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Requião é oportunista ao apoiar Lula, afirma Osmar Dias

Larissa Morais
Da Redação, em São Paulo

O senador Osmar Fernandes Dias (PDT), 54, já foi secretário de Agricultura no primeiro governo de Roberto Requião (PMDB). Hoje o governador e candidato à reeleição é o maior adversário do pedetista.

Na entrevista para o UOL, Osmar critica duramente o governador, e chega a comparar a ambição de governar o Paraná por 12 anos (Requião já está no segundo mandato; o primeiro foi de 1991 a 1994) à longevidade dos ditadores no poder.

Para Osmar, a atração de empresas para o Estado foi débil nos últimos anos em razão da "postura agressiva" do governo, que trataria empresários como adversários.

Sobre a dificuldade do adversário em declarar apoio explícito ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o senador diz que esse comportamento é oportunismo. "Se Lula passar Alckmin no Paraná, ele passa a apoiar o presidente", diz Osmar. Pesquisa recente do Datafolha mostrou empate técnico entre os presidenciáveis no Estado.

No início da campanha, o candidato do PDT oscilava ao redor de 20% das intenções de voto nas pesquisas. O governador manteve-se estável - na pesquisa Ibope divulgada no dia 7 de agosto, tinha 39%. Em três meses, Osmar cresceu e obteve 38,6% dos votos válidos, contra 42,81% de Requião.

A carreira voltada para a agricultura é um dos trunfos de Osmar para conseguir votos no interior. Na capital, o candidato tem a seu lado um dos maiores cabos eleitorais do Estado, o prefeito Beto Richa (PSDB).

Ex-tucano, Osmar Dias é irmão do também senador Álvaro Dias (PSDB). Engenheiro agrônomo, está no Senado desde 1995. Antes, foi professor de agronomia, presidiu a Companhia Agropecuária de Fomento Econômico do Paraná (1983-1986) e foi secretário da Agricultura (1987-1994).

Leia a seguir os principais trechos da entrevista:



UOL - A última pesquisa Datafolha indica uma diferença de 6 pontos entre Requião e sua candidatura, algo próximo ao resultado do 1º turno, o que indica que a disputa segue acirrada. Que estratégias o sr. tem utilizado neste segundo turno para vencer?



Osmar - Primeiro, a estratégia de não levar as pesquisas a sério. No primeiro turno, o Datafolha dava 45% para Requião e 31% para mim, o que significa que não haveria segundo turno. E eu estou disputando o segundo turno. O resultado da eleição foi 42% a 38%, quatro pontos de diferença, e não 14 - eles erraram por 10. O Datafolha não acertou em nenhum Estado. É uma questão de desconsiderar as pesquisas e considerar o que sentimos nas ruas, no crescimento da candidatura, nas pesquisas internas. E trabalhar mostrando que temos um projeto de governar o Paraná de forma diferente, com diálogo e parceria, com a reconstrução da credibilidade que o governo perdeu, afastando investidores. O Paraná não teve nestes três anos e meio nenhuma grande empresa instalada aqui em razão da postura agressiva do governo, tratando investidores e empresários como adversários. E com uma gestão absolutamente temerária no Porto Paranaguá feita pelo irmão do governador, que também é responsável pela insegurança em investir no Estado.



UOL - O sr. conseguiu um leque mais amplo de alianças do que Requião no segundo turno?



Osmar - As alianças que fizemos no primeiro turno foram suficientes para nos trazer ao segundo praticamente empatados com Requião, que não teve nenhum pudor em usar a máquina pública em sua campanha de reeleição. No segundo turno recebemos apoio do PSDB, do senador Álvaro Dias, do prefeito de Curitiba, Beto Richa, do ex-candidato Rubens Bueno (PPS), do PL. Temos também apoio dos três deputados federais mais votados, entre eles Gustavo Fruet (PSDB) e Ratinho Jr. (PPS).



UOL - O sr. tem o apoio do prefeito Beto Richa na capital. O que tem feito para ganhar votos no interior?



Osmar - Como tenho uma ligação muito estreita com a agricultura por ter sido secretário em dois governos, e ter feito o projeto Paraná Rural, que é considerado modelo, estamos obtendo uma vantagem no interior. Tenho trabalhado propondo uma parceria permanente com os municípios para desenvolver um projeto de agroindustrialização, uma necessidade para que a economia do Paraná volte a crescer. Hoje ela não está nem estagnada, ela está de cabeça para baixo, decresceu 3%. Isso significa que o atual governo tem fracassado, e isso é uma forma de conquistarmos apoio não só do interior, mas também da capital, porque as pessoas querem emprego e renda, o que o atual governo não tem proporcionado.



UOL - O sr. acredita que um possível desgaste do governo de Requião tenha sido o responsável pelo seu crescimento nas pesquisas?



Osmar - Meu crescimento no primeiro turno já era esperado porque a população votou em sua maioria pela mudança. Senão não haveria segundo turno. Como eu já tinha obtido 2,7 milhões de votos para senador, existia esse patrimônio eleitoral que não pode ser desprezado. As pessoas estão cansadas do atual estilo de governo. Quem já governa o Estado há oito anos e quer governar por 12, só é comparável a países em que a ditadura governa.



UOL - O sr. foi secretário da Agricultura do governo Requião. O que mudou na sua avaliação sobre o governador desde então?



Osmar - Fui secretário continuando um projeto que tínhamos iniciado no governo anterior, de Álvaro Dias. Aliás, Requião anunciou meu nome no primeiro turno como ex-secretário de seu governo para ganhar votos, pelo trabalho que vínhamos realizando. E faço uma avaliação diferente do que fizemos na agricultura em relação às demais áreas do governo, principalmente do atual, porque este é bem pior do que o primeiro governo.



UOL - O seu candidato a vice, Derli Donin, tem oito ações por improbidade administrativa e dois processos por suspeita de licitação fraudulenta em tramitação contra ele. As denúncias têm sido amplamente utilizadas por seu adversário. O sr. acredita que isso pode prejudicar sua candidatura?



Osmar - Não. Meu vice tem realmente as oito ações, mas ainda não foi ouvido em seis. Nas duas em que foi ouvido, foi absolvido. Acredito que nas outras também será, porque são ações sem consistência, movidas por seus adversários. Tanto é que ele teve a aprovação de Toledo, quando foi prefeito, reelegendo-se e elegendo seu sucessor. Já o adversário, que acusa meu vice, tem 141 ações judiciais e inquéritos, dos quais 60 criminais. E ações que não são apenas por injúria, calúnia e difamação. São por improbidade administrativa, em que ele foi condenado e teve de devolver dinheiro aos cofres públicos. Ele tem ações por uso da máquina pública para promoção pessoal, abuso de poder, recebimento ilegal de verbas públicas, crime eleitoral e prevaricação. Além de pagar uma dívida R$ 180 mil ao desembargador Sérgio Arenhart, que o processou por calúnia, com dinheiro do partido que não havia sido contabilizado, o que configura caixa dois. Portanto, se tivermos de comparar as ações, meu adversário ganha de longe.



UOL - Caso seja comprovada culpa e o sr. seja eleito, que medidas pretende tomar?



Osmar - Acredito que ele perde o cargo. Confio que as ações que meu vice enfrenta na Justiça não têm consistência para condená-lo. É uma hipótese improvável.



UOL - Por que Geraldo Alckmin teve mais votos que Lula no Paraná no primeiro turno, ao contrário do resultado nacional?



Osmar - Porque o Paraná tem sua base econômica na agricultura. E os agricultores estão muito insatisfeitos com o desempenho do governo Lula. Os paranaenses estão insatisfeitos com a parceria de Requião com o governo federal, que não trouxe nenhum benefício ao Estado. Ou o governador não soube fazer a parceria, ou o presidente Lula não correspondeu a ela.



UOL - O sr. acha que o apoio tímido e não declarado de Requião a Lula tem a ver com o fato de o presidente estar atrás de Alckmin no Estado?



Osmar - Requião é oportunista. Ele surfou na "onda" Lula em 2002 e se elegeu com ela. Agora ele esperou Lula crescer um pouco para timidamente apoiá-lo. Mas ele não tem certeza. Se Lula passar Alckmin, ele passa a apoiar o presidente. Ele faz isso porque pensa só nele, tanto no governo quanto na política.



UOL - O sr. apóia Geraldo Alckmin, que aparece bem atrás de Lula nas pesquisas. Se o presidente e o sr. forem eleitos, como será a relação com o governo federal?



Osmar - Sempre tive uma relação de respeito com Lula, tanto que ele me chamou para conversar várias vezes. Continuarei com a essa relação se ele for eleito. Ela tem de ser também institucional, de Estado para governo federal, e é até um dever que essa parceria seja feita através de projetos e ações práticas, que o atual governador não tem procurado realizar, usando a velha desculpa de apenas culpar o governo federal. Quando na verdade ele não fez nenhuma reunião com deputados federais para fazer essa ponte política, nem com os senadores - e também os culpa pelo seu fracasso na busca por verbas federais. Quem perde com isso é o povo do Paraná.



Reportagem publicada em 26.out.2006

Todos os candidatos ao governo do Paraná foram convidados pelo UOL para conceder entrevista.

Nome Completo:
Osmar Fernandes Dias

Local de nascimento:
Quatá (SP)

Data de nascimento:
10 de maio de 1952

Profissão: Engenheiro agrônomo

Partido: PDT

" Quem já governa há oito anos e quer governar por 12, só é comparável a países com ditadura"

Osmar Dias, comentando a tentativa de Roberto Requião de conquistar um terceiro mandato (o primeiro foi de 1991 a 1994)

REFORÇO PAULISTA

O governador eleito de São Paulo, José Serra (PSDB), participou da campanha de Osmar Dias neste segundo turno