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"Meu principal adversário é o desconhecimento", diz Paes

Carolina Juliano
Em São Paulo

Em 2005, Eduardo Paes fez parte da CPI dos Correios e ganhou holofotes nacionais ao fustigar depoentes, tornando-se um dos principais entrevistados pela imprensa. Apesar disso, o deputado, que foi subprefeito e, mais tarde, secretário do Meio-Ambiente de administrações de César Maia no Rio de Janeiro, diz que não é conhecido do eleitorado fluminense.

"Meu principal adversário é o desconhecimento", afirma o tucano, que diz contar com pesquisas que estimam em 65% o total do eleitorado que não sabe quem ele é.

Na entrevista concedida ao UOL Eleições, Paes prega a revisão de terceirizações feitas pela governadora Rosinha Garotinho e adota o discurso de seu partido, de buscar melhorar a gestão do Estado. Veja os principais trechos da conversa:

O senhor surgiu na política ao lado de César Maia e ocupou cargos de confiança em governos dele. Como é agora ser candidato em uma coligação de oposição a ele?
Não tenho constrangimento até porque não tenho nenhum tipo de problema com o meu passado e com minha história, pelo contrário, tive a oportunidade de trabalhar muito tempo com o César Maia, desempenhei funções no executivo, foi um aprendizado importante e dele tirei melhores experiências, o lado bom de um administrador competente.

Mas o senhor sentiu falta do apoio e dos votos dele?
Ter o apoio do prefeito do Rio de Janeiro é sempre bom. Eu busquei esse apoio e não consegui, mas tenho certeza de que em um segundo turno ele estará do meu lado, pedindo votos para mim.

Como o senhor viu essa postura do PFL no Rio de Janeiro, de não apoiar o PSDB, a exemplo do que fez nas eleições nacionais?
Acho absolutamente normal. As pessoas têm o direito de fazer suas escolhas na política e o PFL escolheu apoiar outra candidatura. Absolutamente natural.

O PSDB não é um partido de tradição no Rio de Janeiro e a sua candidatura também parece não ter decolado. Em que o senhor aposta para chegar a um segundo turno?
Obviamente, vamos cada vez mais tentar chamar a atenção das pessoas para o caos que se instalou no Estado do Rio de Janeiro, para os problemas que o Estado tem, que não são pequenos, mas sempre apresentando as nossas alternativas mostrando que o Estado precisa de uma nova maneira de governar e fazer política e a partir dessa nova maneira que a gente entende que as coisas podem melhorar. Meu programa eleitoral tem uma parte crítica, sem baixaria e nenhum tipo que possa ofender o eleitor ou outro candidato pessoalmente, mas vamos tentar chamar a atenção do eleitor para a tragédia que está no Estado.

Quais os principais pontos do seu programa de governo?
Temos um foco nesta questão da gestão, que é fundamental. A despartidarização da administração pública no Estado do Rio de Janeiro. O que fizeram foi algo de assustador. As tarefas mais essenciais do Estado, como as saúde, a educação, a segurança pública, a arrecadação do Estado, tudo isso foi partidarizado e entregue aos amiguinhos do poder. O foco é mudar isso. A partir da despartidarização, a construção de propostas, principalmente com foco na segurança pública, que é um elemento que faz com que o Estado se esvazie economicamente, traz insegurança para as famílias ricas ou pobres e também a questão da saúde, que é gravíssima e que afeta muito o dia-a-dia das pessoas, principalmente o cidadão mais carente e mais pobre.

Quais suas propostas para a segurança pública?
Primeiramente um pressuposto: despartidarizar a segurança pública, entendê-la como tarefa do Estado, que deve ultrapassar governos e que não deve estar mudando a cada governo. O cumprimento da lei não é uma faculdade do governante, mas sim uma obrigação. Aplicar sanção àqueles que não cumprem a lei, reduzir enormemente a impunidade e tirar as patas dos políticos da segurança pública. A partir deste pressuposto, obviamente melhorar a remuneração dos policiais é algo fundamental, investir nos recursos humanos, na inteligência, na integração, trabalhar com conjunto com o governo federal e com as prefeituras, fazer operações de maneiras mais inteligentes, mapear as áreas de crimes, obter tecnologia suficiente e necessária para que essas áreas de crime possam estar mapeadas, com ações contundente como, por exemplo, restringir o consumo de bebidas alcoólicas, horários de funcionamento de bar, tudo isso são elementos que fazem parte do nosso programa de segurança, com destaque para essa questão: a segurança tem que ser entendida como uma tarefa de Estado, a gestão tem que ser profissional e tem que perpassar governos.

O senhor cogita a possibilidade de recorrer à Força Nacional de segurança pública?
Não tenho a menor dúvida. No dia 1º de janeiro, no momento que se fizer necessário. Nós vamos trabalhar em parceria com o governo federal, vamos para com essa história de conflito.

Seja o presidente quem for?
Seja o presidente quem for. Eu vou trabalhar muito pelo Geraldo Alckmin, mas se o presidente for o Lula, a Heloísa Helena ou o Cristovam Buarque, eu serei o maior parceiro do presidente da República não só para a segurança pública, mas para todas as áreas, a gente tem que ter maturidade. Eleição é eleição, cada um tem que estar no seu partido, mas depois é o presidente a o governador conversando e isso não tem qualquer conotação eleitoral.

E para a saúde, que o senhor disse que está uma tragédia?
Para a saúde, o elemento fundamental é o investimento pelo menos dos recursos determinados pela Constituição Federal. O Estado maqueia esses investimentos e investe menos do que a constituição determina com programas assistencialistas e inclui como se isso fosse custo de saúde. A questão da gestão da saúde também é um problema grave, nós precisamos consorciar os municípios, principalmente os da região metropolitana. O Rio tem o maior gasto per capita com saúde pública do país, é o maior números de leitos per capita, mas tem o sistema de saúde mais trágico do Brasil porque os diferentes níveis de poder, principalmente Estado e municípios, não conversam. O que é absolutamente fundamental. A partir daí, vamos focar muito na saúde da mulher, do idoso, criar centros de referência. E também vamos construir unidades pré-hospitalares que sirvam para aliviar as nossas emergências, que estão completamente superlotadas, muita vezes por falta deste atendimento básico pré-hospitalar.

Como o senhor pretende resolver o déficit que atual gestão deverá deixar, que o Tribunal de Contas do Estado estima entre R$ 1 bilhão e R$ 2 bilhões?
Em primeiro lugar nós teremos que recuperar a capacidade de arrecadação do Estado. As inspetorias de ICMS são todas feudos de alguns deputados amigos do poder, portanto há aqui atividades econômicas, setores e empresas que vivem em uma espécie de paraíso fiscal, que não recolhem seus impostos ao fisco. Esse é um elemento fundamental para aumentar a arrecadação. E obviamente existe uma gordura enorme na máquina pública que precisa ser queimada. O óbvio, que gerou até a greve de fome do "primeiro-damo" do Estado, é a questões das terceirizações. O Estado gasta R$ 4,8 bilhões em terceirizações e boa parte delas não estão relacionadas às atividades-fim. Ou seja, há uma gordura enorme a ser queimada. Vamos reduzir o número de secretarias de 30 para 11, reduzir de forma brutal o número de cargos em comissão, profissionalizar a gestão na administração pública para que você possa ter de um lado o aumento de arrecadação e do outro uma redução de gastos do governo, sem que isso signifique de forma alguma aumento de carga tributária porque a carga do Rio já é altíssima.

Setores terceirizados poderão voltar para o Estado?
Terceirização em atividades de meio não há problema. Temos que mudar a maneira como a terceirização é feita. Os contratos têm que ser claros, com as metas que devem ser cumpridas, os serviços têm que ser prestados de maneira adequada e o processo de contratação tem que ser absolutamente transparente. Mas a terceirização em atividades-fim é condenada. Quanto à terceirização, por exemplo de médicos e professores, faremos concursos públicos para aumentar o número desses profissionais.

O senhor tem projetos para a educação?
O Estado tem a responsabilidade direta pelo ensino médio e no ensino profissionalizante. Além disso tem três universidades, duas em funcionamento e uma recém-criada. Nós vamos criar um fundo constitucional de educação infantil, vamos trabalhar em parceria com os municípios, destinar uma parcela importante dos royalties do petróleo para repassar para municípios trabalharem em pré-escolar, em creche, para que as mães possam trabalhar. No ensino fundamental o Estado ainda tem uma responsabilidade enorme também, ainda são 1.400 escolas, é fundamental que a gente vá municipalizando isso, trabalhando em parceria. No ensino médio, nosso foco é intensificar a qualidade do ensino e melhorar a remuneração do professor. Não é tarefa simples, mas nós vamos trabalhar para, ajustando as contas, avançar nessa direção. Avançar muito na informatização das unidades do Estado, hoje só há 10% das unidades têm acesso à internet. Nós queremos que 90% das escolas tenham até o fim do governo salas de informática. O ensino profissionalizante se tornou uma espécie de extensão de centros sociais de políticos ligados ao governo e além de tudo não têm relação direta com a atividade econômica dos diversos locais aonde funcionam os centros profissionalizantes. Por exemplo, o centro de Macaé dá aulas de inglês, português, word e excel. E na capital do petróleo e do gás precisamos de cursos profissionalizantes que sejam voltados para a atividade econômica daquela região. Na nossa Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), principalmente, que é a maior universidade do Estado e a que vive uma crise mais aguda, vamos dar autonomia financeira e não cortar o orçamento, que vem sendo contingenciado a uma média de 25% ao longo dos anos, estudar a possibilidade de aumento de recursos para a Uerj, mas sempre a partir de algumas metas de produção científica.

O candidato do seu partido à Presidência, Geraldo Alckmin, o comparou com Marcelo Allencar. No que o senhor pode ser comparado ao Allencar?
O governo Marcelo Allencar no Rio de Janeiro fez um conjunto de obras de infra-estrutura importante, só para lembrar das obras do metrô, foram construídas 13 novas estações ao longo de todo o governo. É um número bastante importante considerando que o governo atual, que está aí há oito anos, só inaugurou uma estação até agora. Trouxe também investimentos importantes, o Porto de Sepetiba, o pólo petroquímico, o pólo gás-químico, em Caxias, foram todas obras do Marcelo Allencar. Nós vamos trabalhar para repetir tudo que foi acertado, aliás os índices de violência todos eram menores do que são hoje e menores do que eram no governo anterior. Vamos trabalhar para repetir aquilo que deu certo e, a partir da experiência vivida por alguns dos companheiros do PSDB, não cometer os mesmo equívocos.

Quem o senhor considera o seu principal adversário?
Neste momento o meu maior adversário é o desconhecimento. Todas as pesquisas apontam que 65% da população não fazem idéia de quem seja Eduardo Paes, portanto o meu trabalho é para ampliar esse grau de conhecimento e mostrar que eu sou o único candidato que tem experiência administrativa e capacidade para governar.

Nome completo:
Eduardo da Costa Paes

Local de nascimento:
Rio de Janeiro (RJ)

Data de nascimento:
14 de novembro de 1969

Profissão: advogado

Partido: PSDB

"Vamos reduzir o número de secretarias de 30 para 11, reduzir de forma brutal o número de cargos em comissão, profissionalizar a gestão"

Eduardo Paes