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"Lula não precisa de palanque na Bahia", diz Jaques Wagner

Larissa Morais
Em São Paulo

O carioca Jaques Wagner adotou a Bahia há mais de 30 anos, quando teve de deixar o Rio de Janeiro por causa da ditadura militar. Desde então, foi sindicalista e deputado federal por quatro mandatos. Em 2003, após ter disputado o Palácio de Ondina com Paulo Souto (PFL), hoje governador, Wagner tornou-se ministro do Trabalho do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

O ex-ministro ocupou outras pastas e deixou o governo federal em março deste ano para concorrer ao governo baiano e "ganhar a eleição". Wagner diz que não se candidatou novamente apenas para ajudar na campanha pela reeleição do presidente. "Lula não precisa de palanque na Bahia", afirma.

Sobre o PFL, o candidato diz ter boas relações com o governador, mas não tem interesse em relacionar-se com o senador Antonio Carlos Magalhães, segundo ele uma "figura atrasada que atrapalha a Bahia".

Em trajetória crescente nas pesquisas, com mais aliados e mais tempo no horário eleitoral, Wagner diz acreditar que poderá repetir o desempenho de 2002, quando obteve quase 40% dos votos. Para isso, conta com a popularidade de Lula na Bahia e com um suposto desgaste do PFL, que governa o Estado há 16 anos.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista.



UOL - O sr. deixou o cargo no final de março para concorrer ao governo baiano e, segundo declarou à revista "IstoÉ", dar a Lula "um palanque forte no quarto maior colégio eleitoral do Brasil". O principal objetivo de sua candidatura é ajudar a campanha pela reeleição do presidente?



Wagner - Não. O principal objetivo de minha candidatura é ganhar a eleição, por isso fui candidato em 2002. Acho que a Bahia precisa de uma renovação. O presidente Lula não precisa de palanque na Bahia - ele é o palanque, tanto assim que os prefeitos do PFL ou ficam calados ou pedem votos para Lula, porque não se contrapõem a 70% das intenções de voto da população de suas cidades. Eu é que preciso do presidente para me eleger governador.



UOL - Além da identificação com o presidente Lula, o que o sr. tem feito para ganhar a preferência do eleitorado?



Wagner - O principal conceito com que trabalho é a identidade de projeto político, e aí mostro que nossas trajetórias correram paralelamente. Lula foi presidente de um sindicato em São Paulo, eu fui presidente de um sindicato em Camaçari, na Bahia. Ele foi o primeiro presidente nacional do PT, eu fui o primeiro presidente do partido na Bahia. Ele foi deputado federal, e eu também fui, por três mandatos. Acompanhei-o em todas as campanhas, e aí ele me chamou para ser ministro. Minha amizade de 28 anos com ele é muito boa e me orgulho muito dela. Mas amigos podem pensar diferente. O que fortalece o ponto de unidade entre nós é o PT e o projeto político-administrativo para a Bahia e para o Brasil. Minha experiência como ministro serve muito para trazer esse modelo de governo para a Bahia. Tenho dito isso para as pessoas: se você está gostando do que está vendo em nível nacional, é isso o que quero implementar aqui - prioridade para o social, diálogo com a sociedade civil na condução do governo, ética e combate à corrupção.



UOL - O governador Paulo Souto acusa o governo federal de excluir a Bahia dos programas para o Nordeste. O sr., ao contrário, tem dito que as melhorias no Estado devem-se às ações de Lula. O governo estadual não tem nenhum mérito?



Wagner - A única pergunta que gostaria de fazer ao Paulo Souto é: por que todo esse desempenho só ocorreu no quarto mandato do PFL? Ele é do mesmo grupo político que governa a Bahia há 16 anos, foi vice-governador, foi governador por dois mandatos. Nos outros três mandatos, eles não superaram o crescimento brasileiro, não geraram empregos, nem diminuíram a pobreza. É mera coincidência ou é acaso? O quarto mandato do PFL coincide com o governo Lula, que só este ano colocou R$ 2,2 bilhões na economia baiana através dos programas sociais. É claro que não vou zerar o trabalho do governo estadual, porque não trabalho assim. É óbvio que o governo estadual está fazendo a parte dele, de alguma forma. Mas salta aos olhos que colocamos R$ 500 milhões a mais por ano na Bahia em investimento em saúde; botamos R$ 1 bilhão por ano em Bolsa Família. As empresas primeiro escolhem o país, e depois o Estado. Tudo o que o governo do PFL conseguiu não foi por meio de transação direta com o estrangeiro. O governo federal atrai, e aí as pessoas escolhem, é óbvio que há parceria. Refuto totalmente a acusação do governador, que agora começa a dizer que é amigo do presidente. Estranho que ele diga que Lula o discrimina num dia e, como isso tem dado resultados eleitorais ruins para ele, agora está dizendo que é amigo.



UOL - O PFL governa a Bahia desde 1990, sem interrupções. A que o senhor atribui a popularidade de ACM, Souto e demais integrantes do partido?



Wagner - Eles dominaram o Estado durante muito tempo por ter o controle da mídia e do Judiciário. Não acho que eles tenham popularidade, o que pode parecer contraditório para quem ganha as eleições. Nos pleitos de 1990, 1994, 1998 e 2002, eles nunca ultrapassaram a marca de 30% do total do colégio eleitoral - descontando brancos, nulos e abstenções, isso vai para mais de 50%. Na minha opinião eles têm um teto, não têm popularidade para ampliar. Têm o público deles, mas não crescem, e é estranho ter o mesmo percentual após 16 anos. Creio que sua popularidade tem caído ano após ano.



UOL - Qual é o legado destes 16 anos no poder?



Wagner - A Bahia é a sexta maior economia do país, mas na avaliação social é a sexta pior saúde pública, é a sexta pior educação do país. Essa é a marca do aprofundamento da desigualdade do PFL, que governa através de um processo de discriminação e perseguição muito grande. As maiores empresas tiraram suas sedes da Bahia e levaram para São Paulo e Rio. É um sistema sinceramente ultrapassado, é o que eu ouço de investidores e empresários. A Bahia tem um potencial muito grande - uma natureza riquíssima, um povo trabalhador. O governo do PFL hoje tem duplo comando - ninguém sabe se quem governa é o governador ou o senador. A figura de ACM é hoje atrasada, que atrapalha mais do que contribui para a Bahia.



UOL - O sr. tem procurado ganhar apoio da chamada "banda B" do PFL. O apoio desse grupo não compromete o compromisso de mudança proposto por sua candidatura?



Wagner - Como o PFL controlava muito a mídia, o Judiciário e todo o sistema de poder local, muita gente ficava refém de ser a chamada banda B, a exemplo do que ocorreu nos governos militares. A partir dos ganhos de autonomia do Poder Judiciário e do desgaste cada vez maior, muita gente da antiga banda B tem saído. Não acho que isso comprometa porque as pessoas sabem como é meu jeito de agir e, ao trazer novas adesões, sabem o padrão de comportamento que nós teremos no governo.



UOL - Essa ala dissidente teria espaço no seu governo?



Wagner - Eu não chamaria de ala dissidente do PFL. Na verdade, é uma ala dissidente do governo estadual, porque tem gente do PL, do PMDB, do PSDB. Eles mantinham um controle total nos municípios, e as pessoas estão se libertando disso, estão abandonado a escravidão que era ficar refém do governo estadual. Tem muita gente boa, e quem não tiver o pensamento do governo vai inevitavelmente sentir que não tem espaço.



UOL - Como ministro do governo Lula, o sr. se tornou conhecido pela facilidade de diálogo e de pacificar os ânimos. O seu relacionamento com o PFL baiano também é tranqüilo?



Wagner - Em campanha inevitavelmente as críticas aparecem, o que é normal, desde que não se transformem em crítica pessoal. Fui deputado por doze anos, e sou um homem de agregação, de negociação, de conciliação. Com algumas pessoas do PFL tenho relacionamento normal, até com o governador - muitas foram as coisas que ele demandou através de mim ao governo federal e que foram atendidas. Com o senador ACM eu não tenho nenhum interesse em ter relação, porque o considero uma figura arcaica, com valores que não justificam a perda de energia no contato com ele.



UOL - Apesar da alta popularidade de Lula na Bahia, Souto continua com altos índices nas pesquisas. A que o sr. atribui essa contradição?



Wagner - Primeiro é preciso deixar claro que Souto não continua com altos índices. A trajetória desde o começo da campanha e do horário eleitoral é outra - a cada pesquisa, o governador cai um pouco e eu subo. Por isso, eles não têm divulgado outras pesquisas. Meu grau de exposição até o começo do programa no rádio e na TV ainda era muito baixo. Minha taxa de conhecimento no início do programa eleitoral era de 34%, enquanto a do governador era de 95%. Portanto, ainda não havia identificação com a minha candidatura, nem com o presidente Lula, o que eu considero natural. Já fui candidato em 2002 e vivi a mesma experiência: saí de 2% e cheguei a 38,5%. Se eu continuar subindo, posso garantir que iremos para o segundo turno. Tanto assim que o PFL agora tenta colar sua imagem à do governo federal, porque sabem que o presidente Lula é um forte puxador de votos na Bahia.



UOL - O sr. alcançou quase 40% na eleição para governador de 2002, quando enfrentou o mesmo adversário. O sr. acha que pode repetir ou superar esse desempenho na eleição deste ano?



Wagner - Tenho certeza que vou superar, porque comparando a eleição de 2002 com a de 2006, em que o PFL melhorou? Na minha opinião, em nada. A única coisa é que, em vez de 12 anos de governo, agora são 16 e, portanto, o desgaste é maior. Em 2002, eu tinha quatro partidos coligados, agora tenho nove partidos, além do PDT do prefeito João Henrique e do ex-governador João Durval, uma parcela do PL e do PSDB. Tinha só sete prefeitos, agora são mais de 60. Tinha dois minutos de televisão, agora tenho nove. Tinha o candidato Lula, que fez 45% no primeiro turno, e agora tenho o presidente Lula que está com cerca de 70% nas pesquisas na Bahia. Não tenho dúvida que nós crescemos e o PFL encolheu - diminui o tempo de televisão, o número de partidos políticos, perdeu quadros como Antonio Imbassahy (ex-prefeito de Salvador, hoje candidato ao Senado pelo PSDB).



UOL - Apesar do crescimento e da importância do Estado, a Bahia segue com altos índices de pobreza. Como resolver isso?



Wagner - Para mim não há milagre. Só é possível resolver isso invertendo prioridades, estendendo o braço do Estado ao apoio às micro e pequenas empresas, aos micro e pequenos agricultores, potencializando sua ação e agregando valor a tudo o que produzem. Atraindo novos investimentos para gerar mais empregos, e apostando muito no investimento social, com faz o governo federal. Quando falamos do Luz para Todos, ele é bom para quem recebe a energia elétrica, mas é ótimo também para quem fabricou fio, poste e para as empresas contratadas para instalação. Quando você dá a Bolsa Família, é bom para quem recebe, mas é ótimo também para o comércio local do interior baiano, que vê seu movimento dinamizado. Gosto de repetir as palavras do presidente Lula, muito sábias, que gasto social não é gasto, é investimento. Melhora a qualidade de vida e a dinâmica da economia. Creio que, quando colocar em prática o meu tripé de prioridades, saúde, educação, geração de trabalho, emprego e renda, essas marcas que entristecem a Bahia não existirão mais.



Todos os candidatos ao governo da Bahia foram convidados para conceder entrevista ao UOL.

Reportagem publicada em 18.set.2006.

Nome Completo:
Jaques Wagner

Local de nascimento:
Rio de Janeiro (RJ)

Data de nascimento:
13 de março de 1951

Profissão: cursou engenharia, mas não concluiu

Partido: PT

"O quarto mandato do PFL coincide com o governo Lula, que só este ano colocou R$ 2,2 bilhões na economia baiana"

Disse Wagner, ao responder se o governo estadual tem méritos no crescimento da economia

APOIO EM FAMÍLIA

Wagner tem o apoio do ex-governador João Durval (PDT), pai de João Henrique Carneiro (PDT), prefeito de Salvador