UOL EleiçõesUOL Eleições

14/07/2006 - 20h29

ENTREVISTA: Lula acha que atual Congresso "não vota mais nada"

BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acredita que o atual Congresso não vai mais conseguir votar matérias importantes, que terão que ficar para os parlamentares que serão eleitos em outubro.

Líder nas pesquisas de intenção de voto, Lula ressaltou nesta sexta-feira que a eleição só começa a ser definida quando os candidatos tiverem acesso à TV, no dia 15 de agosto.

Veja a seguir os principais trechos da entrevista exclusiva do presidente à Reuters.

Reuters: O Brasil tem tido sucesso na área internacional? Tem tido mais sucesso internacional do que na Copa Mundial, o senhor está satisfeito com o status internacional do Brasil a nível mundial e a nível regional?

Presidente Lula: Eu penso que o Brasil conquistou, no mundo político e no mundo comercial, uma importância maior do que nós já tivemos em outros momentos, sobretudo depois da constituição do G20. Nós tínhamos uma determinação de governo de que era preciso trabalhar para mudar o cenário da geografia política e comercial do mundo porque o mundo estava muito viciado (...).

(...) Qual é a idéia que o Brasil tem sobre a OMC e sobre a Rodada de Doha? É que se nós não concluirmos um acordo, nós poderemos estar jogando fora os próximos 30 anos, no que diz respeito ao comércio exterior (...).

Eu estou viajando agora para o G8 com boas expectativas, eu acho que há sensibilidade para que a gente consiga avançar um pouco (...). Então, eu penso que as coisas estão melhorando a nível internacional. Nós não ganhamos nada, e talvez o objetivo não seja ganhar, talvez o objetivo seja criar as condições para os mais necessitados ganharem, porque na agricultura o Brasil é competitivo.

Reuters: Mas o senhor está indo com uma medida específica para que o Brasil possa liderar nesse processo, em termos de mostrar o sacrifício? O senhor vai mostrar uma medida que possa quebrar o entrave da negociação?

Lula: Eu preciso dizer apenas que o Brasil está disposto a flexibilizar na questão industrial e na questão de serviços (...)

Nós temos um número. Nós temos um número e certamente cada país tem o seu número. Eu acho que ninguém teve coragem de falar agora, porque os números colocados na mesa até agora não contemplam nenhuma parte (...). O que eu proponho aos líderes, é que a gente ponha tudo na mesa de uma vez (...).

Reuters: O senhor tem essa coragem, Presidente?

Lula: Nós temos a disposição. Não é nem uma questão de coragem, é uma questão de oportunidade.

Eu trabalho com a certeza de que nós não estamos discutindo um problema econômico, nós estamos discutindo um problema político (...) eu acho que, politicamente, nós seremos julgados pela nossa passagem pelo governo, não se nós fizemos uma coisinha interna mais ou menos (...).

Se nós quisermos combater o terrorismo, se nós quisermos combater a imigração, nós temos que dar oportunidade para as pessoas sobreviverem. Esse é o desafio que está colocado para o século 21. É esse argumento que eu pretendo utilizar (...).

Reuters: Há muita conversa sobre o Bric --Brasil, Rússia, Índia e a China. Mas mesmo assim a Índia e a China praticamente atraíram muito mais investimentos e estão se desenvolvendo a uma taxa de crescimento muito mais rápida. Será que o Brasil realmente tem lugar nesse clube ou vai ficar separado?

Lula: (...) Em nenhum momento da história da economia brasileira nós tivemos um conjunto de fatores funcionando perfeitamente, em sintonia, e todos favoráveis. Eu vou dar um exemplo. A economia vai crescer 4 por cento este ano, nós estamos gerando mais de 102 mil empregos por mês, nós estamos aumentando a massa salarial, nós aumentamos o salário mínimo, nós aumentamos a política social, nós aumentamos o superávit de conta corrente, nós aumentamos o superávit comercial. Tudo isso sem deixar de lado a responsabilidade fiscal, cumprindo o nosso superávit de 4,25 por cento e com a inflação rigidamente controlada (...) Para nós, as bases para um novo ciclo de crescimento sustentável estão dadas.

Reuters: Há muita gente perguntando lá fora se um segundo mandato seria meramente uma continuação suave do primeiro mandato ou se haveria uma quebra, trazendo gente nova, novas políticas e uma abordagem completamente diferente com relação, principalmente, à economia.

Lula: Veja, o pessoal tem a mania de achar que nós temos, aqui no Brasil, uma política de ministros. Nós temos política de governo. A política econômica não era do ministro Palocci e não é do ministro Guido, a política econômica é do governo. Portanto, qualquer ministro que vier para o Ministério do Trabalho, para o Ministério da Fazenda, vai continuar cumprindo as determinações da política econômica do governo. Você pode melhorar porque você já tem quatro anos de experiência, quatro anos de maturação, porque tem muitos projetos em andamento no Brasil. (...) Então, não há por que mudar, há o que aperfeiçoar. Nós queremos reduzir mais os juros, nós queremos crescer um pouco mais, nós queremos gerar mais empregos, queremos melhorar a infra-estrutura do país e queremos fazer distribuição de renda e muito investimento em educação, que será a nossa prioridade para o próximo governo.

Reuters: Presidente, como é que o senhor vai governar sem o Congresso? Como é que o senhor vai construir as relações, as alianças que são necessárias para levar adiante uma dessas políticas, ou o senhor acha que pode haver uma paralisia?

Lula: Primeiro nós temos que esperar o resultado eleitoral para ver que tipo de Congresso será eleito. O Congresso, obviamente, tem suas formas próprias de funcionamento. O Congresso me criou problemas, mas também votou coisas importantes que nós queríamos que fossem votadas. (...) Quantas vezes um governo americano ganhou as eleições quando o presidente era republicano e a maioria era democrata e vice-versa? E eles governaram.