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Flávio Florido/UOL

Gilberto Kassab vence, reabilita DEM e fortalece José Serra

Relembre as principais cenas da campanha em São Paulo

Gilberto Kassab

  • Partido: DEM
  • Idade: 48
  • Naturalidade: São Paulo (SP)
  • Profissão: engenheiro e economista
  • Patrimônio: R$ 5 milhões

"Não votem em mim em 2010 se eu sair candidato, porque vou cumprir os quatro anos de mandato"

"Sou solteiro, sou feliz, sou engenheiro. Posso dizer que os cidadãos estão interessados em discutir o caráter."

Maurício Reimberg
Em São Paulo



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A vitória de Gilberto Kassab, 48, tem um significado político que ultrapassa o jogo sucessório municipal. Ao derrotar a petista Marta Suplicy, apoiada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Kassab se projeta como uma das principais lideranças do DEM, reabilita uma legenda sob ameaça nestas eleições - São Paulo é a única capital onde o ex-PFL obteve sucesso - e fortalece uma provável candidatura presidencial do tucano José Serra em 2010.


Pesquisa boca-de-urna Ibope/Rede Globo já apontava a reeleição de Gilberto Kassab com 60% dos votos válidos ante 40% de Marta Suplicy. Levantamento do Datafolha publicado no jornal "Folha de S.Paulo" deste domingo (26) havia indicado os mesmos índices. "Tive a grande perda da minha mãe, mas ganhei um amigo que é o líder Serra", afirmou em entrevista coletiva concedida no hotel Ca'd'Oro, na zona central de São Paulo.


O que você achou da vitória de Kassab em São Paulo?

Formado em engenharia civil e economia pela USP (Universidade de São Paulo), Kassab entrou na política pelas mãos do empresário Guilherme Afif Domingos (DEM), coordenador do seu programa de governo e secretário licenciado do Emprego e Relações do Trabalho do Estado de São Paulo. Kassab integrou a campanha de Afif à presidência em 1989. Em 1993, foi eleito vereador pelo extinto PL (hoje PR). Também exerceu o mandato de deputado estadual (1995-1998) e federal (1999-2005) pelo PFL, para onde migrou em 1995.


O prefeito eleito assumiu o Executivo municipal em março de 2006, quando José Serra renunciou ao cargo para disputar o governo estadual. Desde então, se orgulha em dizer que deu continuidade aos projetos do seu principal padrinho político. Esta foi a primeira candidatura majoritária de Kassab - eleito como vice na chapa do tucano em 2004.


Após surpreender e terminar o primeiro turno à frente de Marta, Kassab teve que enfrentar uma nova estratégia do PT, que mudou o tom da campanha e optou pelo enfrentamento. Foi uma tentativa de "desconstruir" a imagem do adversário e associá-lo ao malufismo e ao ex-prefeito Celso Pitta (1997-2001), do qual Kassab foi secretário de Planejamento (1997-1998). Kassab revidou os ataques no debate da Rede Globo. "O seu vice Hélio Bicudo disse em seu livro que você deixou a cidade falida, quebrada". A ex-prefeita liderou todas as pesquisas de opinião durante a primeira etapa da disputa.


As 5 principais promessas

  • 1. Construir três novos hospitais e ampliar a rede de AMAs Especialidades
  • 2. Investir R$ 1 bilhão no metrô e mais R$ 300 milhões para auxiliar construção do Rodoanel
  • 3. Continuar urbanização de favelas e recuperar prédios vazios localizados no centro
  • 4. Ampliar programa de arborização para 200 mil árvores por ano
  • 5. Contratar mais dois mil guardas e concluir Observatório de Segurança e Violência
  • Veja o programa de governo de Kassab

Na inserção eleitoral mais polêmica da campanha, um narrador perguntou sobre aspectos da vida pessoal de Kassab. "Sabe se ele é casado? Tem filhos?" Na sabatina do jornal "Folha de S. Paulo", Marta foi questionada pela primeira vez sobre uma suposta "insinuação" de homossexualidade na propaganda. "Não acho. É uma pergunta como qualquer outra", disse. A petista também afirmou que desconhecia as inserções, que estariam sob responsabilidade do marketing político da campanha.


A ofensiva recebeu críticas de setores do próprio PT. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) disse ter pedido para a sua ex-mulher a retirada do vídeo contra Kassab. "Marta sabe perfeitamente que o fato de uma pessoa não ser casada ou não ter filhos não significa que deixe de se qualificar bem para qualquer trabalho". Após dois dias de exibição, a propaganda foi cancelada.


Com uma gestão bem avaliada pelos paulistanos - atingiu o pico de 61% de ótimo ou bom durante a campanha -, Kassab obteve capital político suficiente para enfrentar a popularidade do principal cabo eleitoral da sua adversária. A aprovação a Lula na cidade também atingiu o recorde histórico de 55%. Apesar da força do presidente, Marta não conseguiu reverter seu alto índice de rejeição, sobretudo na classe média e na elite paulistana. Resultado: ela foi mais uma vítima da "onda de reeleição" que marcou o pleito deste ano.


Estratégia


Numa cidade tradicionalmente dividida entre dois pólos de poder antagônicos, Kassab soube desde o início personificar o voto anti-PT, comparando a sua gestão com a de Marta (2001-2004). Desde 1988 - quando ainda não havia segundo turno -, as eleições em São Paulo são polarizadas entre um candidato petista e o seu "avesso" político.

Para José Serra, "Lula não foi derrotado em São Paulo"; veja trechos da coletiva


Num primeiro momento, era Paulo Maluf (PP) quem detinha a hegemonia do discurso anti-PT. Em 1988, Luiza Erundina (hoje no PSB) virou o jogo e desbancou Maluf, que terminou em segundo lugar. A partir dali, todas as disputas foram decididas no segundo turno. Quatro anos depois, Maluf deu o troco ao vencer Eduardo Suplicy. Pitta, afilhado do ex-prefeito, impôs uma nova derrota a Erundina em 1996. Nas eleições de 2000, Marta encerrou o ciclo malufista na prefeitura, mas viu o sonho da reeleição ser frustrado por Serra no embate seguinte. O PP pertence hoje à base do governo Lula.


Além do discurso elaborado para ocupar um espaço político definido, Kassab também conseguiu atrair os eleitores dos candidatos derrotados no primeiro turno. Recebeu apoio formal de Geraldo Alckmin (PSDB), terceiro lugar no pleito, com 1,4 milhão de votos (22%). Além do PSDB, o prefeito obteve a adesão do PPS de Soninha Francine - que teve 267 mil votos (4%) -, e do PTB, que havia indicado o vice Campos Machado na chapa do tucano.


Nesse caso, se a política também é a arte de "engolir sapos", Kassab agradeceu o gesto e empurrou o ônus para o ex-governador. No primeiro turno, Alckmin havia dito que o seu adversário era "dissimulado", "duas caras" e expoente de uma estratégia que visava "desconstruir" o PSDB. "Ele usa as pessoas. Quer se passar por tucano e confunde a população", afirmou. A eleição expôs em público a distância que separa as alas serristas e alckmistas do PSDB, mas ainda é difícil mensurar as reais conseqüências da divisão interna para 2010.


Fôlego


  • UOL

    Confira a votação por zona eleitoral no primeiro e segundo turnos

A ascensão de Kassab também deve contribuir para "repaginar" o DEM. Essa foi a primeira eleição da legenda após a mudança de nome, que ocorreu em março de 2007. Numa troca de comando realizada no ano passado, saiu Jorge Bornhausen, 71, e entrou Rodrigo Maia, 38. A escalada de Kassab na hierarquia partidária está em sintonia com essa nova roupagem. O democrata se apresentou ao eleitor paulistano como um representante da geração pós-regime militar (1964-1985).


A sigla vem sofrendo profundas reformulações desde o processo de redemocratização do país. O PFL (Partido da Frente Liberal) foi criado em 1985 como dissidência do PDS (Partido Democrático Social), que por sua vez era sucessor da Arena (Aliança Renovadora Nacional) - partido que deu sustentação à ditadura militar. Kassab alega não pertencer a nenhum espectro ideológico. "Eu não sou nem de direita nem de esquerda", disse em sabatina.


Com a inédita vitória em São Paulo - o antigo PFL nunca conseguiu chegar ao segundo turno na cidade -, o DEM vai administrar um orçamento de R$ 29,4 bilhões (previsão para 2009) e uma metrópole de 11 milhões de habitantes. O partido deve assumir um caráter mais urbano, numa tentativa de dialogar com a classe média dos grandes centros. É uma alternativa que surge, sobretudo, após sucessivas derrotas eleitorais no Nordeste. Atualmente o DEM administra apenas um governo estadual, o do Distrito Federal, com José Roberto Arruda (ex-tucano). Além disso, o partido perdeu a Prefeitura do Rio de Janeiro.


Projeto


Um dos grandes beneficiados com a vitória de Kassab é o governador de São Paulo, José Serra (PSDB). Discípulo do tucano, Kassab é presidente do Conselho Político do Democratas, instância partidária responsável por orientar a articulação de alianças. Ele deve se tornar o principal defensor do apoio do partido à candidatura presidencial de Serra.


O governador se manteve distante da campanha em São Paulo no primeiro turno. Após a decisão do PSDB em lançar candidatura própria, Serra encontrou na discrição a melhor estratégia. O tucano gravou apenas um único depoimento para a propaganda de Alckmin e apareceu num jantar que reuniu a cúpula tucana na capital paulista.

Marta pede que eleitor cobre eleito


    Sem a existência de duas candidaturas com a mesma base de apoio, Serra pôde figurar sem constrangimento ao lado de Kassab. Numa cerimônia oficial, o prefeito deixou-se fotografar ao lado do governador segurando um cheque simbólico de R$ 198 milhões, valor referente aos recursos municipais destinados às obras do metrô. O PT acusou Kassab de utilizar a máquina pública e entrou com um pedido de cassação da candidatura. A Justiça rejeitou a impugnação, mas atribuiu uma multa de R$ 5 mil ao democrata.


    Kassab está na chamada "lista suja" da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros), que contém os candidatos com ações em andamento na Justiça. O democrata responde por improbidade administrativa. Ele teve o seu nome incluído na relação após reportagem do UOL revelar que o processo continua em andamento no Tribunal de Justiça de São Paulo.


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