UOL EleiçõesUOL Eleições

Um terço dos governadores eleitos são milionários

Marcelo Gutierres, Larissa Morais e
Larissa Guimarães

Da Redação, em São Paulo


Levantamento feito pelo UOL aponta que um terço dos governadores eleitos nestas eleições é de milionários, segundo informações prestadas por eles ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Dos 27 políticos eleitos, nove apresentaram declaração de bens com montante igual ou maior a R$ 1 milhão. Os dados foram coletados junto ao site "Políticos do Brasil", do jornalista Fernando Rodrigues.

Liana/Arte UOL

Conhecido como o "rei da soja", Blairo Maggi (PPS), reeleito em Mato Grosso, é o "mais rico" entre os governadores. Sua declaração de bens enviada ao TSE aponta o valor de R$ 33.444.394,07. O montante refere-se a participações em empresas, imóveis, automóveis e empréstimos concedidos, entre outros.

O título de "mais pobre" fica com o governador reeleito no Amapá, Waldez Góes (PDT). O valor declarado foi de R$ 13.521,78. Ele estimou sua casa em R$ 3,1 mil e um carro no valor aproximado de R$ 6,5 mil. A diferença patrimonial entre ele e o primeiro colocado é próxima de 248.000%.

Para Claudio Couto, professor de ciência política da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), quem tem mais recursos "larga na frente" na corrida eleitoral. Segundo o cientista, isso aplica-se tanto às eleições legislativas quanto à disputa do Executivo.

"Quem tem tantos recursos tem meios para investir na carreira política, ou seja, quem é milionário tem potencialmente tempo livre e recursos para bancar uma estrutura de promoção da sua própria liderança", afirma Couto.

Couto diz não ter dúvidas de que a candidatura de políticos com fortes ligações a setores econômicos possa representar interesses específicos. Ele cita o apoio de Blairo Maggi (PPS-MT) a Lula no segundo turno, contrariando a orientação do seu partido.

Maggi anunciou apoio ao petista no mesmo momento em que houve liberação federal de R$ 1 bilhão para produtores de soja. "Não creio que seja possível separar a figura do Maggi do setor do qual ele é oriundo, sendo tão notável a sua atuação, ainda como governador, junto ao agronegócio", afirma o cientista.

"Clube do milhão"
O segundo na lista dos milionários é um colega de partido de Baggi. Reeleito em Rondônia em meio a uma série de denúncias de corrupção, Ivo Cassol disse ter R$ 15.407.510,40. Cassol atua com empresário no setor de energia elétrica.

Ele é seguido de perto pelo novo governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho (PSDB), com R$ 14.489.175,69 declarados. Cerca de dois terços desse valor (R$ 10.925.351) são referentes a ações da Usina Serestas, o que o faz ser apontado como um representante dos usineiros no Estado pelos seus opositores.

Outros seis governantes integram o "clube do milhão": Eduardo Braga (PMDB-AM), com R$ 4.180.951,33; André Puccinelli (PMDB-MS), com R$ 2.376.655,78; Roberto Requião (PMDB-PR), com R$ 1.406.541,14; Paulo Hartung (PMDB-ES), com R$ 1.312.449,38; Marcelo Miranda (PMDB-TO), com R$ 1.287.758,91; e Wilma de Faria (PSB-RN), com R$ 1.210.694,36.

Acompanha o governador do Amapá, Waldez Góes, nas últimas posições, a petista Ana Júlia, eleita no Pará. Ela declarou R$ 38 mil, referentes a um carro ano 2003. O antepenúltimo é o petista Marcelo Déda (SE), com R$ 248.042,50, cujo maior bem relatado é um apartamento de R$ 189,5 mil.

Partidos
O partido com maior número de governadores milionários é o PMDB, com cinco representantes. O segundo é o PPS, com os dois primeiros colocados, seguido pelo PSDB e PSB, com um político em cada legenda.

Entre os governadores do PT, o representante mais bem colocado da sigla é o governador eleito na Bahia, Jaques Wagner, cuja carreira política foi construída no movimento sindical. Ele afirmou possuir R$ 690.034,03, sendo R$ 344.579,03 investidos no sistema financeiro.

No intervalo abaixo de R$ 1 milhão e acima de R$ 500 mil há dez governadores, com predomínio do PSDB, com quatro nomes. O "líder" desse grupo é o tucano José Serra, novo governador de São Paulo e nome forte para concorrer à Presidência em 2010. Sua declaração é de R$ 872.893,62, sendo R$ 240 mil investidos em três salas comerciais na capital paulista.

Cássio Cunha Lima (PSDB), que obteve o segundo mandato na Paraíba, precisaria de pouco menos do que mil reais para integrar o grupo do "meio milhão". A soma de patrimônio declarado é de R$ 499.036,03.

Socialismo endinheirado
Com origens no velho Partido Comunista do Brasil (PCB), criado em 1922, o Partido Popular Socialista prega um socialismo "humanista" por dentro do capitalismo, mas tem os governadores eleitos mais ricos do país. A média do patrimônio de Blairo Maggi (MT) e Ivo Cassol (RO) -R$ 24,5 milhões- é oito vezes maior que a média do dos 27 governadores eleitos -R$ 3,1 milhões.

Do passado de militantes assalariados e sem recursos restou pouco. O partido que apoiou informalmente o "neoliberal" Geraldo Alckmin (PSDB) tem em suas fileiras o maior produtor individual de soja do mundo, o governador reeleito de Mato Grosso, Blairo Maggi.

Segundo o deputado federal Roberto Freire, presidente nacional do PPS, é irrelevante para o partido se o candidato é pobre ou rico. "Levamos em consideração o caráter", diz. O dirigente argumenta que Maggi e Cassol ganharam dinheiro na iniciativa privada. "É muito mais grave enriquecer com dinheiro público", afirma.

Cassol e Maggi podem ser chamados de "novos socialistas". O governador reeleito de Rondônia filiou-se ao PPS em 2005, para evitar que fosse expulso do PSDB por acusações de fraudes quando foi prefeito de Rolim de Moura. Já o produtor de soja começou na política apenas em 2002, quando se candidatou ao governo de Mato Grosso.

Blairo Maggi declarou patrimônio de R$ 33.444.394,07 ao TSE. Com menos da metade, R$ 15.407.510,40, Ivo Cassol é o segundo colocado no ranking dos 27 governadores. O ex-tucano é dono do grupo Cassol, que explora madeira e usinas de eletricidade de pequeno porte.
Fortuna com o agronegócio
O governador reeleito de Mato Grosso, Blairo Maggi (PPS), será o chefe de governo estadual mais rico do país em 2007. Declarou patrimônio de R$ 33.444.394,07 ao TSE.

A declaração de Maggi ao TSE tem 78 itens, entre aplicações financeiras, veículos, imóveis rurais e urbanos, participação em empresas, cotas de clubes etc. Entre os seis carros estão dois veículos BMW ano 2005.

O maior bem declarado do governador é a participação com 9,91% no capital social da empresa André Maggi Participações Ltda, de pouco mais de R$ 10,5 milhões.

Maggi elegeu-se em 2002 e 2006 pelo PPS, mas pode deixar o partido. A direção abriu em 31 de outubro processo para expulsá-lo. O presidente da sigla, Roberto Freire, acusa o governador de ter declarado apoio a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno em troca da liberação de R$ 1 bilhão para produtores de soja.

Blairo Borges Maggi, 50, é o maior produtor individual de soja do mundo, além de ser o exemplo bem-sucedido do setor econômico mais próspero do país, o agronegócio. Engenheiro agrônomo, empresário e presidente do Grupo Amaggi, o governador chegou a Mato Grosso há 26 anos, para plantar soja em Itiquira.

Maggi cresceu em uma pequena propriedade rural com os pais e quatro irmãs, em São Miguel do Iguaçu, no oeste do Paraná. O pai apostou em uma serralheria, mas o filho era alérgico a pó de serragem. Em 1969, aos 13 anos, Blairo começou a plantar soja na fazenda do patriarca André.

Assim que terminou a faculdade de agronomia na Universidade Federal do Paraná, em 1981, Maggi foi com a família para Rondonópolis (MT). Após viajar a diversos países para descobrir os segredos da produção agrícola em grande escala, o governador iniciou fortuna investindo no potencial do cerrado brasileiro.

Maggi começou na política em 2002, quando candidatou-se ao governo estadual e foi eleito ainda no primeiro turno. Desde então, tem procurado delegar funções da empresa a membros da família.

O empresário ganhou em 2005 o "Motosserra de Ouro", um prêmio irônico concedido pela ONG Greenpeace ao suposto maior responsável pelo desmatamento da floresta amazônica. Ele nega ter promovido desmatamento.

O grupo Amaggi é o maior produtor e exportador de soja do país, além de ter negócios em outras áreas, como logística de transportes, pecuária e produção de energia elétrica. Em 2003, o grupo possuía 162 mil hectares, colheita de 550 mil toneladas de grãos e faturamento de US$ 550 milhões.
Brizolistas declaram menor patrimônio
O partido fundado por Leonel Brizola passou longe da lista dos nove milionários eleitos governadores. O PDT -que adotou o slogan "o partido das mãos limpas" durante as eleições- tem os governadores menos abastados, segundo a declaração de bens prestada pelos candidatos ao TSE. A média do patrimônio dos eleitos pela sigla chega a R$ 210,5 mil, enquanto a média patrimonial entre os 27 governadores ficou em R$ 3,1 milhões. O partido conseguiu emplacar dois governadores nestas eleições. No Estado do Amapá, Waldez Góes reelegeu-se para mais quatro anos. No Maranhão, Jackson Lago teve vitória surpreendente, derrotando Roseana Sarney (PFL).

"Isso traduz um pouco o que é o partido. O PDT é um partido popular, sem estrutura de poder, com marca de seriedade", diz Carlos Lupi, presidente nacional da sigla.

Os dois políticos traçaram longa carreira na política, dentro do partido, de acordo com Lupi. Tanto Lago como Góes têm mais de 20 anos de filiação partidária. "Isso não quer dizer que os eleitos que têm patrimônio alto não sejam sérios. [O político] pode ganhar o dinheiro por uma herança ou como produto do trabalho mesmo", afirma.

Waldez Góes é o governador com menor patrimônio declarado -pouco mais de R$ 13,5 mil. O valor compreende um modelo Saveiro, ano 1996, uma casa residencial (de valor declarado de pouco mais de R$ 3 mil), uma linha telefônica celular, um terreno em área urbana e uma linha telefônica convencional. O governador reeleito foi servidor público por 11 anos e exerceu dois mandatos como deputado estadual, além do cargo de governador.

O médico Jackson Lago, 72 anos, é 21º no ranking patrimonial dos governadores eleitos. Lago declarou cerca de R$ 407,6 mil em bens. Na lista, consta um apartamento em Ponta de Areia, uma casa residencial na capital São Luís, ações e cadernetas de poupança, além de um Vectra, ano 1997.
Patrimônio mirrado na vida pública
A carreira na política e no funcionalismo público rendeu patrimônio mirrado ao governador reeleito Waldez Góes (PDT), de acordo com a declaração de bens do político. Na lista de milionários eleitos, Waldez Góes, 44, foi o governador com menor patrimônio declarado. A soma de todos os seus bens chega a pouco mais de R$ 13,5 mil. O primeiro do ranking, o governador reeleito Blairo Maggi (PPS), tem patrimônio declarado 2.480 vezes maior.

A soma de R$ 13.521,78 compreende uma Saveiro, ano 1996, uma casa residencial (com valor declarado de pouco mais de R$ 3 mil), uma linha telefônica celular, um terreno em área urbana e uma linha telefônica convencional.

Embora com menos de R$ 14 mil declarados, Góes exerceu diversos cargos na política. O governador começou a vida política em 1990, quando elegeu-se deputado estadual aos 29 anos, pelo PDT. Foi um dos primeiros a entrar na sigla de Brizola no Amapá –o partido foi fundado em 1985 no Estado.

Nas eleições de 1994, conseguiu reeleger-se deputado estadual, mas perdeu a disputa para o governo do Estado em 1998. No entanto, ficou pouco tempo afastado do poder. Tornou-se assessor do então governador do Rio Anthony Garotinho (PMDB) de 1999 a 2001.

"Não sei quanto ele declara de patrimônio. Mas se ele declarou isso, é isso mesmo", defendeu Carlos Lupi, presidente nacional do PDT.

Filho de seringueiro, Waldez Góes deixou sua cidade natal Jaburu dos Alegres (AP) ainda criança e passou a morar na capital do Estado, Macapá. Antes de entrar na política, Góes foi servidor público federal e trabalhou como técnico agrícola em órgãos públicos ligados à atividade rural por 11 anos.
Estado Governador Partido Bens declarados (em R$)
MT Blairo Maggi PPS 33.444.394,07
RO Ivo Cassol PPS 15.407.510,40
AL Teotônio Vilela PSDB 14.489.175,69
AM Eduardo Braga PMDB 4.180.951,33
MS André Puccinelli PMDB 2.376.655,78
PR Roberto Requião PMDB 1.406.541,14
ES Paulo Hartung PMDB 1.312.449,38
TO Marcelo Miranda PMDB 1.287.758,91
RN Wilma Faria PSB 1.210.694,36
SP José Serra PSDB 872.893,62
MG Aécio Neves PSDB 831.800,53
RR Ottomar Pinto PSDB 709.136,06
BA Jaques Wagner PT 690.034,03
RS Yeda Crusius PSDB 674.400,00
RJ Sérgio Cabral PMDB 647.875,61
DF Jose Roberto Arruda PFL 598.076,98
SC Luiz Henrique da Silveira PMDB 589.504,64
PE Eduardo Campos PSB 557.471,77
CE Cid Gomes PSB 510.080,50
PB Cássio Cunha Lima PSDB 499.036,03
MA Jackson Lago PDT 407.650,26
AC Binho Marques PT 329.377,00
GO Alcides Rodrigues PP 309.919,27
PI Wellington Dias PT 272.591,01
SE Marcelo Déda PT 248.042,50
PA Ana Julia PT 38.000,00
AP Waldez Góes PDT 13.521,78







É muito mais grave enriquecer com dinheiro público

Roberto Freire, presidente nacional do PPS

Isso não quer dizer que os eleitos que têm patrimônio alto não sejam sérios. [O político] pode ganhar o dinheiro por uma herança ou como produto do trabalho mesmo

Carlos Lupi, presidente nacional do PDT

R$ 33,44 milhões

é o patrimônio declarado pelo governador reeleito Blairo Maggi (PPS) ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o maior valor entre os eleitos

R$ 13.521,78

é o valor total da declaração de bens do governador reeleito no Amapá, Waldez Góes (PDT), a menor soma entre os eleitos

248.000%

é a diferença patrimonial entre Blairo Maggi (PPS), do Mato Grosso, e Waldez Góes (PDT), do Amapá, no ranking de bens declarados