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17/09/2006 - 19h09

Lula ataca na reta final: tucano é "predador" e ACM, "roedor"

Por Ricardo Amaral

BELÉM (Reuters) - Num esforço para garantir a reeleição no primeiro turno, o presidente-candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) esquentou a reta final da campanha eleitoral com ataques ao PSDB e PFL, em comícios com aliados do PMDB, alguns deles alvos de denúncias de corrupção.

"Os tucanos são predadores, comem os ovos e os filhotes nos ninhos dos outros", disse Lula neste domingo em Belém, onde encerrou maratona de comícios em seis cidades desde sexta-feira.

"O que eles fizeram pelo povo? Eles se contentaram em governar para 35 milhões de brasileiros apenas", fustigou, comparando o governo do PSDB, que tem o tucano como símbolo, aos hábitos das aves desta espécie que ele disse observar na Granja do Torto.

Na véspera, em Salvador, Lula havia chamado de "hamster" (pequeno roedor) o chefe local do PFL, senador Antonio Carlos Magalhães, conhecido como "Leão da Bahia".

Lula, segundo um auxiliar, está usando a campanha eleitoral para consolidar, nos palanques, o apoio que espera receber do PMDB no Congresso num eventual segundo mandato.

"PMDB e PT entenderam que chegou a hora de parar de brigar entre nós e saber quem é o adversário principal que precisamos derrotar", disse Lula em Belém. Os candidatos dos dois partidos ao governo do Pará, Ana Júlia (PT) e José Prieante (PMDB), firmaram pacto de apoio, caso um deles vá para o segundo turno contra o candidato do PSDB, Almir Gabriel, líder nas pesquisas.

"Não adianta PC do B e PT ficarem de um lado e PFL, PSDB e outras forças de direita ficarem unidos vendo a gente brigar. Nossos adversários são outros e precisamos derrotá-los", acrescentou.

PESO NO PALANQUE

Entre sexta-feira e domingo, Lula fez comícios em Natal (RN), João Pessoa (PB), Aracaju (SE), Feira de Santana (BA), Salvador (BA) e Belém (PA). Em todos ele encerrou os discursos pedindo unidade e empenho para "a vitória em 1o de outubro", data do primeiro turno eleitoral.

As pesquisas divulgadas esta semana indicam que Lula teria de nove a onze pontos de vantagem sobre a soma dos adversários, o suficiente para garantir a reeleição na primeira rodada.

Em João Pessoa, sábado, Lula elogiou a "lealdade" do senador Ney Suassuna (PMDB), denunciado pela CPI dos Sanguessugas. Em Belém, dividiu o palanque com Jade Barbalho (PMDB), que teve de renunciar ao Senado em 2001, sob acusações de corrupção, e o ex-senador Ademir Andrade (PSB), preso pela PF este ano numa operação contra desvios na estatal Docas do Pará.

"Podemos até ter os defeitos que eles querem, mas nossos defeitos certamente são menores do que os defeitos que eles têm", disse neste domingo, referindo-se ao PSDB e PFL.

"POVO TÁ DEMAIS"

Lula está aproveitando os últimos comícios para valorizar o apoio da população de menor renda à reeleição, quase duas vezes maior que o apoio dos mais ricos, segundo as pesquisas.

"O povo tá esperto, tá sabido, e não é a plumagem e o bico dos tucanos que vão ensinar o povo a não gostar de sabiá, curió e pintassilgo", disse Lula, ressaltando que não teve esse apoio em eleições anteriores.

"Tem até gente pensando em mandar trocar de povo, gente dizendo: com esse povo não dá, esse povo tá votando no Lula...", ironizou.

"Esse povo tá demais, tá discutindo até o risco Brasil...", prosseguiu, citando como exemplo comentários sobre o tema que disse ter ouvido do piscineiro do Palácio da Alvorada.

Por essa razão, acrescentou o presidente-candidato, os pobres estariam sendo refratários as acusações e denúncias da oposição contra o PT e o governo.

"Quando aparecem na TV tagarelando, batendo bico, o povo diz: 'Peraí! Mentir uma vez, tá certo, duas vezes (...) mas mentir uma terceira vez nós não vamos acreditar mais"', prosseguiu. "Se querem conquistar o povo, digam a verdade."

Em Aracaju, sexta-feira, Lula tratou de se descolar, numa entrevista, da repercussão negativa da prisão de dirigente do PT de Mato Grosso, suspeito de comprar dossiê para comprometer tucanos com os sanguessugas.

Neste domingo em Belém, divulgou nota para negar notícias de que teria defendido o fechamento do Congresso, numa conversa com empresários.

"CAFUNÉ E CARINHO"

Lula também está disseminando a idéia de que os adversários o consideravam despreparado para governar o país e teriam sido surpreendidos com o apoio a sua reeleição.

"Nós pegamos esse país quebrado e comemos o pão que o diabo amassou, mas os tucanos pensavam: esse Lula é um torneiro mecânico, não vai dar certo", afirmou em Belém.

"O que deixa o outro lado nervoso, doente, é comparar quatro anos nosso com oito deles", prosseguiu. "Os tucanos vão ter cada vez menos espaço e menos filhos de passarinhos para comer."

Lula tem dirigido mensagens específicas para as mulheres, que, segundo as pesquisas, manifestam intenção de voto na reeleição cerca de cinco pontos percentuais abaixo dos homens.

Ele arrancou aplausos da platéia feminina em Belém ao lembrar que sancionou a lei que prevê até três anos de prisão para homens que agridem a mulher ou companheira.

"A mão do homem foi feita para o trabalho, para carregar os filhos e para fazer cafuné e carinho na mulher", discursou.

Lula viaja na segunda-feira para Nova Iorque, onde participa da Assembléia Geral da ONU, e retomará os comícios na quinta-feira, em São Vicente, litoral paulista.