05/10/2008 - 19h37 Gabeira confirma ascensão e vai ao segundo turno com Paes
Thyago Mathias
Especial para o UOL
Do Rio de Janeiro
Para quem começou a campanha eleitoral na quarta colocação, com 9% das preferências, Eduardo Paes (PMDB) é o único candidato que segue com tranqüilidade para o segundo turno, onde enfrenta Fernando Gabeira (PV).
A virada de Paes ocorreu no início de setembro, alavancada pelo apoio do governador Sérgio Cabral, o maior tempo de propaganda eleitoral gratuita - 6 minutos e 48 segundos - e por uma campanha que consumiu 40,6% da receita de todos os candidatos a prefeito somados, ou R$ 3,2 milhões.
Até a reta final da campanha, a outra "vaga" para o segundo turno estava sendo disputadíssima entre Gabeira, Marcelo Crivella (PRB) e Jandira Feghali (PC do B). Gabeira superou, só na reta final, por uma pequena diferença de pontos percentuais.
O número elevado de candidatos, 12 no total, e a falta de debates na televisão colaboraram para a indefinição do cenário, até o último dia.
Gabeira surpreendeu os adversários ao pular do quarto lugar para vencer Crivella na disputa pela segunda vaga para o dia 26 de outubro. No embate com Paes, ele espera contar com uma aliança dos demais candidatos de esquerda em torno de seu nome, contra o candidato de Cabral.
Paes não vai procurar MaiaApós confirmado como candidato primeiro colocado no Rio, Paes falou com os jornalistas.
Quem deve ganhar no 2º turno: Paes ou Gabeira?
Perguntado se ia procurar o prefeito da cidade, César Maia, Paes afirmou que não será prioridade. "A cidade precisa de um prefeito que une os poderes, não de um gestor que governe isolado dialogando com o computador", alfinetou.
Questionado se o crescimento de Gabeira o deixa apreensivo, o peemedebista é enfático. "A minha candidatura saiu de 7% no início e terminou com 31%. O meu crescimento foi maior", afirmou.
Paes também falou sobre o apoio do presidente Lula. "Afirmo e reafirmo que o Rio pode ter, depois de muito tempo, as três esferas trabalhando juntas. E a minha candidatura é da base do governo Lula", concluiu.
Gabeira comemora ascensãoFernando Gabeira comemorou a sua ascensão e já tem sua estratégia definida para ultrapassar o candidato Eduardo Paes (PMDB): procurar os eleitores de esquerda e fortificar a campanha na zona oeste, reduto eleitoral do derrotado Marcelo Crivella.
"Achamos que as respostas das zonas Norte e Sul foram maravilhosas, mas queremos melhorar na Zona Oeste, faltou passar por algumas comunidades", explicou.
O segundo colocado disse ainda que não é um candidato contra o presidente Lula. "Sou um anti-ninguém", concluiu. Gabeira vai passar a segunda-feira (6) com sua família e não terá agenda de campanha.
Eduardo da Costa Paes
- Partido: PMDB
- Idade: 38 anos
- Profissão: advogado
- Naturalidade: Rio de Janeiro
- Patrimônio: R$ 390.372,87
As 5 principais promessas
- 1. Levar saneamento básico a 100% da Zona Oeste
- 2. Reequipar a Guarda Municipal com armas não-letais
- 3. Construir 40 Unidades de Pronto-Atendimento 24 horas
- 4. Aprovar um novo Plano Diretor para a cidade
- 5. Articular a construção e concessão de um centro de convenções no Aterro do Flamengo
“Vou trabalhar pelo entendimento, para integrar todas as esferas de governo”
Ex-subprefeito de Jacarepaguá, foi na zona oeste, região que abriga 34,4% dos eleitores cariocas, que Eduardo Paes consolidou os votos necessários para liderar a corrida eleitoral. Durante a campanha na TV, não cansou de relembrar o episódio em ajudou a socorrer as vítimas de uma enchente naquele bairro. O peemedebista chega ao 2º turno, porém, com boa aceitação em todos os segmentos e o menor índice de rejeição.
Também ajudaram o apoio e a experiência do governador Sérgio Cabral, que incentivou a ida do candidato para o PMDB e o rompimento de uma aliança com o PT para lançar Paes, mesmo contra a vontade da direção regional do partido. Cabral, que já foi conhecido como deputado dos aposentados, conseguiu transmitir a seu correligionário o apoio maciço dos eleitores com mais de 50 anos.
Paes recheou seu plano de governo com propostas para a terceira idade, mas recebeu ataques dos adversários por gravar inserções para a TV dentro de Unidades de Pronto-Atendimento do Governo do Estado, as UPAs 24 horas. A despeito de decisão judicial que proibiu o uso eleitoral das UPAs e de críticas do prefeito Cesar Maia (DEM), que o ironizou com a expressão "upa, upa, upa, cavalinho alazão", o peemedebista garante que vai construir 40 novas unidades.
O prefeito, ex-padrinho e atual desafeto do candidato, cunhou outras expressões que atazanaram a vida de Paes: "Dudu milícia", fazia referência a uma polêmica entrevista na qual Eduardo Paes elogiaria a atuação da "polícia-mineira" na zona oeste. "Dudu riquinho" explorava os valores milionários da campanha, bancados, sobretudo, por empreiteiras e imobiliárias que doaram mais de R$ 2,1 milhões. Apesar dos ataques, que se tornaram constantes à medida que cresciam suas intenções de voto, o peemedebista evitou polemizar e pedir direitos de resposta na TV ou nos debates de que participou.
Formado em Direito, Paes trocou a carreira jurídica pela política. Com 23 anos, foi nomeado subprefeito de Jacarepaguá e Barra, na 1ª gestão de Cesar Maia. Em 1996, elegeu-se vereador pelo PFL (atual DEM) e, em seguida, transferiu-se para o PSDB. Desde 1998, elegeu-se duas vezes para a Câmara dos Deputados e, depois de perder a eleição de governador, em 2006, foi convidado por Cabral a ir para o PMDB e assumir a Secretaria de Estado de Turismo, Esporte e Lazer, da qual se retirou para disputar estas eleições.
"As circunstâncias levaram a isso. O ideal era que pudesse ter ficado num partido só. Houve mudanças e eu continuei defendendo o Rio de Janeiro. Sempre caminhei numa linha reta", defendeu-se. E completou: "Não acho que a fidelidade partidária é algo adequado (no momento), mas é um bom caminho".
As cinco trocas de partido, a mudança de postura em relação ao presidente Lula e a desincompatibilização do cargo de secretário foram contestados até a última hora. Somente na segunda-feira (29 de setembro), o TSE negou o pedido de inelegibilidade argüido pela coligação de Solange Amaral (DEM), em razão da exoneração de Paes ter sido publicada no dia 6 de junho, com portaria retroativa ao dia 5 -data limite para que os candidatos deixassem os cargos públicos.
No próprio DEM e em outros partidos por onde passou, Paes obteve o apoio de candidatos a vereador que deveriam se manifestar em favor de concorrentes. Entre denúncias de financiamento de material de campanha e punição de vereadores por legendas como o PSDB, Eduardo Paes deve levar ao 2º turno o suporte de boa parte da Câmara recém-eleita, mas pode enfrentar uma aliança "anti-Cabral" que já inclui Cesar Maia e tende a reunir os candidatos derrotados.
Fernando Paulo Nagle Gabeira
- Partido: PV
- Idade: 67 anos
- Profissão: jornalista
- Naturalidade: Juiz de Fora (MG)
- Patrimônio: R$ 54.072,55
As 5 principais promessas
- 1. Novo Plano Diretor: desfavelização planejada e estruturação de pólos de desenvolvimento
- 2. Reequipar a Guarda Municipal com armas não-letais
- 3. Produzir o geo-referenciamento dos crimes
- 4. Ampliar a rede saúde da família e a rede de ambulatórios
- 5. Expandir a rede municipal de distribuição de medicamentos gratuitos
“Os eleitores que me consideram um bom candidato agora vêem que a vitória é viável”
Antes de ficar cara-a-cara com Eduardo Paes no segundo turno, Fernando Gabeira enfrentou uma rebelião de candidatos de sua coligação a vereador que preferiam fazer campanha para o peemedebista em vez dele. Antes, ainda, de registrar os primeiros avanços nas pesquisas, que lhe davam um empate técnico na segunda colocação, junto com a direção de seu partido, lançou suspeitas sobre os resultados do Ibope e pediu auditoria dos números. Foi chamado de "covarde, omisso e dissimulado" por Augusto Montenegro, presidente do instituto.
Jornalista de formação, Gabeira trabalhou em redações de 1964 a 1968. Pelo envolvimento na luta contra a ditadura - ele participou do seqüestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick, em troca da libertação de presos políticos -, Gabeira esteve exilado no Chile e na Europa até a anistia, em 1979. Na Suécia, chegou a trabalhar como condutor de metrô. Ele participou ativamente do movimento estudantil, mas foi acusado de estar "sem projeto político" pela presidente da UNE, Lúcia Stumpf, em resposta a críticas no início da campanha.
A coligação do PV com o PSDB, que deu ao candidato o segundo maior tempo de TV - 4 minutos e 46 segundos - não foi perdoada pelos outros candidatos à esquerda. Ele chegou a ser chamado de "lacerdista", ao propor a remoção de casas em áreas de risco, e foi acusado por Chico Alencar (PSOL) de ter "se vendido" aos banqueiros, por ter recebido R$ 200 mil do Unibanco e do Banco Itaú S/A, além de investidores ligados ao ex-presidente do Banco Central, Arminio Fraga.
A despeito das críticas, que Gabeira ignora ou eventualmente rebate com a fala mansa que lhe é peculiar, foi por iniciativa dele que os candidatos do Rio passaram a tornar públicas suas listas de doadores, antes mesmo do exigido pela Justiça Eleitoral. Na TV, ele lembra que não coloca placas e faixas na rua como exemplo da ordem urbana que defende para a cidade.
"Desde o início, estabeleci o compromisso de que os partidos não vão ocupar a administração pública", prometeu, durante um debate.
Fraga já foi cotado para montar a equipe econômica de um eventual mandato. Nos programas eleitorais do PV, o economista aparece entre o governador tucano de São Paulo, José Serra, e artistas de teatro e da música popular, como Caetano Veloso, que aderiram à campanha.
Além de tentar unir a esquerda contra a candidatura de Eduardo Paes, apesar das críticas, Gabeira tem as três semanas de campanha do segundo turno para convencer a população carioca de que não é o "candidato das elites". Foi na zona sul do Rio e junto ao eleitorado com renda maior do que cinco salários mínimos e com ensino superior, segundo pesquisas, que obteve mais intenções de voto. Nas últimas semanas, a bordo do jipe batizado de "Gabeirão", ele focou a campanha nos subúrbios e na zona oeste. Tem também que superar a imagem anedótica, lembrada por adversários, de ter proposto a descriminalização da maconha e de freqüentar a praia de Ipanema com uma tanga de crochê, na década de 1960.
"O foco agora não é legalização. Neste momento, eu não seria a favor da legalização. Foi uma discussão um pouco inútil, perdi energia. Sem uma polícia moderna, eficaz e honesta, você não consegue nem reprimir nem legalizar", comentou.
Gabeira já foi candidato ao governo do Estado e à presidência da República. Pelo PV, partido que ajudou a fundar, elegeu-se deputado federal em 1994, depois reeleito três vezes. Destacou-se, na última legislatura, pela pedido de renúncia do então presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, que se encontrava envolvido em um escândalo de corrupção.