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"Igreja e política não se misturam", diz Crivella

Carolina Juliano
Em São Paulo

Senador eleito em 2002 com cerca de 3,24 milhões de votos, Marcelo Crivella é bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, mas busca desvincular-se da imagem de político evangélico, como revela na entrevista exclusiva ao UOL Eleições.

Candidato derrotado à prefeitura do Rio em 2004, Crivella aparece empatado tecnicamente em segundo lugar com a juíza Denise Frossard, do PPS, nas últimas pesquisas eleitorais. Teoricamente, ambos disputam uma vaga no segundo turno contra o candidato peemedebista, Sérgio Cabral, líder nos levantamentos.

Na conversa com o UOL, cujos principais trechos seguem transcritos abaixo, o senador apresenta propostas heterodoxas como construir presídios para "separar os presos que declararem não querer integrar facções criminosas e criar um programa de apoio às famílias destes presos".

O senhor disse que saiu do PL porque o partido não puniu os envolvidos no escândalo do 'mensalão', como é que foi se filiar ao PRB?
Eu e o vice-presidente José Alencar saímos do PL porque não concordamos com a determinação do partido de não punir os envolvidos nos escândalos. Fui convidado para me filiar ao PMR, mas é um partido de evangélicos e não aceitei.

Mas o senhor é bispo de uma igreja evangélica. Por que não aceitou?
Os meus princípios são republicanos. Eu sei separar as coisas. Igreja e política não se misturam. Jesus disse "a César o que é de César", ou seja, cada coisa no seu lugar. Decidimos fundar outro partido e foi aí que o Partido Republicano Brasileiro (PRB) nasceu.

O senhor tem dito que sofre discriminação por ser bispo de uma igreja evangélica apesar de não ter aceitado se filiar a um partido de evangélicos. Acredita que esse vínculo com a religião o atrapalha na política?
Há discriminação porque as pessoas que me rejeitam nem me conhecem. Elas rejeitam só por saber que sou bispo. As pesquisas mostram que as pessoas me rejeitam por não me conhecer. Os meus adversários são rejeitados pelos que os conhecem.

O senhor conta com o apoio do presidente Lula para conseguir votos?
O apoio do presidente certamente é muito importante. Não só para a minha candidatura, mas para qualquer uma, basta olhar para o governo do Lula. O presidente subiu ao meu palanque no Rio de Janeiro e disse que sou "um companheiro fiel". Ele se dispôs, inclusive, a gravar o programa eleitoral comigo.

É diferente o presidente recomendar o voto no senhor? Tem mais peso?
Claro que sim porque as pessoas que não me conhecem, conhecem o Lula. E não sou eu que estou falando que sou um bom senador, mas o presidente da República.

Qual seria a prioridade do seu governo no Rio de Janeiro?
A segurança pública é uma prioridade. E tenho fundamentalmente três medidas para combater a criminalidade no meu Estado. A primeira é dar poder de Polícia Federal às Forças Armadas e fortalecer as fronteiras do país junto aos países por onde passa o tráfico de drogas. A segunda medida é a despolitização da polícia. Vou trocar todos os que foram indicados para os cargos sem merecimento porque não devo satisfação a ninguém. Sempre fiz carreira solo na política. Depois vou construir presídios para separar os presos que declararem não querer integrar facções criminosas e vou criar um programa de apoio às famílias destes presos. Será um programa para dar incentivos e facilitar o acesso dessas famílias a programas sociais do governo. Além disso, pretendo criar as zonas francas sociais, que irão produzir tudo o que será consumido nos presídios, como lençóis e roupas, pela comunidade local.

O senhor pretende recorrer à Força Nacional de Segurança Pública?
No primeiro dia do meu governo. Eu ajudei a criar a Força Nacional e fiz muita força para que ela fosse treinada no Rio de Janeiro e não na Paraíba, porque se fosse treinada no Rio estaria melhor preparada diante das situações de risco que o Estado tem hoje.

Mas o senhor pretende contar com a Força Nacional até quando?
Sempre. Quero que ela fique no Estado cuidando da segurança pública.

Mas isso não seria muito caro para o Estado?
Caras são as vidas das pessoas. Cara é a vida de uma mãe que perde um filho vítima da violência urbana. Eu vou firmar parcerias com o governo federal para tudo.

Para o que mais o senhor pretende contar com a ajuda do governo federal?
Para ampliar as linhas do metrô, por exemplo. O metrô parou em Copacabana e eu quero fazê-lo chegar até Itaboraí e promover a integração dos transportes. Colocar as vans para circular somente dentro dos bairros e investir em transporte de massa, que é o que resolve o problema. Também vou propor ao governo federal a renegociação da dívida que o Estado do Rio tem com a União.

E como é que pretende sanar as dívidas que a governadora Rosinha Matheus deixará (estimadas em R$ 1 bilhão pelo Tribunal de Contas)?
Fiquem tranqüilos porque aumentar impostos eu não vou. A governadora aumentou em 1% o ICMS (Imposto sobre circulação de mercadorias e serviços) alegando que era uma verba para combater a fome. Eu não farei isso. Tenho três caminhos para aumentar a nossa arrecadação. Primeiro vou tapar todos os buracos por onde escoam a nossa arrecadação de impostos. Vou colocar barreiras nas entradas e saídas da cidade para fiscalizar a cobrança do ICMS. Em segundo lugar, vamos nos beneficiar das grandes obras que estão previstas para o nosso Estado, como a construção da nova refinaria da Petrobras e do parque siderúrgico. E por último, como já disse, vou renegociar a dívida do Estado com a União.

Quais os planos do senhor para a área da educação?
Eu defendo a implantação do ensino integral, mas sei das dificuldades do Estado e sei que não temos salas de aula para manter os alunos o dia todo na escola. Por isso vamos criar centros de integração, com atividades esportivas e culturais, onde as crianças poderão ficar enquanto não estão em aulas. Depois vou acabar com as terceirizações que o governo atual fez na área da educação. Vou realizar concursos públicos porque sabemos que há um déficit de 34 mil professores na rede estadual. Por meio dos concursos, vamos contratar mais professores e recuperar a dignidade desses profissionais.
Também pretendo investir na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) para recuperá-la, pois a nossa universidade tem muito potencial, mas está abandonada.

Reportagem publicada em 26.set.2006.
Todos os candidatos ao governo do Rio de Janeiro foram convidados para conceder entrevista ao UOL.

Nome completo:
Marcelo Bezerra Crivella

Local de nascimento:
Rio de Janeiro (RJ)

Data de nascimento:
9 de outubro de 1957

Profissão: engenheiro civil

Partido: PRB

"Há discriminação porque as pessoas que me rejeitam nem me conhecem. Elas rejeitam só por saber que sou bispo"

Crivella, que tenta desvincular-se do rótulo de político evangélico