UOL Eleições 2008 São Paulo

 
05/10/2008 - 23h04

Kassab confirma ascensão, é o mais votado e vai ao 2º turno com Marta

Maurício Reimberg e Rosanne D'Agostino
Em São Paulo


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Após uma reviravolta que começou a ser delineada nas últimas semanas de corrida eleitoral, Gilberto Kassab (DEM) vai enfrentar Marta Suplicy (PT) no segundo turno da disputa pela Prefeitura de São Paulo.

Saiba onde os candidatos foram mais votados

A ex-prefeita, que liderou a corrida durante toda a campanha, terá de enfrentar o crescimento do atual prefeito, cuja popularidade está em ascendência. Neste domingo, Kassab obteve mais votos do que Marta, terminando o primeiro turno na primeira posição.

Quem deve ganhar no 2º turno: Kassab ou Marta?

O PT já governou a cidade em duas ocasiões: Luiza Erundina (1989-1992) e Marta Suplicy (2001-2004). Agora os petistas terão que encarar a sigla que melhor sintetiza o "anti-petismo" no atual contexto político: o DEM (antigo PFL). A legenda, que mudou de nome em março de 2007, nunca havia alcançado o segundo turno em São Paulo.

Kassab conseguiu bater o maior adversário, Geraldo Alckmin (PSDB), com quem disputou, além da vaga no segundo turno, o apoio do governador José Serra (PSDB) -"racha" que deve ganhar novos contornos a partir do resultado deste domingo.

Sobre o apoio do PSDB à candidatura de Kassab no segundo turno, o diretório do DEM anunciou, no último dia 2, esperar que a aliança vencedora das eleições 2004 na capital ressuscite já nesta segunda (6). Membros da sigla, porém, já confirmavam que Alckmin apoiaria Kassab caso perdesse a eleição. O tucano afirmou que irá obedecer a decisão da sigla.

Marta, por sua vez, sinalizou que sua estratégia deve privilegiar duas frentes: uma de apresentação de propostas de governo e de utilizar a imagem de Lula à exaustão; outra, de tentar atrelar a figura de Kassab ao "malufismo" e ao "atraso", visando conquistar os eleitores tucanos anti-malufistas e contrários ao DEM.


Gilberto Kassab

  • Partido: DEM
  • Idade: 48 anos
  • Profissão: engenheiro
  • Naturalidade: São Paulo (SP)
  • Patrimônio: R$ 5 milhões

As 5 principais promessas

  • 1. Construir três novos hospitais e ampliar a rede de AMAs especialidades
  • 2. Investir R$ 1 bilhão no metrô e mais R$ 300 milhões para auxiliar construção do Rodoanel
  • 3. Continuar urbanização de favelas e recuperar prédios vazios localizados no centro
  • 4. Ampliar programa de arborização para 200 mil árvores por ano
  • 5. Contratar mais dois mil guardas e concluir Observatório de Segurança e Violência

As nossas ações são diferentes das da Marta Suplicy, que pouco teve a mostrar. Eu aqui tenho uma lista que não vai dar tempo de falar. Dona Marta, a senhora não pode confundir inovação com invenção


Pela primeira vez como candidato majoritário, o engenheiro Gilberto Kassab, 48, foi a "revelação" da campanha. Pelo menos foi assim que a propaganda apresentou o prefeito ao eleitor. No entanto, longe de ser um fato inesperado, seu crescimento é fruto de ampla articulação política.

Tudo isso para transformá-lo num candidato competitivo para uma cidade onde o DEM (ex-PFL) era historicamente fraco. O então PFL nunca havia chegado ao segundo turno na capital paulista.

Formado em engenharia civil e economia pela USP, Kassab começou na política em 1993, quando foi eleito vereador pelo extinto PL (hoje PR). Também exerceu o mandato de deputado estadual (1995-1998) e federal (1999-2005) pelo PFL, para onde migrou em 1995. Além disso, atuou como secretário de Planejamento (1997-1998) na gestão Celso Pitta.

O democrata assumiu a prefeitura em março de 2006, quando o então prefeito José Serra deixou o cargo para disputar o governo estadual. Desde então, se orgulha em dizer que deu continuidade aos projetos de Serra.

No entanto, a existência de duas candidaturas com a mesma base de apoio (Kassab, pelo DEM, e Alckmin, pelo PSDB), além de provocar uma "convulsão" interna entre os tucanos, levou ambos a redefinirem seus discursos para enfrentar Marta Suplicy, que liderou todas as pesquisas de opinião desde o início da disputa.

Nesse quesito, Kassab não encontrou dificuldades. Com a maior previsão de gastos (R$ 30 milhões) e o maior tempo de televisão (8min44s), sobretudo em razão da aliança com o PMDB de Orestes Quércia, Kassab teve toda a estrutura a seu favor.

O discurso foi fundamentado em três pilares: ressaltar a parceria com Serra, divulgar as obras da sua administração -sobretudo na área da saúde, uma das áreas mais criticadas pelo paulistano-, e realizar o que ele chamou de "comparações" com o governo Marta (2001-2004). A tentativa era polarizar com o PT e isolar Alckmin.

O script estava desenhado. O que a campanha não contava era com os "deslizes" na largada. Após reportagem do UOL, Kassab foi incluído na chamada "lista suja" da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros), que contém os candidatos com ações em andamento na Justiça. Ele responde por improbidade administrativa. Detalhe: na semana anterior, a equipe do prefeito havia distribuído um panfleto com o título "Sujou!", mostrando que os concorrentes Marta e Maluf já estavam na lista.

Em outro incidente, a "Folha de S. Paulo" publicou uma mensagem na qual Kassab pedia uma "ação" em lugares da cidade que seriam visitados pelo Datafolha. Segundo ele, fora uma medida preventiva contra uma suposta tentativa de sabotagem do PT.

As turbulências políticas iniciais foram superadas, mas as feridas que o separam do PSDB "alckmista" não parecem pequenas. Na reta final da campanha, quando as pesquisas apontavam empate técnico com Alckmin, ambos protagonizaram um "tiroteio" público sem precedentes, que aprofundou o impasse entre dois aliados: PSDB e DEM.

O auge da tensão se deu quando Alckmin acusou o democrata de ter feito um "golpe" para se tornar candidato a vice na chapa de Serra, em 2004. O tucano mirou em Kassab e atingiu o governador. Serra, então, defendeu o democrata.

"Lamento que a febre da disputa eleitoral acabe me envolvendo em ataques de campanha. A afirmação não é correta. Não houve golpe na indicação do nome, que foi feita pelo PFL", disse Serra. "Kassab foi um vice leal e solidário".

A ofensiva de Alckmin foi neutralizada. Agora Kassab deve contar com o apoio integral do próprio Serra, que se manteve distante da disputa até o momento. Com Serra, Kassab espera transformar em votos a boa avaliação obtida pelo seu governo e personificar o voto "anti-PT" no segundo turno.


Marta Suplicy

  • Partido: PT
  • Idade: 63 anos
  • Profissão: psicóloga
  • Naturalidade: São Paulo (SP)
  • Patrimônio: R$ 10,4 milhões

As 5 principais promessas

  • 1. Retomar programas de regularização fundiária; subsídio para compra de imóvel
  • 2. Aumentar validade do bilhete único; incentivar estacionamentos subterrâneos no centro
  • 3. Implantar rede de Policlínicas, construir 3 hospitais e ampliar Saúde da Família
  • 4. Acesso a Internet banda larga em escolas e demais equipamentos públicos municipais
  • 5. Criar condições para que professor permaneça em uma só escola

Kassab, além de falar na televisão fatos que não existem, reverter situações, você consegue falar do aumento do imposto, sendo que seu partido foi um dos que mais aumentaram a carga tributária


Empatada com Geraldo Alckmin (PSDB) no início da corrida eleitoral à Prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy (PT) chega ao segundo turno com menos força do que imaginava, mas deverá contar com um importante apoio, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que acompanhou a candidata durante toda sua campanha.

O tom da estratégia petista para diminuir o alto índice de rejeição à candidatura da ex-prefeita foi dado desde a convenção que a oficializou, em junho. Sob o slogan "Deixa ela trabalhar", em referência ao jingle que ficou famoso nas campanhas de Lula, e em frente a um banner com a foto do presidente, Marta e Aldo Rebelo (PC do B) tiveram a chapa homologada no dia 29 de junho.

Apenas dias antes, em 26 de junho, encerrava-se polêmica sobre quem seria o vice. Marta fechou aliança com o "bloquinho", formado por PC do B, PSB, PDT e PRB, para ter o deputado federal como parceiro na chapa. O partido cogitava Luiza Erundina. Ao UOL, a ex-prefeita desabafou e afirmou que foi "vetada" pela direção nacional do PSB nas duas vezes em que tentou entrar na corrida.

Além de afirmação de Aldo, de que não aceitaria apoiar Marta, a aliança com o bloquinho vinha sendo combatida por grupos internos contrários ao nome do deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força Sindical, envolvido em operação da Polícia Federal. Depois, Paulinho apareceu ao lado de Marta e revelou que teve até que fumar um "cachimbo da paz" com Aldo para trazê-lo à coligação.

Acerto realizado, Marta Suplicy esforçou-se para combater fantasmas de seu ex-governo em sua campanha. Disse estar arrependida da taxa do lixo e prometeu que, desta vez, irá investir em saúde. Também teve de lidar com ataques de adversários referentes à frase dita por ela como ministra do Turismo: "Relaxa e goza", em meio à crise aérea, em 2007.

Durante a campanha, privilegiou projetos para acabar com o caos no trânsito -que atribuiu à gestão de Serra e Gilberto Kassab (DEM)-, como o Bilhete Único, e prometeu continuar a construção de CEUs (Centro Educacional Unificado), iniciados em seu mandato.

Nesta fase, recebeu críticas por contemplar a participação do governo federal e estadual na ampliação do metrô e atacou Kassab: "Ele me copia". A essa altura, o candidato do DEM estava empatado com Alckmin no segundo lugar. Na reta final, a candidata focou a agenda na periferia, a quem prometeu levar metrô.

Teve o nome incluído na apelidada "lista suja" da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros) como a candidata com mais processos em andamento do país -fato explorado pelo adversário Gilberto Kassab. Depois, reportagem do UOL fez com que a omissão da entidade fosse corrigida e com que o nome do prefeito também fosse incluído na lista.

Marta Teresa Smith de Vasconcellos Suplicy, 63, nasceu no Jardim Paulistano, em família tradicional na capital paulista. Governou a cidade entre 2000 e 2004, quando perdeu a reeleição para o atual governador do Estado, José Serra (PSDB). Antes, derrotou Paulo Maluf (PP), com 3,2 milhões de votos, no segundo turno.

É casada com o franco-argentino Luis Favre. Tem três filhos com o ex-marido e senador Eduardo Suplicy (PT), de quem se separou no pleito de 2004 após mais de 30 anos de união. Suplicy participou ativamente da campanha de Marta, enquanto Favre a acompanhava nos bastidores.

É formada em psicologia na Michigan State University (1966-68) e na PUC-SP (1969-75), pós-graduada na Standford University (1973). Na década de 80, ancorou programa sobre sexualidade da mulher na TV.

Filiada ao PT desde 1983, foi eleita deputada federal, em 1995. No Legislativo, foi autora da lei que permite união civil entre homossexuais.
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