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Cinco mulheres, de 5 partidos, concorrem para governar os Estados

AS CANDIDATAS

David Alves

Ana Júlia (PT)
48 anos, bancária, apóia Lula

Divulgação

Denise Frossard (PPS)
55 anos, juíza, apóia Alckmin

Divulgação

Roseana Sarney (PFL)
53 anos, socióloga, apóia Lula

Ricardo Stuckert/Divulgação

Wilma Faria (PSB)
61 anos, professora, apóia Lula

Jefferson Bernardes/Divulgação

Yeda Crusius (PSDB)
62 anos, economista, apóia Alckmin

Larissa Morais, Larissa Guimarães e
Marcelo Gutierres

Da Redação, em São Paulo


No primeiro turno das eleições, nenhuma mulher foi eleita entre os 17 governadores. Em compensação, nos dez Estados onde haverá segundo turno, existem cinco candidatas de diferentes partidos – PT, PSDB, PPS, PFL e PSB. Para Lúcia Avelar, cientista política da Universidade de Brasília, o quadro não é fruto do acaso. “Todas as candidatas possuem nomes já conhecidos e legitimados no cenário político”, diz.

Concorrem para governadora Denise Frossard (PPS), no Rio; Yeda Crusius (PSDB), no Rio Grande do Sul; Ana Júlia (PT), no Pará; Roseana Sarney (PFL), no Maranhão, e Wilma Faria (PSB), no Rio Grande do Norte.

Em 2002, foram eleitas apenas duas governadoras, Rosinha Garotinho, no Rio, e Wilma Faria. Na época, ambas estavam no PSB. Nestas eleições, apenas 12,68% das candidaturas aos governos estaduais foram representadas por mulheres. Houve em 2006 um pequeno aumento em relação a 2002, quando 9,85% das candidaturas eram femininas. Segundo a socióloga Almira Rodrigues, pesquisadora do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFEMEA), o desempenho em relação ao número de candidaturas foi melhor nos demais cargos majoritários – Presidência e Senado.

Ainda que as mulheres tenham disputado todos os cargos nestas eleições, a representatividade feminina na política segue muito aquém do ideal. O Brasil ficou em 107º lugar em um ranking divulgado em março deste ano sobre a porcentagem de mulheres nas câmaras de deputados de 187 países.

Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, existem 4 milhões de mulheres eleitoras a mais do que os homens aptos a votar. Ainda assim, das 513 cadeiras da Câmara dos Deputados, apenas 8,77% serão ocupadas por mulheres a partir de 2007. No Senado, entre 81 senadores, 15% serão senadoras.

A participação das mulheres na política cresce lentamente, mesmo após o sistema de cotas, adotado no Brasil desde 1997. A legislação determina que cada partido ou coligação deve reservar um mínimo de 30% de suas candidaturas para mulheres, mas não estabelece punição para quem não cumprir.

Em setembro, o jornal Correio Braziliense encomendou uma pesquisa sobre a mulher na política. O levantamento descobriu que 66% dos entrevistados nunca votaram em uma mulher, apesar de considerar que as candidatas são mais éticas e mais sensíveis a questões sociais como saúde, educação e direitos humanos.

Para reverter a baixa participação feminina, Almira Rodrigues sugere modificações para uma futura reforma política – estender as cotas para o Executivo e o Judiciário, e estabelecer cotas de cadeiras e não de candidaturas, o que seria atingido por lista fechada dos partidos com alternância de sexos e votação exclusivamente na legenda. Outras medidas seriam campanhas do TSE, cotas nas direções dos partidos e destinar recursos do fundo partidário às mulheres.

A trajetória das mulheres que chegam à política é motivo de polêmica entre os estudiosos. Para Lúcia Avelar, o caso da senadora Roseana Sarney (PFL) confirma o poder das oligarquias regionais. Almira Rodrigues discorda e diz que a filha do senador reeleito José Sarney (PMDB) apoiou pontos da plataforma feminista no Congresso. “Há homens que também fazem o mesmo percurso de mulheres como ela”, afirma.

Segundo Lúcia, apenas Yeda Crusius (PSDB) e Denise Frossard (PPS) “fizeram carreira por elas mesmas”. Roseana e a governadora Wilma Faria (PSB) teriam alcançado projeção na política porque têm origem nas oligarquias do Nordeste.

Outra discussão recorrente é o comportamento da mulher que decide ingressar em um ambiente majoritariamente masculino. A postura contundente da juíza Denise Frossard, por exemplo, foge do estereótipo da mulher delicada. “É preciso que a mulher cultive a diversidade, e Denise não está recebendo o modelo masculino passivamente”, diz Almira.
Como muitas mulheres que entraram na política, a candidata ao governo do Pará pelo PT, a senadora Ana Júlia Carepa, 48, teve a figura do pai como exemplo. O engenheiro civil Arthur Sampaio Carepa, pai de Júlia, foi secretário de Obras no governo de Aurélio do Carmo (1961-1964) no Pará e só não se candidatou a deputado porque seus direitos políticos foram cassados sob a acusação de ser “comunista”. Dos sete filhos do engenheiro, Ana Júlia é a única mulher.

Ana Júlia começou na política ainda na universidade, no centro acadêmico de Arquitetura da UFPA (Universidade Federal do Pará). Mas foi a atuação sindical que levou a petista a conquistar espaço. Em 1983, foi aprovada no concurso do Banco do Brasil e participou do MOB (Movimento de Oposição Bancária). Dois anos depois, foi eleita representante do Pará no Conselho Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil, no auge do sindicalismo.

O primeiro cargo foi como vereadora, em 1992. Três anos depois, Ana Júlia deu um passo maior e elegeu-se deputada federal. Na Câmara, foi uma das responsáveis pela campanha “Mulher sem medo do poder”, que garantiu cotas mínimas de candidatas mulheres para todos os partidos.

Em 2002, Ana Júlia elegeu-se como a primeira senadora pelo Pará, com votação expressiva. Agora, tenta desbancar o favoritismo de Almir Gabriel (PSDB). No primeiro turno, o tucano teve 43,83% dos votos, enquanto ela ficou com 37,52%.
A deputada federal Denise Frossard Loschi, 55, saiu do terceiro lugar na reta final da campanha e chegou ao segundo turno no Rio de Janeiro com 23,78% dos votos válidos, contra 41,42% de Sérgio Cabral (PMDB).

A ex-juíza ganhou maior projeção no ano passado, graças às ácidas críticas ao PT e ao presidente Lula na CPI dos Correios. Mas a candidata já havia alcançado notoriedade quando condenou toda a cúpula do jogo do bicho fluminense em 1993. Nove anos depois, um ex-policial contou ao 4º Tribunal do Júri do Rio que receberia R$ 1 milhão de um bicheiro para executar a juíza.

Assim que se aposentou, em 1998, Frossard candidatou-se ao Senado pelo PPS, sem sucesso - teve cerca de 635 mil votos. Em 2002, foi eleita deputada federal pelo PSDB com a maior votação do Rio, quase 400 mil votos. Ex-comunista, a candidata denomina-se uma “conservadora esclarecida”.

A mudança para o PPS aconteceu em 2004, porque Frossard queria se candidatar à Prefeitura do Rio de Janeiro, mas o PSDB barrou a iniciativa.

A deputada é mineira, mas mudou-se para o Rio e lá completou o curso de direito na PUC (Pontifícia Universidade Católica), em 1976. Ingressou na magistratura em 1984.
A candidata ao governo do Maranhão pelo PFL, a senadora Roseana Sarney, 53, traz na identidade um brasão de peso. Filha do ex-presidente e senador reeleito José Sarney (PMDB-AP), Roseana contou com a força de seu sobrenome para entrar na política. A família tem ocupado os principais cargos na política do Maranhão há quatro décadas, recebendo votações expressivas e duras críticas da oposição.

Antes do primeiro cargo no Congresso, Roseana formou-se socióloga e estudou inglês e francês na Suíça. O primeiro passo na política foi o trabalho como chefe de gabinete do pai, José Sarney, no Senado. Entre 1983 e 1984, foi secretária extraordinária do governo do Maranhão em Brasília.

Em 1989, Roseana lançou-se candidata a deputada federal do Maranhão e foi a mais votada no Estado, com 44.785 votos. Cinco anos depois, a pefelista foi a primeira mulher a ser eleita governadora no Brasil. A primeira a governar um Estado foi Iolanda Fleming, em 1986, no Acre, para completar o mandato de Nabor Júnior.

Em 1998, foi reeleita governadora do Estado no primeiro turno, com mais de 66% dos votos, apesar das desavenças com a oposição, que a ligavam ao “continuísmo” e ao “atraso” do Estado. Nas eleições de 2002, após tentar uma candidatura à Presidência, Roseana elegeu-se senadora.
Wilma Maria de Faria, 61, foi a primeira mulher a tornar-se governadora do Rio Grande do Norte, em 2002.

De família tradicional, Wilma casou-se com Lavoisier Maia Sorinho, ex-governador potiguar [1979-1983], ex-senador e ex-deputado. Eles são separados. A candidata tenta se desvincular da imagem de pertencer às oligarquias que dominam o Estado.

Professora, mestre em educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, iniciou-se na vida política elegendo-se deputada federal em 1986. Por três vezes foi prefeita de Natal [1988, 1996 e 2000].

Em 2002, ela deixou a prefeitura para disputar o governo estadual. Wilma foi eleita com cerca de 60% dos votos. Na campanha deste ano, sofre fortes críticas da oposição. O Tribunal de Contas potiguar apontou desvios de R$ 3,6 milhões em fundação do Estado durante sua gestão. Ela nega as irregularidades.

A governadora tenta a reeleição pelo PSB, e disputa o segundo turno com o senador Garibaldi Filho (PMDB), que já governou o Estado por duas vezes. No primeiro turno, ela obteve 49,57% dos votos válidos e o senador, 48,6%, uma diferença de cerca de 15 mil votos apenas.
Yeda Rorato Crusius, 62, mãe de dois filhos e avó de quatro netos, surpreendeu ao chegar ao segundo turno no Rio Grande do Sul. A economista deixou para trás o governador e candidato à reeleição Germano Rigotto (PMDB) e, com 32,9% dos votos válidos, ficou na frente de Olívio Dutra (PT), com quem disputará o governo no dia 29. “Yeda tem um perfil ético que está desbancando lideranças antigas”, diz Lúcia Avelar.

Sem lideranças políticas na família, Yeda começou na política após obter reconhecimento na carreira acadêmica. Professora de economia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com mestrado nos Estados Unidos, a tucana recebeu um convite do presidente Itamar Franco, em 1993, para integrar o primeiro escalão.

Depois de ter comandado a Secretaria de Planejamento, Orçamento e Coordenação da Presidência da República, Yeda elegeu-se deputada federal em 1994. Este ano, esteve na lista dos 100 parlamentares mais influentes do Congresso Nacional.

Em 1996 e 2000, concorreu à Prefeitura de Porto Alegre, obtendo cerca de 20% dos votos válidos nas duas eleições.

A candidata tucana conseguiu romper o bloqueio que impede as mulheres de chegarem às direções dos partidos. Ingressou na Executiva Nacional do PSDB em 1995 e comandou o Secretariado Nacional da Mulher de 1998 a 2001. É a atual presidente do PSDB gaúcho.







Todas as candidatas possuem nomes já conhecidos e legitimados no cenário político

Lúcia Avelar, cientista política da Universidade de Brasília

É preciso que a mulher cultive a diversidade, e Denise (Frossard) não está recebendo o modelo masculino passivamente

Almira Rodrigues, socióloga e pesquisadora do Centro Feminista de Estudos e Assessoria

8%

Das 513 cadeiras da Câmara dos Deputados, apenas 8% (41) serão ocupadas por mulheres a partir de 2007. No Senado, a porcentagem é maior: das 81 vagas, 15% (12) serão ocupadas por senadoras.