“Eu acho que seria desleal da minha parte pedir voto para prefeito pensando em 2010. Mas quem vai definir meu futuro em primeiro lugar é Deus.”
“Minha dedicação é total, de segunda a domingo. Não tenho feriado nem férias”
Com a experiência de cinco décadas de vida pública e 74 anos de idade, o peemedebista Iris Rezende Machado foi eleito para mais quatro anos à frente da prefeitura de Goiânia. A vitória tranqüila no primeiro turno representa muito mais do que a continuidade de uma gestão aprovada por 81% dos goianienses, de acordo com pesquisa do Instituto Grupom.
Ao fazer de Iris Rezende o primeiro prefeito reeleito da história de Goiânia, os eleitores também pavimentaram o caminho do peemedebista para tentar um retorno triunfal ao governo do Estado, em 2010. Antes mesmo das eleições, o assunto já era amplamente discutido, tanto na base de apoio como entre os adversários. O próprio Iris se mostrou disposto a encarar o desafio.
Mas não assume diretamente essa estratégia. "Na verdade, foram os adversários que não tiraram 2010 da cabeça. Eu acho que seria desleal da minha parte pedir voto para prefeito pensando em 2010. Mas quem vai definir meu futuro em primeiro lugar é Deus. Segundo é o povo. Minha vida está entregue à cidade e a Deus. O que eles quiserem, estarei pronto", resume o prefeito reeleito.
Apesar das palavras, Iris já começou a fixar sua imagem no interior do Estado. Durante toda a campanha, recebeu dezenas de candidatos de cidades do interior, que queriam usar o prestígio do prefeito da capital nas campanhas de suas cidades. E também entra para um segundo mandato sem maiores desgastes, depois de vencer uma das disputas mais fáceis de sua carreira política.
Com os índices de aprovação nas alturas desde antes de se lançar à reeleição, Iris praticamente não contou com adversários. Seu rolo compressor influenciou até mesmo os partidos rivais. O fato de ter sido considerado imbatível, desde antes do período eleitoral, desestimulou muitos partidos a lançar candidaturas. Pela primeira vez, Goiânia teve apenas quatro candidatos.
O reduzido número de concorrentes obrigou à formação de grandes alianças. E a coligação que elegeu Iris Rezende contava com 14 partidos e mais de 400 dos cerca de 600 candidatos a vereador na cidade. A mais importante das alianças talvez tenha sido o Partido dos Trabalhadores.
O PT, que historicamente era adversário de Iris, não só se juntou à coligação como também indicou o vice. Toda a articulação com o PT teria o objetivo de fortalecer ainda mais a candidatura de Iris para 2010. Segundo a tese dos adversários, os petistas apoiariam a reeleição e ficariam com parte do mandato (a partir de 2010) quando o peemedebista renunciasse para se candidatar ao governo.
Assim, o grupo petista voltaria à prefeitura e, Iris teria a chance de mais um renascimento no cenário político de Goiás. Voltar das cinzas, aliás, é uma especialidade de Iris, considerado um dos mais importantes personagens do cenário político no Estado de Goiás. Menino pobre nascido em Cristianópolis (80 km de Goiânia) chegou a vender lenha para sobreviver. Veio para Goiânia com 16 anos se formou em direito, a duras penas. Aos 25, em 1958, foi eleito vereador mais votado na época e assumiu a presidência da Câmara.
Em 1962 foi eleito deputado estadual e, em 1965 foi eleito prefeito de Goiânia pela primeira vez. Três anos depois, teve o mandado cassado pelos militares e deixou o cenário político, quando passou a se dedicar ao direito. O primeiro grande retorno se deu em 1982, com o fim do Regime de ditadura e movimento "Diretas Já". Se elegeu governador e ganhou projeção nacional. De 1984 a 1989, foi ministro da Agricultura no governo Sarney. Em 1990 se reelegeu governador. Em 1994, foi eleito senador e ainda elegeu Maguito Vilela como seu substituto no governo. Na época, diziam que, se quisesse, Iris elegeria até mesmo uma pedra.
Foi então que alguns escândalos trariam a segunda derrocada de Iris e do peemedebismo em Goiás. Denúncias de irregularidades no governo e a privatização da Usina de Cachoeira Dourada e do Banco do Estado de Goiás provocaram estragos sem precedentes na carreira política de Íris e seus aliados. Em 1997 e em 1998 foi ministro da Justiça no governo FHC.
O declínio começou em 1998, quando perdeu para o então inexpressivo Marconi Perillo (PSDB), na disputa para governador. Depois, foi derrotado novamente quando tentou voltar ao Senado quatro anos depois. Chegou a ser declarado morto politicamente por analistas da época. Deixou o cenário político para se dedicar aos negócios pessoais. Voltou em 2004, quando se elegeu prefeito vencendo Pedro Wilson (PT) com 349.133 votos. O mesmo PT que hoje ocupa a função de vice, e que voltará a ocupar a prefeitura no caso de renúncia do peemedebista.