Pouco mais de 400 votos elegem um prefeito em Borá, interior paulista, 495 km a oeste da capital. Mas conquistar a confiança do eleitor não é tarefa fácil para os três candidatos à prefeitura da cidade, confirmada esta semana como o menor colégio eleitoral do país.

Os números são curiosos: uma agência bancária, um posto de saúde, uma escola. Tudo isso dividido entre 804 habitantes, que possuem como meio de transporte 99 automóveis e duas motos. Se preferirem o transporte público, são quatro os ônibus disponíveis, segundo dados do IBGE de 2007.

Em ano de eleição, porém, a estatística em foco é o número de eleitores. São 924 títulos aptos contabilizados esta semana pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), índice que supera o número de habitantes. A explicação para o fenômeno vem da presença de uma indústria no município, que atraiu votantes, mas não moradores fixos.

"Em 2004, muitas pessoas que trabalhavam nessa indústria transferiram seus títulos para cá porque moravam em Borá. Depois, muitas saíram da fábrica e da cidade, mas mantiveram o título aqui", diz Advaldo Celestino Teixeira, presidente do PSDB local. Segundo ele, a indústria emprega entre 1.900 e 2.000 pessoas, que residem em Borá e em municípios vizinhos, como Lutécia, Paraguaçu Paulista, Quatá e Quintana.

A chapa de seu partido tenta vencer mais uma vez as eleições, desta vez, representada por João Antonio Nespoli, o João do Posto, 41 anos. O atual prefeito tucano, Nelson Celestino Teixeira, já cumpriu quatro mandatos (1983-1996 e 2001-2008), foi reeleito em 2004 por 403 votos de 834 eleitores aptos, e não pode concorrer.

Para puxar os poucos votos disponíveis, o partido conta com um apoio inusitado se comparado à aliança nacional, o PMDB. "Uma coisa é aliança nacional, outra coisa é a municipal, que não precisa seguir a nacional", garante Advaldo.

Voto a voto

Nas eleições de 2008, no entanto, a parceria deve enfrentar uma oposição mais ferrenha. Diferentemente de 2004, quando apenas dois candidatos disputaram a prefeitura, agora três aspiram ao cargo de prefeito.

A oposição é representada por Luis Antonio Vinhando, o Luis Seringueira (DEM), 49, um dos fundadores do PT local, e Luiz Carlos Rodrigues, o Luiz do Açougue, 37, pela coligação PT-PTB. A simpatia entre eles vem desde os tempos em que DEM ainda era PFL, mais uma "afronta" à política em âmbito federal. "Aqui se vota no candidato", diz Luiz do Açougue. "Vence quem tem o maior carisma", completa Advaldo.



Nesses parâmetros, a campanha faz-se no corpo a corpo. Candidatos vão de casa em casa até o dia das eleições, 5 de outubro, para tentar convencer o povo, pessoalmente, de que é o dono das melhores propostas para resolver os problemas da cidade. "Aqui, para fazer campanha, tem que gastar a sola do sapato", diz Luiz do Açougue.

O principal problema é a saúde. Borá tem apenas um posto e, quem precisa de atendimento de urgência, muitas vezes, tem de se deslocar a outras cidades próximas. Luiz do Açougue diz que pretende construir novos postos e, além disso, investir em lazer.

"A cidade precisa de um clube, com piscina, campo suíço. Só temos um estádio", afirma o candidato, que resolveu concorrer novamente após ter ficado a apenas poucos votos do primeiro colocado nas últimas eleições.

Para não ficar tão por fora da tradicional "festa" das eleições, os candidatos preparam pequenos comícios para mais perto da data do pleito e alguns banners deverão ser espalhados pela cidade. Já o santinho, afirma o presidente do PSDB, "é obrigação nacional".

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