que a população é bastante consciente para, ao definir o voto, não levar em conta apenas a questão de gênero, mas também o projeto político. Pois, assim como os homens não são iguais, as mulheres também não são", afirma.

      Terra de homens e coronéis



      Em Fortaleza, uma mulher já eleita tenta vencer novamente em uma região do país tradicionalmente de maioria masculina. Luizianne Lins (PT) conseguiu ser prefeita em 2004 após disputar o cargo com 10 homens. Agora, ela e Patrícia Saboya (PDT) contabilizam grande parte do eleitorado da cidade.

      Luizianne lidera isolada a disputa na capital cearense, com 44% das intenções de voto. Em segundo lugar, aparecem Moroni Torgan (DEM), com 22%, e Patrícia, com 19%, tecnicamente empatados. No segundo turno, as duas candidatas estão na frente.
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        Luizianne Lins (PT) tem chance de ser reeleita prefeita de Fortaleza:

        "Em 2004, fui alvo de críticas relacionadas à capacidade das mulheres e até de ataques às nossas propostas de combate à homofobia".


        "Estou na vida política, exercendo cargos eletivos, há 12 anos. Nesse período, claro que os preconceitos me atacaram vez por outra. Rompemos alguns e outros apenas saltamos. A mudança é perceptível, sim, inclusive no comportamento do eleitorado, que não se deixa mais levar pelo estereótipo de que só homem tem pulso firme e autonomia suficientes para dar rumo às políticas públicas de uma cidade, Estado ou país", diz Luizianne.

        Segundo a candidata à reeleição, a campanha de 2004 sofreu como alvo de críticas relacionadas à capacidade das mulheres e até ataques às propostas de combate à homofobia. "Hoje, todos os candidatos adotam discursos mais humanizados ou, pelo menos, de mais tolerância. Isso engrandece o debate eleitoral."

        Ainda conforme Luizianne, "outro fator importante é a disposição das mulheres, cada vez mais se candidatando a cargos nunca antes comandados por elas -na América Latina, veja-se a presidência do Chile, e, no Brasil, a eleição de três governadoras".

        "Esse avanço pode e deve representar mudanças e melhorias para todos e todas, com o uso da 'racionalidade mais emotiva' das mulheres, com a sensibilidade mais aguçada, atentando para detalhes antes desprezados. Essas mudanças não beneficiam só nós mulheres ou a causa feminista, mas as crianças, os jovens, os idosos, as mães, os direitos humanos; representa a opção do povo por um outro olhar", finaliza.
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          Em Natal, Micarla (PV) lidera disputa com 50% das intenções de voto:

          "Não abro mão do fato de ser esposa, mãe, filha, amiga, e uma boa profissional. E todo esse conjunto acaba fazendo a diferença".


          É também no Nordeste que Micarla de Sousa (PV) tenta combater um preconceito já não tão grande assim. Ela concorre em Natal e, pelo andar das pesquisas, deverá ser eleita como prefeita de um município que já teve, por duas vezes, um mandato feminino, o de Wilma de Faria (PSB), atual e primeira governadora do Rio Grande do Norte.

          "Claro que são inegáveis algumas mudanças nos velhos paradigmas, mas ainda há limitações com relação à compreensão de que competência e caráter independem da questão de sexo. Na verdade, a questão de gênero ainda é muito forte no nosso país", avalia a candidata, que conta com 50% das intenções de voto.

          A jornalista foi eleita vice-prefeita de Natal, em 2004, ao lado de Carlos Eduardo Alves e, em 2007, assumiu cadeira na Assembléia Legislativa, como a deputada mais votada do município.

          "Por outro lado, acredito que venha se consolidando um consenso de que as mulheres têm uma sensibilidade e capacidade de se envolver com os problemas do outro de uma maneira mais compromissada. Acho que isso influencia no bônus de ser mulher e ser política. Meu eleitorado me conhece e sabe que não abro mão do fato de ser esposa, mãe, filha, amiga, e uma boa profissional. E todo esse conjunto acaba fazendo a diferença", diz.

          A disputa feminina em Natal também conta com a deputada federal Fátima Bezerra (PT), que se apresenta como candidata do presidente Lula, da governadora Wilma de Faria, prefeita de Natal por três vezes, e ainda, do presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), e do atual prefeito da cidade, Carlos Eduardo (PSB). Ela contabiliza 20% das intenções de voto e, além da prefeitura, disputa com Micarla a imagem do presidente Lula em sua campanha.
          • Reprodução

            Fátima (PT) disputa a Prefeitura de Natal como candidata da situação:

            "Para vencer a sub-representação das mulheres é preciso vencer a resistência dos partidos em indicar mulheres para compor as listas eleitorais".



            "Os preconceitos são comuns à trajetória política das mulheres. Há um déficit de gênero na democracia brasileira, que se expressa na baixa representação política das mulheres. Pesquisas indicam que houve mudança nas relações de gênero na cabeça da população, mas falta mudá-las nos aparelhos partidários", diz Fátima.

            A candidata defende uma reforma política com propostas que favoreçam a participação feminina, como financiamento público das campanhas eleitorais, ampliação das ações afirmativas de promoção da participação política, adoção de listas fechadas com alternância de gêneros, e, especialmente, participação das mulheres nas instâncias de direção dos partidos políticos.

            "Para vencer a sub-representação das mulheres é preciso vencer a resistência dos partidos em indicar mulheres para compor as listas eleitorais", completa.

            Aspirante à Prefeitura de Belém, Valéria Pires Franco (DEM) também acredita que as mulheres estão alcançando seu espaço na política. "Somos a maioria da população brasileira e nada mais justo que estejamos representadas não somente nos poderes Executivo e Legislativo, mas também em outras instâncias de decisão, como nas associações de bairros e de classes, nos sindicatos e em todos os processos democráticos em que as escolhas sejam por meio do voto", defende.
            • Divulgação

              Valéria Pires Franco (DEM) divide liderança à Prefeitura de Belém:

              "Talvez essa nossa capacidade de sermos múltiplas nos credencie a agir com equilíbrio, determinação e responsabilidade na vida política".



              A ex-vice governadora do Pará, que alia a carreira política aos cinco filhos, está empatada na liderança das últimas pesquisas com o candidato à reeleição, Duciomar Costa (PTB).

              "Sabemos que a participação feminina na vida pública não é muito fácil, porque, como mulher, temos que cumprir, muitas vezes, tripla ou quádrupla jornada para dar conta das tarefas de casa, cuidar da família e, ainda, cumprir os nossos compromissos profissionais. Talvez essa nossa capacidade de sermos múltiplas nos credencie a agir com equilíbrio, determinação e responsabilidade na vida política, quando escolhemos seguir esse caminho", avalia a candidata.

              "Se há preconceito? Na eleição passada enfrentei preconceito por ser jovem, mas provei à frente da vice-governadoria e da secretária especial de Proteção Social que, com vontade, trabalho e amor em tudo o que se faz, é possível, sim, fazermos a diferença. Além do que contamos com a sensibilidade, que é uma marca que procuro imprimir em tudo que faço. É o agir com a razão, mas também com o coração", conclui.

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