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Quércia diz que entrou na disputa para ganhar

Carolina Juliano
Em São Paulo

Foi quase por acaso que Orestes Quércia virou candidato ao governo do Estado de São Paulo este ano. O PMDB não entrou em acordo com o PSDB e resolveu lançar candidato próprio à sucessão estadual. Mas o ex-governador não vê a sua candidatura como uma mera conseqüência de divergências partidárias. Diz que está sentindo nas ruas uma receptividade muito grande e que vai passar ao segundo turno e ganhar a eleição.

Seu programa de governo, coordenado pelo neo-peemedebista Delfim Netto, será centrado em questões humanas, voltadas para a "construção de uma sociedade mais justa". "Nossa bandeira eleitoral poderá ser exatamente esta: a igualdade de oportunidades", disse Quércia à reportagem do UOL.

Sobre apoiar algum dos candidatos à presidência da República ainda no primeiro turno, Quércia diz que o PMDB em São Paulo optou por não apoiar nem o presidente Lula (PT) nem Geraldo Alckmin (PSDB), mas insinuou um possível acordo para apoiar um terceiro candidato. Confira a seguir os principais trechos da entrevista.

UOL - O lançamento da sua candidatura ao governo de São Paulo veio em resposta a uma falta de acordo com o PSDB?

Orestes Quércia
- Não foi bem assim. Pareceu que foi, mas não foi. Havia uma pressão muito grande do partido para que eu fosse candidato. Eu estava segurando essa pressão na perspectiva de uma composição que pudesse ser útil ao partido. Mas a conclusão que eu cheguei foi que a proposta (do PSDB) não era 'para valer'. O prazo estava se esgotando e não havia acordo. Resolvi aderir ao partido. E saí candidato com apoio total do PMDB.

UOL - O PMDB está dividido no apoio à sucessão presidencial. Como está a situação do partido em São Paulo?

Quércia
- Por enquanto a nossa posição é não ter candidato à presidência da República. É questão aberta. No meu palanque não deve subir nenhum candidato. Mas há uma negociação em aberto... nada certo ainda.

UOL - Há negociações para o senhor apoiar algum candidato à Presidência?

Quércia
- Não é nada concreto ainda, melhor não dizer nada. Só digo que não deverá ser nem Lula nem Alckmin.

UOL - A sua candidatura é para valer e não apenas conseqüência de uma falta de acordo partidário?

Quércia
- Claro, é séria. E estou sentindo nas ruas uma receptividade muito grande. Acho que consigo ir para o segundo turno e ganhar a eleição. É o que eu percebo, mas ainda não temos pesquisa. Se bem que não acredito que uma pesquisa mude muita coisa agora.

UOL - Por quem está sendo elaborado o seu programa de governo? Quais os principais pontos?

Quércia
- O deputado Delfim Netto é o coordenador do meu programa e o principal ponto é a Educação. Tenho um projeto amplo de melhoria do ensino fundamental. Uma pesquisa do Ministério da Educação mostrou que é lamentável a situação do ensino fundamental no Brasil, sobretudo em São Paulo. Nesses últimos anos as salas de aula incharam, estão com 50 alunos nas classes e é impossível ensinar 50 alunos de uma vez só.

UOL - O investimento será voltado para o Ensino Fundamental?

Quércia
- No nível universitário eu já atuei no meu governo (1987-1990), quando dei autonomia para as universidades. Hoje, se você compara as universidades de São Paulo com as do restante do País vai ver que houve uma falência das universidades públicas, mas aqui não porque elas têm autonomia e recursos próprios.

Agora vamos atuar no ensino fundamental. As crianças até 11 anos de idade são alunas de escolas municipais e por isso vamos trabalhar em parceria com os prefeitos para melhorar instalações e salários.

UOL - Além da Educação, quais as outras prioridades?

Quércia
- O assunto do momento é a questão da segurança. E meu programa de governo também irá contemplar isso. É uma questão emergencial. O governo tem que tomar conta da segurança urgentemente.

UOL - Qual é a medida emergencial que pode ser tomada para conter a violência urbana?

Quércia
- O problema da segurança é de administração. Há uma inversão de comando. Os diretores de presídios têm que compor com o crime organizado para poder administrar. Isso criou um problema em São Paulo que desmoralizou o comando da Secretaria de Segurança e desmoralizou o comando do governo. A primeira ação do meu governo vai ser acertar essa situação.

UOL - Qual a origem desse problema?

Quércia
- Tratamento ruim para os presidiários, falta de assistência médica para eles, falta de condições. Temos que atender melhor as pessoas. Temos que separar os presos, ver quem é mais perigoso. Tem gente até com pena vencida nos presídios.

Eu sou favorável a uma linha muito rígida no comando da segurança, que é fundamental. Mas do outro lado é preciso ver a realidade de dentro dos presídios. Por exemplo, chegou ao absurdo de os próprios detentos colocarem entre as suas exigências que se aplique a Lei das Execuções Penais. É um absurdo. Os próprios detentos pedindo para que a lei seja aplicada. É uma falta de ação. Há um problema de ingerência.

Esse comando paralelo da Secretaria da Administração Penitenciária é também um absurdo. Os secretários brigam entre si. Nosso plano é acabar com essa secretaria e colocar a administração das penitenciárias como um departamento da secretaria de segurança.

Outra medida é transformar o cargo de diretor de presídio em um cargo técnico, de carreira. Hoje é um cargo político.

UOL - O senhor é a favor de aceitar ajuda do governo federal para a área da Segurança Pública?

Quércia
- Sim. Não tem cabimento obstruir a possibilidade de outro órgão ou outro governo ajudar em certas questões. Há problemas que não são de São Paulo, mas do Brasil. E o governo federal, assim como os municípios, têm responsabilidade sobre o problema. Claro que não vamos deixar o Exército assumir a investigação, mas podemos aceitar que tropas do Exército entrem para proteger os prédios públicos, os presídios, as delegacias. A gente vê no cinema, nos filmes americanos, o FBI agindo em conjunto com a polícia local. É natural.

Mas claro que essas coisas são complicadas de serem feitas em período eleitoral. Temos que perdoar isso no governador Cláudio Lembo. É difícil.

UOL - O principal problema, para o senhor, é de administração?

Quércia
- Não, o grande problema ainda é a falta de assistência jurídica, falta de assistência médica para os presidiários, falta de outras medidas que possam minimizar os problemas internos dos presídios. Porque os presidiários são massa de manobra do crime organizado e se os atendermos melhor eles não vão ser mais massa de manobra. Se você trata uma pessoa como fera, ela responde como fera. Mas se trata como gente, responde como gente.

UOL - O senhor não teme que esse seu discurso baseado na falta de assistência aos presidiários não agrade àqueles eleitores que estão cansados da violência e querem medidas mais severas para conter a criminalidade?

Quércia
- Como isso é causa do problema, não posso deixar de tratar. Há falta de comando, mas também temos que ver os motivos que levaram essa gente a ficar nas mãos do crime organizado. Isso vai fazer parte do meu discurso, não vou deixar de dizer. Tenho dito nas ruas que há que se garantir também o direto dos presos.

UOL - O senhor disse que pretende reativar a Secretaria do Menor.

Quércia
- Vamos reativar com o nome de Secretaria da Criança e do Adolescente. Vamos retomar o trabalho com as crianças de rua para tentar recuperar as pessoas. A Febem vai estar vinculada a essa secretaria, que tratará da assistência e da recuperação dos menores. É o primeiro passo, separar o joio do trigo para que futuramente essas crianças não se tornem irrecuperáveis. Vamos recuperar o mesmo projeto que aplicamos no nosso governo e que foi premiado pela ONU.

UOL - Que outros projetos do seu primeiro governo o senhor pretende recuperar?

Quércia
- O da CDHU. Fui eu que implantei a CDHU aqui em São Paulo e os governos que me seguiram deram continuidade ao projeto. O Alckmin mesmo faz propaganda em cima das casas da CDHU. Podemos fazer isso porque o governo às vezes passa anos e anos sem ocupar todas as verbas e nós queremos ocupar a verba para melhorar as casas populares.
Também vou continuar a investir na construção de linhas de metrô. E estamos estudando meios de buscar recursos no exterior para isso.

UOL - O seu programa de governo tem algum plano específico para o desenvolvimento do interior do Estado?

Quércia
- Sim, além das parcerias com os prefeitos na área da educação, vamos agir principalmente na área da saúde. Quero compor com as prefeituras para tentar melhorar o nível do atendimento. Quando eu assumi o governo, deixado por (André Franco) Montoro, o governo destinava 3% do orçamento do Estado para a Saúde. Aumentei para 12%. Pretendo fazer o mesmo, não sei ainda quanto vai ser, mas é um compromisso meu.

Em suma, hoje a minha preocupação vai ser mais o aspecto humano de São Paulo. Mesmo quando falo que vou fazer metrô também estou pensando no aspecto humano, em dar melhoria de transporte para os mais pobres. Minha preocupação este ano vai no sentido humano.

Todos os candidatos ao governo de São Paulo foram convidados para conceder entrevista ao UOL

Nome completo:
Orestes Quércia

Local de nascimento:
Igaçaba (SP)

Data de nascimento:
18 de agosto de 1938

Profissão: empresário e advogado

Partido: PMDB

"É preciso ver a realidade de dentro dos presídios. Chegamos ao absurdo de os próprios detentos colocarem entre as suas exigências que se aplique a Lei das Execuções Penais. É um absurdo. Os detentos pedindo para que a lei seja aplicada"

Orestes Quércia