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Queremos Alckmin campeão de votos, diz Yeda

Marcelo Gutierres
Da Redação, em São Paulo

É a terceira vez que a economista Yeda Crusius, 62, se lança à disputa por um cargo no Executivo. Candidata do PSDB ao governo do Rio Grande do Sul pelo PSDB, a tucana já concorreu sem sucesso à prefeitura de Porto Alegre em 1996 e 2000. Elegeu-se deputada federal por três legislaturas, a mais recente em 2002. Atualmente, ela preside o PSDB gaúcho.

Ex-ministra do governo Itamar Franco [1992-1994], quando ocupou a pasta do Planejamento, Orçamento e Coordenação da Presidência, em 1993, a tucana surge no cenário político gaúcho como uma tentativa de quebra da polaridade PMDB-PT, presente no Estado desde a campanha de 1994.

A principal proposta de Yeda para combater o rombo nas contas públicas é o choque de gestão, definido por ela como "uma técnica para que, com os mesmos recursos, possa ser feito mais e melhor".

A tucana prega a adoção de medidas compensatórias para enfrentar estiagens que castigam a produção agrícola, uma das forças econômicas do Estado. Em uma palavra, Yeda resume como está a arrecadação de recursos de campanha: "dramática".


UOL - Na campanha presidencial de 2002, o PSDB bateu na tecla da falta de experiência do então candidato Lula como um problema para que ele assumisse o Executivo. Esse argumento se aplica à senhora?

Yeda Crusius
- Não, porque eu já participei do Executivo. Fui ministra do Planejamento, Orçamento e Coordenação da Presidência da República em 1993, no governo Itamar [1992-1994].

UOL - Então a sra. acredita que já tenha experiência para poder...

Yeda
- Sim, essa experiência de primeiro escalão. A experiência executiva eu já tive ao longo da minha vida inteira. Já tive empresa, já dirigi faculdade, coordenei pesquisa, enfim, a minha vida é pautada pelo trabalho inclusive executivo, não exclusivamente executivo, mas inclusive executivo.

UOL - A sra. define choque de gestão como "uma técnica para que com os mesmos recursos possa ser feito mais e melhor". Durante 12 anos, a administração Mario Covas/Geraldo Alckmin do PSDB aplicou essa técnica em São Paulo. A segurança pública ganhou as manchetes nacionais e internacionais negativamente, o rendimento dos estudantes é medíocre, o Estado perdeu indústrias. O que o povo gaúcho pode esperar do PSDB?

Yeda
- O exemplo de choque de gestão feito pelo Aécio Neves [governador de Minas Gerais (PSDB), candidato à reeleição], que foi depois do choque de gestão feito em São Paulo, lhe dá todos os indicadores de como é que esse método evolui. O que está acontecendo em São Paulo não é resultado dessa técnica. Pelo contrário, tem que ser explicado pelo outro conjunto total de variáveis. Se não fosse o choque de gestão, o caos de São Paulo seria equivalente a vários terremotos. Portanto, separá-lo do outro conjunto de circunstâncias, fatores explicativos do que acontece com a educação, com a saúde, com a segurança pública, é, na verdade, pegar só um pedaço. É forçar a barra, como se diz em termos populares. Não há que comparar com um caso estadual e muito menos dizer que o choque de gestão é responsável pela criação do PCC.

UOL - A sra. afirma que pretende zerar o déficit orçamentário nos próximos dois anos caso seja eleita. Como?

Yeda
- Eu só vou saber qual é o tamanho do déficit quando as contas forem abertas e se eu for eleita. Montei um grupo de estudo para analisar por que o Rio Grande do Sul está investindo cada vez menos. Isso aconteceu nos dois governos anteriores, neste [PMDB] e no anterior [PT]. Em parte, zerar o déficit já foi feito pela Assembléia Legislativa com o Pacto pelo Rio Grande, ao se abrir a questão do déficit, que não era conhecido. É preciso vários anos e um pacto verdadeiro com a sociedade, inclusive com outros poderes, para que essa questão passe a se reverter em termos estruturais, ou seja, mudar a forma como se gasta e a forma como se arrecada.

UOL - Pretende seguir alguma determinação do pacto?

Yeda
- O Pacto já contém praticamente todas as linhas que nós propusemos em maio.

UOL - O Rio Grande do Sul tem outro déficit, o da previdência. Os inativos chegam a 53% da folha de pagamento e a idade média do funcionalismo é de 45 anos. Vêm mais aposentados por aí. Qual a solução para esse problema?

Yeda
- O realismo orçamentário está mostrando que o governo estadual tem decrescido seus gastos, inclusive constitucionais, em saúde, habitação, em qualquer outra ação que represente indução do governo ao crescimento econômico. É preciso a criação de um fundo que garanta a aposentadoria, que é um direito dos funcionários públicos. A criação desse fundo é uma técnica que já foi iniciada, mas nunca completada, inclusive aqui no Rio Grande do Sul.

UOL - A sra. não teme uma queda na arrecadação com a criação de um fundo?

Yeda
- Não, pelo contrário. O fundo será feito com aumento de arrecadação extra.

UOL - A sra. não pretende aumentar impostos de jeito nenhum?

Yeda
- Pelo contrário. A Lei Orçamentária promulgada este ano já garante que não haverá aumento da alíquota. Ao mesmo tempo, propõe o realismo orçamentário, que é o que vai dizer quanto teremos para pagar a folha de ativos e inativos e quanto teremos para investir em infra-estrutura, em educação, em saúde básica.

UOL - O PIB gaúcho decresceu em 2005, foi de 4,8% negativos. Como reverter esse quadro?

Yeda
- Não esperando de Brasília o que pode ser feito aqui. A queda do PIB foi fruto de dois fatores principais. O primeiro deles é a seca. Assim como veio, ela se foi e nada mais foi feito para aproveitar a água, as chuvas. A agricultura perdeu em algumas culturas 60% do que plantou. O segundo motivo é a taxa de câmbio, que foi colocada ao chão, o que não permitiu que a venda dos produtos exportados remunerasse os custos. Portanto, um dos fatores não depende de nós, mas os outros dependem. Precisamos, então, atacar a questão estrutural fiscal, mudar a forma de arrecadar e a maneira de gastar. Se a gente fizer isso, vamos ter todas as condições que, independentemente de quem seja o presidente, ir a Brasília e reivindicar o que é nosso: ressarcimento de impostos das exportações. Nós temos de fazer a nossa parte para reivindicar lá em cima [Brasília].

UOL - Qual a sua proposta para criar empregos?

Yeda
- Em primeiro lugar, é evitar o desemprego. Além dos dois problemas que já apontei [seca e taxa de câmbio], não há nenhuma política de inclusão por parte do governo do Estado, assim como não têm rendido nenhum resultado as chamadas políticas de inclusão e emprego do governo federal. O emprego a ser criado é o das forças locais de organização e de crescimento em cada uma das regiões do Rio Grande do Sul. Em segundo lugar, reduzir a informalidade junto com ações de formação de mão-de-obra de nível médio, que é a grande nossa riqueza. E combater a pirataria, com ajuda da Polícia Federal.

UOL - As estiagens castigam o agricultor gaúcho. O que dizer a ele?

Yeda
- Tem de haver medidas compensatórias para estiagens e secas mais fortes e inesperadas, assim como para a flutuação dos preços da agricultura que não contam com nenhum serviço de seguro. Não é preciso que o governo estadual desprenda dinheiro. É necessário que se estruturem medidas compensatórias para essas crises.

UOL - Caso a sra. seja eleita, como será sua relação com o MST?

Yeda
- O MST, como movimento, tem história, tem cultura e ele precisa se ajustar a uma nova realidade: a reforma agrária, assim como vista por ele, tem que ser um instrumento legal, e não ilegal, de ocupação de terras para outros fins que não sejam a própria reforma agrária. O MST tem optado por ações ilegais, predatórias, abusivas. Nesse caso, o governo do Estado tem de dizer, desde o primeiro dia, que a regra é o respeito à lei.

UOL - No setor de educação, a sra. disse que o povo gaúcho tem uma qualificação elevada, mas que ainda há problemas. Como combatê-los sem recursos?

Yeda
- O investimento tem de ser focado para se eliminar o abandono e a repetência. O combate à falta de qualificação do ensino básico é a nossa prioridade. Vamos investir na primeira série do ensino básico, com uma avaliação constante e no preparo do corpo de professores que, eu tenho certeza, está muito triste com o resultado inédito de nós termos baixado de primeiro para sexto lugar (entre alunos da quarta série, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) ou de primeiro para nono lugar (em relação aos alunos de oitava série). Nenhuma professora ou professor pode ficar contente com isso.

UOL - A sra. tem pesquisas internas indicando que a sua candidatura pode chegar ao segundo turno?

Yeda
- Sim. As nossas pesquisas são feitas com métodos diferentes, mas todas apontam que a nossa candidatura tem o maior potencial entre todas. Um exemplo: na [consulta] espontânea, nós temos uma indicação de 2,5%. Quando se apresenta a tabela com os nomes, ela salta para 13%. Isso indica que as pessoas têm na memória a Yeda Crusius deputada e não na Yeda Crusius governadora. O potencial de crescimento é muito alto.

UOL - O governador Germano Rigotto teve um encontro com Geraldo Alckmin [candidato do PSDB à Presidência]. Isso a incomoda?

Yeda
- De jeito nenhum. Nós do PSDB queremos fazer o Alckmin campeão de votos no Rio Grande do Sul para ajudar a elegê-lo. Pelo contrário, incentivo e tenho conversado desde o ano passado pra isso.

UOL - Como está sendo a arrecadação de recursos para a sua campanha?

Yeda
- Dentro do quadro atual, em que os justos pagam pelos injustos, a arrecadação está dramática. Buscamos adequar nossa campanha a essa realidade em que, intimidados, muitos potenciais doadores estejam esperando um pouco mais, por todas as razões que os levem a fazer isso. A política está sendo muito mal olhada. Os bons pagam pelos maus.

Nome Completo:
Yeda Rorato Crusius

Local de nascimento:
São Paulo (SP)

Data de nascimento:
26 de julho de 1944

Profissão: economista

Partido: PSDB

"Se não fosse o choque de gestão, o caos de São Paulo seria equivalente a vários terremotos. "

Yeda Crusius, comentando a adoção do choque de gestão implementado em São Paulo

DRAMÁTICA

Dramática. Assim a tucana Yeda Crusius classifica a arrecadação de recursos para a sua campanha eleitoral. Para ela, os bons pagam pelos maus