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24/06/2006 - 15h36

Lula é aclamado pelo PT e promete "prioridade aos mais pobres"

Ricardo Amaral e Natuza Nery
Em Brasília

Sérgio Lima/Folha Imagem - 24.jun.06

Presidente Lula na Convenção Nacional do PT

Presidente Lula na Convenção Nacional do PT

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu neste sábado a candidatura à reeleição, na convenção nacional do PT, com um discurso em que prometeu dar "prioridade aos mais pobres", combinando ao "desenvolvimento econômico com distribuição de renda", e apoio a uma reforma política.

"Hoje estou aqui para dizer a vocês que o sonho não acabou e a esperança não morreu", disse o presidente a cerca de três mil convencionais e convidados do PT, entre os quais cinco pessoas escolhidas entre beneficiários de programas sociais do governo.

"Decidi submeter humildemente meu nome e meu governo ao julgamento dos brasileiros", afirmou o presidente, num discurso de uma hora e meia, ao fim do qual foi aclamado pelos convencionais.

Favorito em todas as pesquisas, que indicam sua reeleição no primeiro turno", Lula disse que a eleição não está decidida. "Não tem já ganhou, não tem eleição garantida no primeiro turno", advertiu o presidente aos petistas.

Lula apresentou o vice-presidente José Alencar como companheiro de chapa, mais uma vez, e recebeu apoio não oficial do PCdoB (que deve se coligar nacionalmente ao PT), do PSB e de dirigentes do PMDB, além do PTB. Lula admitiu que seu primeiro governo teve erros, mas, sem se referir diretamente ao mensalão, disse que os escândalos só foram conhecidos porque ele "combateu e puniu a corrupção como nenhum outro".

"Vamos enfrentar ódios, preconceitos e inveja, companheiro José Alencar", disse Lula ao anunciar o vice. "E vamos demonstrar paz, humildade e muito amor ao povo brasileiro."

No discurso oficial, que ele leu pela primeira vez na tela de cristal de um moderno teleprompter, Lula prometeu continuidade do processo de mudanças" e não apresentou nenhum novo projeto para o segundo mandato, nem mesmo sobre problemas que destacou no discurso, como reforma agrária, reforma urbana e segurança pública.

Diferentemente da convenção de 2002, o lançamento da candidatura Lula à reeleição dispensou efeitos especiais e o glamour típico das produções para a TV. Os grandes painéis, reproduzindo dados das pesquisas de intenção de voto, diziam: "Lula de novo, com a força do povo."

"Vozes do passado"
Lula prometeu continuar honrando os contratos e compromissos internos e manter os fundamentos da política econômica.

"Mas nosso compromisso mais especial continuará sendo com o povo brasileiro", ressaltou. "A síntese de nosso possível segundo governo será a distribuição de renda para que haja crescimento acelerado com a estabilidade e responsabilidade fiscal", prometeu.

Lula disse que a reforma política, especialmente a fidelidade partidária, "é fundamental para as demais reformas" e defendeu a redução de "desperdícios na máquina pública, especialmente na Previdência Social".

Lula criticou a oposição e o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), sem citá-lo diretamente. Ele disse que herdou "o Brasil à beira da falência" e conseguiu recuperar a economia e a credibilidade interna e externa do país.

"As vozes do passado estão de volta e, como não têm uma boa obra no passado e nem propostas para o futuro, fazem da agressão e da calúnia suas principais armas", disse Lula. Na última semana, em programas partidários de televisão, PFL e PPS, aliados do candidato presidencial do PSDB, Geraldo Alckmin, recordaram o escândalo que levou a Procuradoria Geral da República a denunciar 40 pessoas por corrupção, incluindo o ex-ministro José Dirceu e o ex-presidente do PT José Genoino.

"Nas praças e nas fábricas o povo está dizendo que não os quer de volta, mas eles nunca escutaram a voz do povo", disse Lula, acusando o governo tucano de ter "promovido o sucateamento da infra-estruturas do país, o desemprego e a queda da auto-estima dos brasileiros."

"Por mais que nos provoquem não usaremos os mesmos métodos, pois temos armas limpas e poderosas", prosseguiu, antes de fazer comparações com o governo anterior favoráveis ao atual, na economia, na geração de empregos e na área social.

"Sem esmola"
Lula mencionou, entre outros programas, o crédito para a agricultura familiar, o ProUni (bolsas de estudos em faculdades particulares), o Luz Para Todos (eletrificação rural), e o Bolsa Família, para prometer que aumentará os investimentos sociais.

"Não estamos dando esmola, estamos transferindo renda", disse Lula.

O presidente advertiu o PT para a necessidade de "conviver com a divergência", e defendeu o partido e o governo das acusações de corrupção sistêmica.

"Nunca enfrentamos uma crise como a que se abateu sobre nós ao longo do ano passado", disse Lula. "Nossos adversários tentaram se aproveitar de algumas situações para passar a falsa idéia de que nosso governo compactuava com atos ilícitos", disse Lula

"Mas a sociedade entendeu o que se passou e sabe que, se determinados fatos afloraram, foi porque este governo foi o que mais apurou e puniu a corrupção em toda a história", afirmou.

"Inexperiência"
Lula admitiu ter cometido erros no primeiro mandato, por inexperiência e por dificuldades políticas, mas prometeu "corrigir o que está errado e melhorar o está dando certo" em um segundo mandato.

"Se com a inexperiência que tínhamos e a tormenta política que enfrentamos, conseguimos recuperar o Brasil, imaginem o que não poderemos fazer com mais experiência e pleno conhecimento da máquina?" indagou.

"Não quero posar de vítima ou de herói, quero apenas honrar a confiança do povo brasileiro, terminar meu governo em paz e, se os brasileiros quiserem, continuar aprofundando o processo de mudanças", afirmou Lula.

"Quero fazer um governo que amplie o compromisso com os pobres, pois o melhor caminho para servir melhor a todos é atender primeiro os que mais necessitam", conclui o presidente.