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"O PT não conta mais com a militância do passado", diz Paulo Souto

Larissa Morais
Da Redação

O governador Paulo Souto é candidato à reeleição pelo PFL, com larga vantagem nas pesquisas sobre seu principal adversário, o ex-ministro Jaques Wagner (PT).

Ligado a Antonio Carlos Magalhães (PFL) desde o início de sua trajetória na política, em 1975, Souto admite a importância da liderança do senador, mas diz ter divergências.

Professor de geologia, Souto é contrário à transposição das águas do Rio São Francisco, projeto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). As críticas ao governo federal são várias e não se restringem ao meio ambiente. Segundo o governador, Lula não tem investido em infra-estrutura, limitando o crescimento dos Estados, principalmente a Bahia. "Tudo que ele tem anunciado para o Nordeste, sistematicamente, tem deixado a Bahia de fora", diz.

Ainda que pertençam a partidos adversários, Souto e Lula têm altos índices de intenções de voto nas pesquisas no Estado. Para o candidato do PFL, esta contradição se explica porque o eleitor baiano está analisando a disputa estadual e a eleição presidencial separadamente.

O governador tem feito parte da vida política da Bahia desde que o PFL voltou a governar o Estado, em 1990. Souto foi vice de ACM na campanha de 1990. Em 1994, elegeu-se governador enfrentando João Durval, então no PMN e hoje líder nas pesquisas para senador. Em 1998, César Borges (PFL) o sucedeu, e Souto foi para o Senado. Em 2002, o ex-governador voltou ao Palácio de Ondina batendo Jaques Wagner.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista.



UOL - O sr. é governador e, portanto, já teve oportunidade de implementar algumas medidas. O que falta ser feito, e o que deve melhorar?


Souto - Com a experiência de quem já está no governo pela segunda vez, e não tem direito de fazer promessas irresponsáveis, diria que o principal eixo do governo é a qualidade nos serviços públicos. Acho que há uma grande demanda na sociedade, por isso temos feito um esforço para dar qualidade nas áreas típicas, como saúde e educação. Depois, políticas públicas em alguns setores, por exemplo, saneamento, habitação, cultura, lazer, voltadas para populações socialmente mais carentes e desprotegidas. Há um grande esforço do ponto de vista de aplicação dos recursos do Estado nestas áreas.

Outra coisa que tem sido característica do Estado, que não depende só dele, mas também de políticas nacionais, é um forte programa de atração de investimentos. O que a Bahia tem feito, tanto que há três anos consecutivos o PIB do Estado tem crescido sempre mais que o do Brasil. Considero fundamental ter uma cultura de atração de investimentos, dar confiabilidade ao empresário. Também é essencial a qualificação da infra-estrutura, que pode ter sido o único fator a restringir um pouco o crescimento do Estado nos últimos anos. Porque alguns tipos dessa estrutura são investimentos tipicamente federais, e outros dependem de recursos do Estado. O Brasil todo está com problemas de infra-estrutura, logística, transporte. A idéia é produzir crescimento de qualidade, que se reflita também na melhoria dos indicadores sociais. A única maneira de promover uma melhoria sustentada é através do crescimento da economia.



UOL - A Bahia tem quase 14 milhões de habitantes e é o quarto colégio eleitoral do país. Apesar disso, ainda enfrenta problemas sociais graves diante de sua importância. Os 16 anos do PFL no governo estadual contribuíram para melhorar este quadro?


Souto - Alguns indicadores sociais precisam melhorar, mas o importante é que eles têm evoluído muito. Por exemplo, chegamos agora a uma média de esperança de vida praticamente igual à média nacional - para um Estado do Nordeste, isso é importante. Nós estamos reduzindo drasticamente as taxas de mortalidade infantil. Temos reduzido fortemente as taxas de analfabetismo, embora ainda haja - como no país todo - problemas relativamente graves na qualidade do ensino. A queda dos índices de pobreza, segundo dados da Fundação Getúlio Vargas de 2005, foi maior que a média brasileira. Isso é importante num Estado com a maior população rural do Brasil. Acho que o Estado tem dado exemplo de responsabilidade na gestão pública, com capacidade de investimento, apesar do problema que todos os Estados sofrem hoje, uma enorme concentração dos recursos tributários nas mãos da União.



UOL - A mesma pesquisa Ibope que aponta a vitória do sr. no primeiro turno (com 56% contra 13% do Wagner), aponta a vitória de Lula, na Bahia, por 62% a 14% de Alckmin. Como explica que o baiano, ao mesmo tempo, tenha no momento pretensões de reeleger o sr. e Lula?


Souto - Isso mostra uma certa distinção, mostra que a eleição não está federalizada, que o eleitor está muito preocupado com as questões estaduais e locais e está analisando isso diferentemente e com cuidado. O interessante é que, embora ainda seja um índice baixo, rapidamente Alckmin pulou aqui de 6%, 8%, para 14%. Há uma tendência, portanto, de mudança relativamente acelerada - vamos ver como se comporta na frente. A idéia de que existe certa coincidência na votação mostra até agora pouca influência e inter-relação entre as duas eleições. Mas esperamos um crescimento muito significativo do Alckmin aqui em agosto.



UOL - A que o sr. atribui o bom desempenho nas pesquisas?


Souto - Primeiro, a uma boa avaliação do governo. O governo está bem avaliado, tem credibilidade, mostra bem à população que qualquer governo tem problemas a enfrentar e não pode resolver todos. Digo isso de forma muito clara, mas tenho preocupação em cumprir compromissos, o que influencia muito na credibilidade. O bom desempenho também se deve às ações que o governo vem fazendo na capital e no interior. Este é um ponto bastante diferente nesta eleição - as pesquisas mostram uma tendência completamente distinta do que aconteceu em 2002 na capital. Em Salvador, a mesma pesquisa Ibope dá 50% para mim, contra 15% do Wagner.



UOL - Apesar de o sr. contar com mais de 50% das intenções de voto nas pesquisas, o candidato de sua coligação ao Senado, o senador Rodolpho Tourinho, obteve apenas 2% no último levantamento do Ibope. Por quê? Como o PFL pretende reverter esse quadro?


Souto - Hoje ele é senador, foi suplente em 2002 e não tinha inicialmente planos de se candidatar, mas a situação convergiu para isso. Esperamos que, à medida que o nome dele se torne conhecido, que mostre seu trabalho, ele venha a reagir.



UOL - Por que o PSDB baiano não quis apoiá-lo?


Souto - No dia 1º de agosto me reuni com aproximadamente 30 prefeitos eleitos por partidos adversários e que estão me apoiando. O PSDB não deu o apoio formal da cúpula do partido, por motivos que não quero analisar. Mas eu diria que 80% das bases do partido estão me apoiando. O importante é que mesmo as bases que até votam nele para deputado estão em maioria comigo para governador.



UOL - O sr. acha que essa mesma cúpula vai acabar declarando apoio a algum candidato ao governo?


Souto - Acho que a tendência é manter essa posição, que é uma neutralidade de um ponto de vista quase pessoal. Mas, à medida que as bases do partido foram liberadas, a absoluta maioria delas está conosco, sem que aparentemente haja uma restrição da cúpula do partido.



UOL - Quando Geraldo Alckmin estiver na Bahia, haverá dois palanques?


Souto - Já aconteceu este fato, ele já esteve em Barreiras, e aconteceu assim lá. Foram dois eventos separados. Mas, do ponto de vista do PFL, não faremos nenhuma restrição a quem quiser participar de nossos eventos.



UOL - O que o sr. pretende fazer pela candidatura Alckmin no Estado da Bahia? Como transferir sua popularidade a ele?


Souto - O candidato lançou no dia 4 de agosto um plano para o Nordeste, e nós vamos mostrar à população as idéias dele para a região, para a Bahia. Não é uma questão de transferir minha popularidade. Claro que já estou e vou continuar pedindo voto para ele. Mas acho que o importante é mostrar à população o que ele pretende fazer pelo país, por nossa região e pelo nosso Estado.



UOL - ACM tem feito duras críticas e até ofensas pessoais a Lula. O sr. tem sido mais comedido. Isso tem relação com a popularidade do presidente entre os baianos?


Souto - É mais uma questão de estilo, e o senador está mais envolvido na discussão dos problemas nacionais. As minhas críticas são, sobretudo, no sentido de uma certa omissão em problemas muito importantes para o Estado.



UOL - O sr. tem outras críticas a Lula?


Souto - Tenho dito sempre que, infelizmente, a Bahia tem ficado de lado dos grandes projetos que o governo tem anunciado para o Nordeste - não diria nem que tem concretizado, porque não sei se algum já começou. Tudo que ele tem anunciado para o Nordeste, sistematicamente, tem deixado a Bahia de fora. Os projetos de infra-estrutura, de logística, de recursos hídricos, esses projetos todos têm passado ao largo da Bahia. Tenho criticado muito e não me conformo com isso, pois somos o maior Estado industrial do Nordeste, o maior Estado agrícola, o maior do ponto de vista de fluxo turístico, o maior exportador. Então, não tem sentido que a Bahia fique de fora dos grandes projetos. Essa é minha crítica principal.



UOL - O sr. tem elogios a fazer?


Souto - Acho que o governo tem tido esses problemas com o Estado, mas há alguns programas bons. Por exemplo, os programas na área de habitação que o governo está fazendo com os governos estaduais que querem participar, que botam recursos, que mobilizam as prefeituras...



UOL - E o Bolsa-Família?


Souto - Acho apenas que precisaria ser completado, suplementado com uma atividade que cuidasse também de programas de geração de trabalho. Nós aqui temos algumas dezenas de programas desse tipo, principalmente na área rural. São programas integrados que compreendem infra-estrutura, crédito, assistência, tecnologia do pequeno produtor, com o objetivo que ele possa efetivamente estar capacitado para uma atividade de trabalho e geração de renda. Acho que o programa tem sentido para assistir uma parte muito desprotegida da população, mas seria essencial, para que tenha reflexos no país, que fosse acompanhado de programas de geração de trabalho e renda.



UOL - O sr. é geólogo e vem se posicionando contra a transposição das águas do Rio São Francisco. Lula é a favor. Como pretende negociar o assunto com o presidente, se vocês forem reeleitos?


Souto - Da forma como o projeto foi concebido, com esse projeto que aí está, nós vamos continuar sendo contra. Se o governo tiver força pra fazer, vai fazer. Mas não tenho que negociar porque acho que é um projeto equivocado. O que eu sempre defendi é que, além dos programas de revitalização do rio, se concebesse um plano decenal de recursos hídricos para o Nordeste. Dentro desse plano, que a meu ver teria de começar necessariamente pela distribuição da água que já existe e está armazenada, se veria em que época seria necessária uma transposição voltada para o abastecimento humano. Porque não tem absolutamente nenhum sentido você transportar água daquele lugar, e levar para o Nordeste setentrional, a centenas de quilômetros de distância, água para utilização econômica. Isso não resiste à menor análise de custo/benefício. Agora, água para atender à necessidade da população, tem que ser visto num plano de longo prazo, decenal, que faça o diagnóstico dessa situação.



UOL - Como o sr. tem conseguido combinar as agendas de governador e de candidato? Qual é a prioridade?


Souto - O governo continua funcionando normalmente. Tenho dedicado grande parte do meu tempo à administração, estou despachando normalmente com meus secretários, e estou acompanhando as obras do governo. Inauguramos uma penitenciária nova, a primeira delegacia de proteção aos idosos. O programa de estradas continua. Continuo dando grande atenção ao governo, com esforço maior para fazer as duas coisas. O governo está intacto, sem prejuízo, está separado da campanha. Por enquanto, tenho concentrado minhas idas ao interior nas sextas, sábados e domingos.



UOL - O sr. enfrentou o mesmo adversário em 2002. Depois disso, Jaques Wagner foi ministro de três pastas de um governo altamente popular no Nordeste. São campanhas muito diferentes, após o primeiro mandato de Lula e os escândalos de corrupção envolvendo o PT?


Souto - Até agora não tenho me utilizado desses problemas éticos que aconteceram com o PT. Estou preferindo fazer a campanha como sempre fiz, mostrando o que estou fazendo no governo e o que pretendo fazer. Mas é claro que isso tem reflexos na campanha. Eles não contam mais com a militância do passado, não têm mais a aceitação do povo como um partido que iria mudar costumes políticos no país. É evidente que tudo isso tem facilitado, mas não tomo como um ponto de minha campanha. Vou continuar falando da Bahia, dos meus programas, mostrando os feitos do governo, e também os problemas, a enorme dívida do governo federal com o Estado.



UOL - Mas o governo Lula tem um favoritismo considerável na Bahia. As pesquisas indicam que Wagner não tem conseguido colar sua imagem à de Lula. O sr. acha que isso pode acontecer?


Souto - Sinto que a população está separando muito as coisas. Ela quer saber, na Bahia, quem tem trabalhado, quem tem condições de trabalhar, quem tem história de trabalho, quem conhece o Estado. A evidência até aqui é que a população separa perfeitamente isso.



UOL - Em 2002, Wagner obteve 240 mil votos a mais que o sr. na capital, e disse no dia 30 de julho que pretende dobrar esta diferença.


Souto - Todo mundo tem direito a ter vontade, mas a realidade tem mostrado algo completamente diferente. Há uma grande desilusão com nossos adversários. Não quero entrar em considerações de ordem pessoal, mas acho que a população de Salvador, por exemplo, está satisfeita com o trabalho do governo do Estado, e naturalmente tem sua avaliação sobre o candidato adversário, até agora não muito boa.



UOL - O sr. começou na política através do senador Antonio Carlos Magalhães, que não tem mais a mesma projeção no cenário político nacional desde 2001, quando renunciou ao mandato para não ser cassado em meio ao escândalo da violação do painel do Senado. No entanto, ainda tem bastante influência na Bahia e é conhecido por seu personalismo. Em que medida o sr. depende de ACM para fazer política?


Souto - Pertencemos ao mesmo grupo, e até agora temos trabalhado conjuntamente. Isso não significa que não tenhamos idéias e posições diferentes, o que certamente temos. Mas temos participado de muitas lutas - felizmente, a grande maioria vitoriosas -, juntando nossos esforços. Ele tem uma liderança muito forte no Estado. E até agora temos conseguido conjugar essas forças e, graças a Deus, obter grandes vitórias.



Todos os candidatos ao governo da Bahia foram convidados para conceder entrevista ao UOL.

Reportagem publicada em 15.set.2006

Nome Completo:
Paulo Ganem Souto

Local de nascimento:
Caetité (BA)

Data de nascimento:
19 de novembro
de 1943

Profissão: Geólogo

Partido: PFL, desde 1985

"Tudo que Lula anuncia para o Nordeste tem deixado a Bahia de fora"

Declarou Paulo Souto, ao responder se tem críticas ao presidente

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