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Collares promete cadeia para invasores do MST

Marcelo Gutierres
Da Redação, em São Paulo

Ex-prefeito de Porto Alegre [1996-1989] e ex-governador do Rio Grande do Sul [1991-1994], o deputado federal Alceu Collares, candidato do PDT, apresenta como proposta para vencer o déficit público gaúcho o combate à sonegação e à inadimplência. Afirma que irá cobrar com vigor do governo federal a dívida da União com o Estado.

O pedetista critica a criação do Pacto pelo Rio Grande [conjunto de medidas propostas pela Assembléia Legislativa com o objetivo de conter os gastos públicos]. E chama o MST de movimento retrógrado. Caso eleito, promete "iniciar um processo para colocá-los na cadeia". O deputado classifica a arrecadação de campanha como "pobre e difícil" e diz: "O único consolo é que os outros estão enfrentando a mesma dificuldade".

UOL - O candidato à Presidência pelo seu partido, Cristovam Buarque, já declarou que não acredita que possa vencer as eleições. Ele disse que o objetivo da candidatura é divulgar uma espécie de plataforma com base na educação. Com 5% das intenções de voto, segundo o Ibope, o sr. tem a mesma estratégia ou acredita que pode vencer as eleições no Rio Grande do Sul?

Alceu Collares
- São duas situações completamente diferentes e dois candidatos também distintos, com vidas públicas diferenciadas. Cristovam esteve no PT. Foi governador do Distrito Federal, senador pelo PT e depois acabou numa situação constrangedora, sendo demitido por telefone [do Ministério da Educação]. Eu tenho uma vida política diferente, uma origem também diferente: venho dos confins da pobreza. Politicamente, nós temos posições distintas, principalmente porque eu nunca fui do PT. Sou trabalhista e como tal também tenho objetivos no campo educacional. Neste ponto nós concordamos inteiramente, mas a probabilidade de eleição está muito mais próxima para nós do que para ele.

UOL - Então o sr. acredita que possa vencer as eleições?

Collares
- Creio piamente que vou vencer as eleições.

UOL - Atualmente, o PDT tem oito deputados na Assembléia. Caso seja eleito, como será a sua relação com a Casa?

Collares
- Eu já fui prefeito de Porto Alegre com minoria na Câmara. Já fui governador com minoria na Assembléia. Porém, graças à qualidade dos projetos que nós encaminhamos aos legislativos municipal e estadual, conseguimos a aprovação de todos, independentemente de ter maioria.

UOL - Como o sr. pretende resolver o déficit público gaúcho?

Collares
- Combatendo a sonegação, a inadimplência, a informalidade e cobrando com vigor do governo federal a dívida ativa de R$ 15 bilhões. Mais do que isso: administrando sempre com muita força, controlando os gastos, combatendo os desperdícios.

UOL - O sr. diz que vai combater de sonegação. Haverá contratações?

Collares
- Não. Não é necessário. Até porque assim eu fiz de 1991 a 1994, quando fui governador.

UOL - O sr. pretende pressionar o governo federal?

Collares
- Não. Tem de levantar todos os Estados exportadores para cada um reclamar aquilo que é seu, porque não é do governador, é da população.

UOL - O interessante para o Rio Grande do Sul seria iniciar uma mobilização nacional?

Collares
- Sim. E não pode ser com o Rigotto [Germano Rigotto, governador que tenta a reeleição pelo PMDB] que não teve força, não teve vigor para fazer a cobrança.

UOL - Como vencer o déficit da previdência?

Collares
- Não tem solução. Esse déficit tem que ser tratado da seguinte forma: o Estado tem de transferir para o IPE [Instituto de Previdência] o dinheiro que os funcionários pagam e que os governos utilizam de forma equivocada. E para os novos funcionários não pode ser o mesmo tipo de tratamento previdenciário e de saúde previstos hoje na legislação. Tem de ser um fundo novo.

UOL - O sr. propõe a criação de um novo fundo?

Collares
- Para os novos funcionários. E tem que resolver esse problema. Como resolver? Por exemplo, há os precatórios, que são resultado do não pagamento de uma quantidade de benefícios de vantagens de servidores públicos que estão aí morrendo e não recebem precatório. No meu governo eu paguei precatório. Eu transferia para o IPE aquilo que era destinado ao instituto. Dei aumento para aposentados e pensionistas.

UOL - O sr. é favor do Pacto pelo Rio Grande do Sul?

Collares
- Sou contra, aquilo ali foi uma enganação. Por que eles não fizeram esse pacto no primeiro ano de governo do Rigotto? Por que deixaram para fazer no ultimo ano? Se é um pacto, é um contrato bilateral, ou multilateral. Esse pacto não tem valor nenhum porque todas as matérias tratadas por ele têm vício da iniciativa, a iniciativa deveria ser do governador do Estado e não da Assembléia Legislativa. Se é um pacto, o Poder Judiciário teria que concordar, como não concordou, não é mais pacto.

UOL - O Rio Grande do Sul enfrentou queda no PIB em 2005. A região metropolitana registra desemprego e a renda (2,4%) aumentou menos do que a média nacional (6,7%). Quais são as soluções?

Collares
- Isso é problema nacional. É reflexo da política do modelo econômico neoliberal monetarista. Isso é conseqüência desses juros elevadíssimos. A taxa de câmbio está supervalorizando o real.

UOL - E o que o sr. pretende fazer?

Collares
- Eu pretendo colocar isso nacionalmente. Não pode mais continuar assim. Essa taxa de câmbio é a mais absurda do mundo. Está esgotando a economia e isso reflete em Estados exportadores como o Rio Grande do Sul.

UOL - Caso eleito, o que fará para combater os efeitos da estiagem no Estado?

Collares
- Tem que ter prevenção, um setor competente. Deve haver uma ação conjunta entre a defesa civil e uma secretaria de agricultura. No meu governo, elaboramos um grande projeto de preservação de bacias hidrográficas, com processo de irrigação e poços artesianos. Eles devem ser construídos antecipadamente. É o que pretendo fazer.

UOL - Qual será a relação do sr. com o MST?

Collares
- Eles não podem invadir a propriedade. Isso é crime. Se eu estiver no governo, vou iniciar um processo para eles irem para a cadeia. Trata-se de um movimento revolucionário atrasado, retrógrado.

UOL - No seu plano de governo, o sr. afirma que pretende retomar os Cieps [Centros Integrados de Educação Pública].

Collares
- Essa é a menina dos nossos olhos. É a prioridade das nossas prioridades. Nós vamos retomar essa idéia. No meu governo fizemos vários 94 Cieps. Vou transformar a escola convencional em uma escola de tempo integral.

UOL - Quando governador, o sr. adotou o calendário rotativo. Foi um erro ou um acerto?

Collares
- Absolutamente. Foi um grande acerto. Quando candidato na época, nós discutimos essa idéia. Vários governos prometeram solucionar o problema de excesso de alunos e nunca cumpriram. Quando assumi, determinei que os professores voltassem à sala de aula ou pedissem demissão. Isso gerou muito ódio contra a gente. Hoje não há mais a necessidade de do calendário rotativo.

UOL - O sr. pretende convidar a sua esposa (Neuza Canabarro, ex-titular da pasta) para a secretaria da Educação?

Collares
- Não, mesmo porque ela não quer.

UOL - Como está sendo a arrecadação de recursos para a sua campanha?

Collares
- Pobre e difícil. O único consolo é que os outros estão enfrentando a mesma dificuldade.

Reportagem publicada em 27.set.2006.
Todos os candidatos ao governo do Rio Grande do Sul foram convidados para conceder entrevista ao UOL.

Nome Completo:
Alceu de Deus Collares

Local de nascimento:
São Paulo (SP)

Data de nascimento:
26 de julho de 1944

Profissão: advogado

Partido: PDT

"Esse pacto não tem valor nenhum. A iniciativa deveria ser do governador do Estado e não da Assembléia Legislativa."

Alceu Collares, ao se posicionar contra o Pacto pelo Rio Grande, conjunto de medidas de controle de gastos públicos proposto pela Assembléia este ano

MOBILIZAÇÃO

Caso eleito, Collares diz que irá iniciar uma mobilização nacional para pressionar o governo federal a ressacir os Estados exportadores. Afirma que o atual governador, Germano Rigotto (PMDB0), candidato à reeleição, não teve força para isso.