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Alianças levam o Rio de Janeiro ao caos, diz Denise Frossard

Larissa Guimarães
Em São Paulo

Combativa, a deputada federal Denise Frossard (PPS), 56 anos, começou sua campanha ao governo do Rio de Janeiro afirmando que iria "derrubar" seu adversário Sérgio Cabral (PMDB). Conseguiu chegar ao segundo turno, desbancando Marcelo Crivella (PRB). Mesmo com desvantagem de até 28 pontos percentuais, segundo as pesquisas de intenção de voto, Frossard mantém a candidatura firme e diz que "joga o jogo". "Se eu comentasse (pesquisa) eu não estaria nem no segundo turno. Eu teria parado de jogar o jogo", afirmou, em entrevista ao UOL.

A ex-juíza não mede palavra para atacar o adversário Sérgio Cabral. Cobra a origem do patrimônio "tão vigoroso" do peemedebista e condena a aliança com a governadora Rosinha Garotinho e o ex-governador Anthony Garotinho, ambos do PMDB. "A situação do Rio de Janeiro é caótica, e ela é caótica por causa desse arco de alianças", ataca.

As críticas a Cabral não param nesses dois pontos. Denise acusa o peemedebista de fazer uma campanha "milionária" e diz que as candidaturas e a forma de governar de ambos são "diametralmente opostas". "A minha (candidatura) é uma tentativa de ruptura dessa forma de governar, é uma ruptura do marco de poder", explica.

A ex-juíza diz que essa "ruptura" já ocorreu no Espírito Santo, com a eleição do peemedebista Paulo Hartung. Mas a candidata do PPS não enxerga a mesma situação na Bahia, onde o petista Jaques Wagner desbancou o candidato do senador Antônio Carlos Magalhães, Paulo Souto (PFL). "Na Bahia, eu estou distante. Eu não posso, não parei para analisar ainda", afirmou.

Denise evita mais polêmica quando o assunto é o presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB). Questionada sobre a postura do tucano na campanha, prefere não comentar. "Não estou interessada em fazer análises, não, porque esse não é o meu foco", desconversa.

No início do segundo turno, o presidenciável apareceu em fotos com o casal Garotinho, que declarou apoio ao tucano. Denise chegou a declarar voto nulo, mas recuou por pressão partidária. "Aquilo foi diante do horror daquela foto", disse. "Foi uma indignação momentânea", definiu.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista:



UOL - A sra. será oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, caso seja reeleito? Que tipo de oposição a sra. deverá fazer?



Frossard - Em primeiro lugar, qualquer que seja o presidente eleito, seja ele Lula ou Alckmin, o regime republicano indica o presidente de todos nós. Então não existe isso. Existe o relacionamento republicano.



UOL - Então seria uma oposição light?



Frossard - Não, não estou dizendo que vai ser oposição, eu nem sei quem vai ser o presidente e quais as medidas que ele vai tomar. Se ele tomar medidas absolutamente pertinentes, por que oposição?



UOL - A sra. tem no currículo 14 anos de atuação como juíza e um dos principais alicerces de sua campanha é o combate à criminalidade, um dos maiores problemas do Estado. A sra. se vê surpreendida pelo resultado das pesquisas de opinião, que mostram seu adversário Sérgio Cabral (PMDB) com 25 pontos na frente?



Frossard - Eu não comento pesquisas. Desde o início (da campanha) eu digo que não comento porque seu comentasse eu não estaria nem no segundo turno. Eu teria parado de jogar o jogo. Se as pessoas acham que pesquisa é a eleição, então se acaba com as eleições. Eu jogo o jogo. A minha missão é esta: é concorrer, é colocar as questões, é colocar os pontos fracos, os planos, as diretrizes, e quem decide é o eleitor no domingo. Seja qual for a decisão, é soberana.



UOL - Como a sra. avalia a campanha de Geraldo Alckmin? A sra. acredita que a postura dele nos debates, adotando um tom mais agressivo, pode ter prejudicado a candidatura tucana? Ou a sra. acha que esse tom foi o correto?



Frossard - Como estou correndo na minha campanha, eu confesso que eu não parei para avaliar campanha alguma. Isso porque eu fiquei envolvida numa disputa aqui no Estado do Rio de Janeiro. E como estou envolvida nessa disputa, eu não posso ficar ouvindo os comentaristas das demais disputas.



UOL - Sim, mas a sra. deve ter acompanhado minimamente a disputa...



Frossard - Acompanho sim, mas não estou interessada em fazer análises, não, porque esse não é o meu foco. A situação do Rio de Janeiro é tão grave que, confesso, tenho os olhos, os ouvidos e todos os sentidos voltados para o meu Estado, onde até ladrão rouba ladrão.



UOL - Mas a sra. chegou a anunciar voto nulo quando Alckmin recebeu apoio do casal Garotinho.



Frossard - Aquilo foi diante do horror daquela foto (de Alckmin andando ao lado do casal Garotinho). Mas imediatamente eu reconsiderei, pois só os mortos e os tolos não mudam de opinião. Foi uma indignação momentânea, mas reconsiderei e declarei e recomendei meu voto a ele (Alckmin).



UOL - A sra. fez mais campanhas junto a entidades de classe, grupos e menos campanha na rua, com corpo-a-corpo e comício, como fez seu adversário Sérgio Cabral. A sra. avalia, a poucos dias da eleição, que isso foi uma estratégia acertada?



Frossard - Ele tem mais mobilidade do que eu. Ele se desloca de helicóptero, tem muito dinheiro, e eu tenho que me deslocar de táxi. Então, evidentemente, eu não me desloco tanto. Eu fiz quase todos os municípios, 80 e tantos municípios aqui do Rio de Janeiro. E eu tenho feito diariamente corpo-a-corpo. Mas ele (Cabral) tem muito mais dinheiro. Se você olhar a campanha dele, é uma campanha milionária. E deslocar-se custa dinheiro. Ele pode estar em oito municípios. Eu, para fazer seis na última segunda-feira, tive uma dificuldade muito grande. Nós não temos dinheiro, não.



UOL - A sra. tocou em um ponto, a campanha de Sérgio Cabral, que foi motivos de muitas críticas. Em debates na TV, a sra. também cobrou a origem do patrimônio de Cabral.



Frossard - Não são propriamente críticas. É a seguinte situação: a vida de um homem ou uma mulher pública tem de ter publicidade. Na segunda-feira, um dos dois será o governador ou governadora do Estado. Então, é importante, sim, porque ele deu as explicações dele ao Ministério Público em juízo. Mas fica um sabor para a sociedade, de como é que pode um rapaz que sempre foi deputado, que não tem outra atividade, que não vem de família rica, pelo contrário, os pais não tinham nenhuma fortuna. E como é que pode ser uma pessoa que ostenta um patrimônio tão vigoroso, um jovem de 42 anos? É muito complicado. Eu sou servidora pública há 22 anos, tenho o maior salário do Estado que é o de juíza, é maior que o de deputado, e não tenho em casa os familiares que ele tem. Isso tudo causa perplexidade e tem que ser explicado, como essa mágica se dá. É uma cobrança, sim, sobre a vida de um homem público. Isso tem que ser cobrado e eu tenho o dever de alertar. O próximo governador do Estado terá de coordenar um orçamento de R$ 36 bilhões. Como eu posso não alertar?



UOL - A sra. está sendo apoiada pelo prefeito do Rio César Maia (PFL) e o adversário da sra., pelo casal Garotinho. Há uma diferença expressiva entre a sra. e Sérgio Cabral, segundo as pesquisas de opinião. A sra. acredita que, para o eleitor do Rio, pesou mais o apoio do casal Garotinho que o apoio de César Maia?



Frossard - Eu não comento pesquisa. Vamos ver no domingo. Vocês terão a resposta para isso no domingo. Eu não me propus a comentar pesquisa. Eu me coloquei como candidata, apresentei a minha biografia, minha vida e a disposição de uma ruptura ao governo que aí está. A nossa proposta é muito clara. Aqui no Rio de Janeiro há dois candidatos com candidaturas diametralmente opostas. Nós não somos parecidos em nada.



UOL - Mas como a sra. avalia o peso desses apoios?



Frossard - Eu não posso avaliar isso. Esse arco de alianças que ele construiu é o mesmo arco de alianças construído em 1986 pelo governo Moreira Franco, que foi uma tragédia também. O governo foi muito ruim para o Rio de Janeiro. Do mesmo arco de alianças foi construído o Garotinho, em 1998, e que nos levou até aqui como o Estado mais violento do Brasil. (Foi) uma administração pública absolutamente tumultuada, canibalizada, que levou o ex-governador a uma greve de fome porque não explicou sua relação com ONGs terceirizadas. A situação do Rio de Janeiro é caótica, e ela é caótica por causa desse arco de alianças.



UOL - Falando de alianças, a sra. chegou a falar em um debate na TV que há uma "bagunça" de alianças. Isso porque o candidato Sérgio Cabral é apoiado por uma série de partidos, mas alguns partidos dividem o apoio entre a sra. e o seu adversário, como o PV e o PDT. A sra. acha que essa "bagunça" também pode ser aplicada à candidatura da sra. ou há diferenças?



Frossard - Os partidos no Brasil, enquanto não houver a reforma política, (vão) gerar essa perplexidade. Isso não é bom para a democracia, mas existe. O que é que eu posso (fazer)? Eu lutei para que houvesse uma reforma política, mas não foi possível. E por isso essa confusão toda. O Brasil ainda é um país que abriga esse tipo de coisa que não é boa para a democracia.



UOL - No Rio de Janeiro, a disputa presidencial se mostra bem acirrada, culminando até brigas em bares, como ocorreu na última semana, em que uma militante mordeu o dedo de uma outra. O que levou a disputa a chegar nesse ponto no Rio de Janeiro?



Frossard - Bom, não sei. Há uma polarização na disputa presidencial. Não deveria ser assim numa democracia, a escolha é democrática. Que vença quem a sociedade escolher e que todos possam escolher os seus sem violência e sem golpes baixos. Esse é o ideal da democracia e essa é a visão que eu tenho. Vamos tentar nos aprimorar para chegar a esse ponto, com educação e com a prática democrática. Só se aprende a andar andando e milagre se anda. Talvez esse tempo todo que a gente teve de ditadura tenha nos atrasado na compreensão do que é democracia, do que é regime republicano.



UOL - Esse pode ser o motivo para a militância se "estranhar" e causar brigas como a que ocorreu?



Frossard - Isso não é bom, isso evidentemente é péssimo. Todas as opiniões devem ser respeitadas, aqueles que lhe apóiam e aqueles que apóiam seus adversários, desde que não estejam atacando da cintura pra baixo.



UOL - E como a sra. avalia a campanha no Rio de modo geral?



Frossard - A campanha no Rio é o embate de duas forças, bastante contraditórias. Uma que prega a continuidade do que aí está, inclusive com a mesma maneira de formar alianças e com a mesma maneira de governar. E a minha é uma tentativa de ruptura dessa forma de governar, é uma ruptura do marco de poder. Essa ruptura outros Estados já fizeram, como por exemplo, o Espírito Santo (que elegeu o peemedebista Paulo Hartung). São Paulo resolveu isso com Mário Covas. São Paulo teve uma ruptura do marco de poder muito interessante e agora, recentemente, o Espírito Santo. Fica faltando o Rio de Janeiro.



UOL - Na Bahia (onde o petista Jaques Wagner desbancou o candidato do senador Antônio Carlos Magalhães) a sra. acha que já houve essa ruptura?



Frossard - Não. Falei de São Paulo e de Espírito Santo.



UOL - Mas e na Bahia?



Frossard - Na Bahia, eu estou distante. Eu não posso, não parei para analisar ainda. Eu estou analisando esses dois (governos) porque eu venho acompanhando e foram rupturas bem fortes com o marco de poder e propostas bem claras. Covas sucedeu a uma dinastia de Maluf e os seus e o Hartung sucedeu ao crime organizado. Por ora eu fico nessas duas análises. Quanto à Bahia, é preciso esperar um pouco.



Reportagem publicada em 27.out.2006.

Os dois candidatos ao governo do Rio de Janeiro foram convidados para conceder entrevista ao UOL. Sérgio Cabral (PMDB) não respondeu.

Nome Completo:
Denise Frossard Loschi

Local de nascimento:
Carangola (MG)

Data de nascimento:
6 de outubro de 1950

Profissão: Juíza

Partido: PPS

"A situação do Rio de Janeiro é caótica, e ela é caótica por causa desse arco de alianças"

Denise Frossard, comentando a aliança de Sérgio Cabral com o casal Garotinho, todos do PMDB".

APOIO BAMBO

A candidata ao governo do Rio de Janeiro Denise Frossard (PPS) chegou a retirar o apoio ao presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB) e declarar voto nulo depois de o tucano posar para fotos com o casal Garotinho. Mas recuou da idéia e reafirmou o apoio a Alckmin