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Lula

(PT)

Alckmin

(PSDB)

Nome: Luiz Inácio Lula da Silva
Nascimento: 27/10/1945, em Caetés, à época distrito de Garanhuns (PE)
Formação profissional: metalúrgico e líder sindical
Mandatos: deputado federal (1986-1990) e presidente (2003-2006)
Hobbies: jogar futebol, assistir à TV, ler biografias

Lula enfrenta Alckmin
no segundo turno

Cris Gutkoski
Da Redação, em São Paulo

Favorito para vencer a disputa até poucos dias atrás, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrenta Geraldo Alckmin (PSDB) na segunda etapa, em 29 de outubro. Pesquisa Datafolha prevê uma situação próxima do empate técnico para o segundo turno: Lula tem 49%, contra 44% de Alckmin.

Lula começou a perder votos em setembro, quando o escândalo da compra de um dossiê por assessores petistas presos pela Polícia Federal foi explorado à exaustão pelos oposicionistas.

Como um refrão repetido a várias vozes, a pergunta “de onde saiu R$ 1,7 milhão para comprar o dossiê?” tomou conta de um embate desprovido de projetos de governo. “Esta campanha foi de um vazio sem precedente”, escreveu o colunista Janio de Freitas, na quinta-feira. Os principais adversários não se confrontaram. Lula se submeteu a duras entrevistas ao vivo em emissoras de TV, mas não foi aos três debates realizados.

Desacreditado até por aliados, mas dono de uma persistência notável, Alckmin cresceu na faixa de 5 a 10 salários mínimos e disparou na Região Sul.

Nome: Geraldo José Rodrigues Alckmin Filho
Nascimento: 07/11/52 - Pindamonhangaba-SP
Formação profissional: médico
Mandatos: vereador (72-76) e prefeito (77-80) de Pinda; dep. estadual (83-86), dep. federal (86-94), vice-governador (94-01) e governador - SP (01-06)
Hobbies: sudoku (jogo de lógica japonês)

Lula

Em sua quinta campanha para presidente, Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta o segundo turno pela terceira vez. Foi derrotado em 1989 por Fernando Collor (PRN) e venceu José Serra (PSDB) em 2002, com 61,3% dos votos válidos. Lula perdeu para Fernando Henrique Cardoso (PSDB) ainda no primeiro turno em 1994 e 1998.

É a primeira campanha do petista como presidente e candidato à reeleição, a primeira vez que pode falar do que fez e não apenas do que faria se eleito. Mas a divulgação das obras e conquistas do mandato de Lula foi sendo soterrada desde meados de 2005 pelas denúncias de corrupção e afastamento de assessores diletos no governo e no comando do PT. Na reta final, Lula perdeu até o coordenador da campanha, Ricardo Berzoini, devido ao escândalo do dossiê.

As realizações do governo ficaram restritas à propaganda gratuita no rádio e TV, cuja audiência é baixa. Sozinho no cenário, com o mapa-múndi ao fundo (o presidente visitou 48 países e 139 cidades de 25 Estados, nos três primeiros anos), Lula procurou destacar a combinação de desenvolvimento econômico com inclusão social.

"A verdade nua e crua é que nós conseguimos, com muita humildade, desmoralizar aqueles que nós sucedemos, aqueles que pensavam que sabiam tudo", disse o presidente em comício em São Bernardo do Campo, na última quinta-feira. Na mesma hora, ele era duramente criticado por Geraldo Alckmin, Heloísa Helena e Cristovam Buarque por se ausentar do debate na Rede Globo.

A frase de Lula no seu berço político sintetiza uma das razões da prolongada preferência do eleitorado pela sua candidatura. O seu governo teve desempenhos melhores do que o de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em diversas áreas, como geração de empregos, habitação, exportações, microcrédito, programas de assistência social (o Bolsa-Família atinge cerca de 11 milhões de famílias) e acesso de estudantes carentes a universidades privadas.

Segundo o Ministério do Trabalho, até dezembro deste ano terão sido criadas 4,8 milhões de vagas com carteira assinada desde a posse. É metade do que Lula prometeu na campanha de 2002, mas significa, em quatro anos, seis vezes mais do que as vagas criadas por FHC em oito anos.

Frases

“Todos esses casos (de corrupção) começaram antes de 2000. O lixo estava embaixo do tapete.”

Luiz Inácio Lula da Silva


“Eu vou até o final com as sandálias da humildade. A ética vai vencer a corrupção”.

Geraldo Alckmin

PROMESSAS DE LULA

Ampliar as políticas sociais, em especial o Bolsa Família; acelerar o crescimento da economia, com preços estabilizados, equilíbrio fiscal, redução da vulnerabilidade externa e das taxas de juros; na educação, instituir o Piso Salarial Profissional, a partir da aprovação do Fundeb, e redefinir a docência por meio de diretrizes de carreira; dar continuidade ao Prouni, com criação de novas universidades; privilegiar o processo de integração sul-americana, o Mercosul e a Comunidade Sul-americana de Nações, e fortalecer as relações Sul-Sul, com ênfase nas relações com os países do continente africano.

PROMESSAS DE ALCKMIN

Crescimento econômico induzido por corte de impostos e ajuste no câmbio; choque de gestão com enxugamento da máquina administrativa; ampliar o Bolsa-Família e aumentar a fiscalização da assistência social; Plano Nacional de Desenvolvimento com ênfase em investimentos em estradas e ferrovias, saneamento básico, habitação e urbanização de favelas.

Alckmin

Chegar ao segundo turno numa eleição considerada liquidada até poucos dias atrás é a segunda grande conquista de Geraldo Alckmin neste ano. A primeira foi se impor a José Serra na briga pela indicação do nome do PSDB para disputar a Presidência. No final de março, Alckmin foi ungido o candidato da oposição para derrotar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Estanque em cerca de 20% dos votos, passou cinco meses, de abril a agosto, desacreditado pelos próprios aliados.

As pesquisas que por várias rodadas sinalizaram a reeleição de Lula ainda em primeiro turno acabaram protegendo o tucano contra ataques diretos ao seu desempenho em cargos anteriores. Apenas na reta final, após o escândalo do dossiê, a propaganda gratuita de Lula fez referência, na voz do apresentador, à grave crise na segurança em São Paulo e ao engavetamento de dezenas de CPIs (comissões parlamentares de inquérito) na Assembléia Legislativa durante a administração do PSDB e PFL.

Numa campanha sem discussão de planos de governo, tomada por bordões no campo da ética, as críticas mais duras a Alckmin partiram não de candidatos adversários, mas de jornalistas. "As platitudes do candidato Alckmin fazem do conselheiro Acácio um James Joyce", escreveu Elio Gaspari em agosto, citado um personagem de Eça de Queirós que faz a maior pose para dizer as maiores obviedades. "Recita meia dúzia de números e supõe ter mostrado preparo para discutir a questão".

Inabalável em sua certeza de chegar ao segundo turno, Alckmin visitou as 27 unidades da federação. Montou jegue vestido de vaqueiro, assistiu a corrida de jumento, viu preparar tapioca em casa de prefeito, tudo isso no Nordeste, onde Lula tem larga vantagem. Na Bahia, com apoio de Antonio Carlos Magalhães, conseguiu reunir dezenas de prefeitos. Foi a Minas Gerais capitalizar o favoritismo do tucano Aécio Neves diversas vezes. E não precisou de muito esforço para abrir vantagem sobre Lula na populosa Região Sul, onde os Estados dispõem de um PMDB forte e o eleitorado dos últimos anos vem manifestando um antipetismo militante.

Desde 1972, Alckmin venceu oito eleições, duas delas como candidato a vice-governador.
O primeiro mandato de Lula teve seu pico de avaliação positiva em agosto de 2006, com 52% de "ótimo/bom", um recorde histórico do Datafolha. O pior momento foi o final de 2005, ano da instalação de CPIs para investigar denúncias de corrupção, quando a avaliação "ruim/péssimo" chegou a 29%.

Antes de retornar para Brasília, no domingo, Lula permaneceu por três dias em São Bernardo do Campo. Foi buscar ânimo e carinho entre os moradores da cidade que o viu crescer como operário, nos anos 60, como líder sindical, nos anos 70, e como político, a partir da fundação do PT, em 1980.

Lula concorreu uma só vez para governador, de São Paulo, em 1982. O primeiro mandato, como deputado federal, foi conquistado em 1986, depois de fundar a CUT e de integrar o movimento pelas Diretas-Já. Nascido em Pernambuco, foi o 39º brasileiro a ocupar o cargo de presidente e o primeiro civil a chegar lá sem diploma de curso superior. Teve a primeira carteira de trabalho assinada na adolescência, e fez biscates para sustentar a família desde criança.

"Eu só espero que o povo coloque na urna o seu desejo, o seu sonho e a sua força para que a gente possa consolidar as mudanças que o país precisa fazer", declarou ao votar em São Bernardo.
Perdeu a disputa para prefeito de São Paulo, em 2000. Recuperou-se na eleição seguinte, em 2002, após a morte de Mario Covas. "O chuchu aqui fez 12 milhões de votos", ele se gabou durante a Sabatina da Folha, em 5 de setembro, quando a possibilidade de segundo turno era remota. Na data em que Lula se elegeu presidente, Alckmin se elegeu governador de São Paulo com 59% dos votos válidos, contra 41% do petista José Genoíno. Na mesma sabatina, ele lembrou que só ultrapassou Paulo Maluf na reta final do primeiro turno.

Na propaganda gratuita, a campanha destacou a formação de médico do ex-governador. No final da adolescência, aos 19 anos, Alckmin dava aulas em curso pré-vestibular em Pindamonhangaba, e essa atividade contribuiu para que se elegesse, pelo MDB, como o vereador mais votado. A medicina foi exercida por breve período, na especialidade da anestesiologia. Aos 24 anos, Alckmin conquistou o mandato de prefeito por uma vantagem de apenas 67 votos.

Se eleito presidente, será o primeiro paulista a ocupar o Palácio do Planalto nos últimos cem anos, sucedendo um pernambucano, dois cariocas, um mineiro, um maranhense. O paulista anterior foi Rodrigues Alves, de 1902 a 1906.