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"Julgamento dos mensaleiros frustrou muita gente", diz candidato do PP gaúcho

Marcelo Gutierres
Da Redação, em São Paulo

Ex-ministro da Agricultura do governo FHC, o deputado federal Francisco Turra, 64, concorre ao governo do Rio Grande do Sul por uma legenda que possui quase 30% das prefeituras no Estado: o Partido Progressista (PP). Turra é presidente da sigla no Estado.

Ele começou na política como vice-prefeito da cidade de Marau, no interior do Estado, em 1976. Foi deputado estadual entre 1991 e 1995, e chegou à Câmara dos Deputados em 2003. O principal momento da carreira política veio com a nomeação para a pasta da Agricultura em 1998, cargo que exerceu durante 15 meses.

Embora o PP detenha perto de 30% das administrações municipais e seja a segunda bancada na Assembléia, a candidatura Turra não decolou. Pesquisas mostram uma preferência do eleitorado de cerca de 8% pelo nome do PP, o que lhe dá o quarto lugar nas intenções de voto.

Correligionários de Turra viram-se envolvidos nos escândalos do mensalão e das sanguessugas. Turra se diz "frustrado" com o resultado das cassações de mensaleiros. Afirma que faz campanha com "extrema dificuldade" e, se eleito, promoverá um corte no número de secretarias.

UOL - As pesquisas mostram a sua candidatura em quarto lugar na corrida pelo Palácio Piratini. O sr. acredita numa vitória?

Francisco Turra
- Piamente que sim. Pelas próprias pesquisas espontâneas, muitos eleitores se mostram indecisos. A definição começa efetivamente a partir do momento em que eles têm acesso à vida de cada candidato, à história dele. E é dentro desse conceito que nós vamos chegar lá.

UOL - O seu partido tem a segunda maior bancada na Assembléia. Caso seja eleito, como será sua relação com o Legislativo?

Turra
- Nós ampliaremos a nossa bancada estadual. Imaginamos chegar a 12 deputados. Mesmo assim não seremos maioria, mas teremos todas as condições de administrar com maioria, porque já antes do pleito, antes das convenções, nós falamos com os partidos, com a possibilidade de fazer alianças. Já conversamos com vários partidos, entre eles PDT, PSDB, PFL e o próprio PMDB. O objetivo é a unificação para o segundo turno. Isso nos dá não só segurança em relação ao apoio à nossa candidatura no segundo turno como também à maioria da nossa bancada na Assembléia.

UOL - Como vencer o déficit gaúcho?

Turra
- Em primeiro lugar, temos de trabalhar em duas vertentes: um ajuste fiscal e a cobrança das dívidas ativas. Outra medida é cobrar do governo federal o ressarcimento da Lei Kandir [que trata de exportação]. Temos também de renegociar a dívida do Estado.

UOL - E para o déficit da Previdência no Estado?

Turra
- O Rio Grande do Sul errou em não ter criado fundos de aposentadoria do servidor, como tem o Estado do Paraná e outros Estados do Brasil. Eu pretendo criar um fundo para os novos ingressantes no funcionalismo com a venda de ativos que hoje estão marginalizados, especialmente os imóveis abandonados. Além disso, vamos enxugar a máquina pública e reduzir as secretarias.

UOL - Com a redução de secretarias, o sr. não teme perder força para negociar com os demais partidos a participação no seu governo?

Turra
- O Pacto pelo Rio Grande demonstra claramente que a situação do Estado é calamitosa. Esse pacto foi discutido com a sociedade e hoje não há mais nenhum espaço para não entregar os anéis antes de perder os dedos.

UOL - O sr. pretende seguir as determinações do Pacto?

Turra
- O Pacto é um instrumento valioso para o gestor público que vem porque houve uma discussão com a sociedade. É a vontade da sociedade gaúcha. Desconsiderá-lo seria um ato de afronta à própria democracia e ao poder legislativo gaúcho que teve independência e autonomia de propor soluções para a melhoria do Estado. Vejo como um instrumento adequado para um governante sério, que se comprometa a arrumar as contas públicas do Estado.

UOL - Mesmo a Justiça considerando inconstitucional esse tipo de medida?

Turra
- Mesmo considerando inconstitucional, vale a discussão, na pior das hipóteses, com a sociedade.

UOL - Segundo o IBGE, o PIB gaúcho decresceu 4,8% em 2005. Como retomar o crescimento?

Turra
- Por meio de um forte incremento, forte impulso na estratégia de desenvolvimento, a partir do fortalecimento do agronegócio, que é nossa vocação natural. Estimular e ampliar a nossa planta industrial, com atração de novas unidades, criando a manutenção de tributos em níveis compatíveis.

UOL - Como o sr. pretende enfrentar a informalidade na região metropolitana de Porto Alegre?

Turra
- Antes de mais nada, fazendo um grande processo de formalização. A informalidade continua se ampliando exatamente pelo excesso de tributos, pelo excesso de burocracia. Temos muitas empresas trabalhando na informalidade.

UOL - E sobre o desemprego?
Turra
- A gente tem de apostar mais na segurança. O desemprego é uma das causas da insegurança. Temos de criar esse clima para criarmos mais emprego. O governo do Estado tem de liderar isso, não como indutor, nem como promotor do desenvolvimento, porque isso é dos indivíduos e das organizações. Por exemplo, o Estado deve investir em infra-estrutura para que o desenvolvimento aconteça em ritmo acentuado.

UOL - Como o sr. pretende diminuir os efeitos das estiagens sobre a produção agrícola?

Turra
- Há duas maneiras. Uma delas, na metade do sul do Estado, é construir barragens, que ajudaria em projetos de irrigação. A outra maneira é a utilização de sementes resistentes à seca. E mudar um pouco a matriz produtiva, principalmente, alterando culturas.

UOL - Caso eleito, como será a sua relação com o MST?

Turra
- Qualquer movimento fora da lei por atitudes e atos passará da esfera de governo para a esfera policial. Nós vamos ser absolutamente implacáveis com relação a qualquer ato que conflite e atente contra a lei, mas trataremos bem os movimentos sociais que queiram a inclusão social, que se unam conosco pela inclusão social.

UOL - Há problemas de saneamento básico, sobretudo no interior. Qual a sua proposta?

Turra
- De fato. Vamos promover parcerias com o governo federal e tentar buscar recursos em órgãos internacionais como o Banco Mundial, além de priorizarmos recursos em nosso orçamento.

UOL - Com um Estado quebrado, como investir em educação?

Turra
- Precisamos investir, sim, em educação, na qualificação dos professores e envolver a comunidade, pais e alunos. Não dá para fazer nada sem estimular o professor. Eles estão desestimulados, com salários defasados.

UOL - Qualificar de que maneira?

Turra
- Por meio de cursos permanentes. A nossa Uergs [Universidade Estadual do Rio Grande do Sul] pode ser um ser belo instrumento para qualificar o professor. Em cada região haverá uma técnica para que o professor se qualifique, se especialize.

UOL - Como está a arrecadação de recursos para a sua campanha?

Turra
- Nós estamos abaixo do que prevíamos. Claro, é um ano difícil, em que a gente briga muito para conseguir apoio, pelos meios legais, mediante recibo e tudo o mais. Temos tido extrema dificuldade, tanto é que atrasamos em quinze dias a impressão de nosso material. Esperamos fazer uma campanha modesta, singela, sincera, verdadeira. Não nos preocupa, por exemplo, não termos recursos para fazer uma superprodução. Queremos é vender nosso projeto. Isso é o mais importante.

UOL - O sr. é a favor de oferecer a legenda a acusados de envolvimento em corrupção?

Turra
- Há casos e casos. Eu sou a favor da apuração, do direito de defesa e da punição dos culpados. Não sou a favor de acusações levianas. Não quero prejulgar ninguém, mas acho que o julgamento que aconteceu na Câmara [dos Deputados] dos mensaleiros frustrou muita gente, inclusive e principalmente a mim.

Reportagem publicada em 27.set.2006.
Todos os candidatos ao governo do Rio Grande do Sul foram convidados para conceder entrevista ao UOL.

Nome completo:
Francisco Sérgio Turra

Local de nascimento:
Marau (RS)

Data de nascimento:
16 de setembro de 1942

Profissão: advogado

Partido: PP

"O Pacto pelo Rio Grande demonstra claramente que a situação do Estado é calamitosa"

Francisco Turra, ao falar sobre o conjunto de medidas para conter o déficit público do Estado, estimado em R$ 1,5 bilhão.

ERROS DE GESTÃO

O Rio Grande do Sul errou em não ter criado um fundo de aposentadoria do servidor, como tem o Estado do Paraná e outros Estados do Brasil, diz Turra