UOL EleiçõesUOL Eleições
 Bruno Miranda/Folha Imagem

JOSÉ SERRA

Serra vence, amplia ciclos e se cacifa para 2010

Da Redação

Em São Paulo

Ao vencer no primeiro turno, com certa tranqüilidade, uma eleição em que sempre apareceu como favorito disparado, José Serra, 64, ganhou para seu partido o direito de completar 16 anos à frente do mais rico Estado do Brasil. E, pessoalmente, completará um vasto ciclo de experiências administrativas, impondo seu nome como um dos mais fortes para a disputa presidencial de 2010.

Convicções ideológicas à parte, com o novo cargo obtido, o tucano provavelmente vai se tornar o político com maior lastro administrativo do país. Ele foi secretário de Estado (Economia e Planejamento em SP, no governo de Franco Montoro, entre 1983 e 1986), deputado federal (1986-1994), senador (eleito em 1994, ocupou o cargo de 1996 a 1998), ministro (duas vezes, do Planejamento, entre 1994 e 1996, e da Saúde, entre 1998 e 2002) prefeito (2005-2006) e, agora, governador. Ou seja, ao longo de sua trajetória, ocupou praticamente todos os cargos políticos relevantes à exceção do maior deles, a Presidência da República.

SERRA: MINHA BIOGRAFIA VENCEU
Nilton Fukuda/Folha Imagem
O governador de São Paulo eleito, José Serra (PSDB), afirmou no fim deste domingo que os eleitores de São Paulo disseram "sim" a uma "campanha limpa", à sua biografia e a de seu partido e "não às tramóias", referindo-se aos adversários.
LEIA MAIS
Daí o peso que a nova vitória eleitoral acrescenta ao tucano, que deixou a Prefeitura de São Paulo depois de ocupar o posto por apenas 15 meses. Com o comando do segundo maior orçamento do país aliado à imagem de eficiência que anexou a seu currículo e às expressivas votações que vem obtendo recentemente, Serra deverá ser referência obrigatória do quadro político nacional, pelo menos pelos próximos quatro anos.

Derrotado por Lula na disputa presidencial de 2002, o tucano era considerado o candidato natural do partido ao Planalto neste ano. O então prefeito de São Paulo tinha mais intenções de votos do que Geraldo Alckmin e apostou que as pesquisas o alçariam à condição de postulante à Presidência. Entretanto, o então governador do Estado conseguiu mobilizar o partido, e Serra decidiu concorrer ao governo paulista.

Na campanha, a atitude de faltar à promessa assinada por escrito, diante de jornalistas da "Folha de S.Paulo", de cumprir na íntegra o mandato de prefeito de São Paulo caso fosse eleito, foi utilizada à exaustão por adversários, mas não gerou grande comoção por parte dos paulistanos -apesar de seu vice e sucessor, Gilberto Kassab, pertencer ao PFL, partido com histórico fraco em São Paulo e, durante a campanha à Prefeitura, em 2004, a oposição ter utilizado acusações de que Kassab havia enriquecido ilicitamente após começar a ocupar cargos públicos.

CENAS DA CAMPANHA

Bruno Miranda/Folha Imagem

Caminhada na Mooca

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem

Com Aécio, no lançamento do programa de Alckmin

Joel Silva/Folha Imagem

Come pastel em Jaboticabal

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem

Com FHC e Alckmin em ato anti-PT em São Paulo

Rodrigo Paiva/Folha Imagem

Berra em Mauá

Daniel Guimarães/Divulgação

Pega ônibus no 'dia sem carro' em SP

Raimundo Pocco/Folha Imagem

Bebe cerveja em Campinas

Desde 31 de março, quando anunciou a decisão de concorrer ao governo, a vitória de Serra nunca pareceu ameaçada. Exceto por duas pesquisas, Ibope e Datafolha, realizadas nas primeiras semanas de setembro, que apontavam um crescimento de cinco pontos percentuais do petista Aloizio Mercadante, seu principal concorrente. Entretanto, no momento em que a candidatura do senador mostrava potencial para decolar, emergiu a crise do dossiê. E Serra saiu fortalecido.

Os pivôs do escândalo da máfia dos sanguessugas, Darci e Luiz Antônio Vedoin, acusaram Serra de facilitar a liberação de verbas para compras de ambulância no esquema montado por eles quando o tucano era Ministro da Saúde de FHC. As acusações foram publicadas pela revista "IstoÉ" no mesmo dia em que a Polícia Federal prendeu dois petistas com R$ 1,7 milhão, dinheiro que seria usado para comprar um dossiê que incluía fotos de Serra ao lado de deputados envolvidos no esquema em cerimônias de entrega de ambulância. E do "pacote" que seria comprado por petistas fazia parte a publicação das denúncias com suposto potencial para abalar a candidatura de Serra.

Poucos dias mais tarde, os Vedoin retiraram as acusações contra o ex-prefeito, apesar de manterem as denúncias acerca do envolvimento de Barjas Negri, ex-secretário executivo do tucano no Ministério da Saúde e, depois, seu sucessor no cargo, com o empresário Abel Pereira, que intermediaria a liberação de verbas. E descobriu-se que Hamilton Lacerda, ex-coordenador da campanha de Mercadante, estava envolvido no episódio.

A partir daí, a campanha de Serra ganhou ainda mais força. A ponto de o tucano sentir-se confortável para participar do debate promovido pela "TV Globo" e dar-se ao luxo de referir-se ao escândalo e criticar o principal rival apenas em suas considerações finais. E, mesmo assim, de forma relativamente pouco incisiva.

Assim, o filho de imigrantes italianos, que nasceu no bairro da Mooca, na zona leste da capital paulista, e é casado com Mônica Allende Serra, com quem tem dois filhos e dois netos, levará ao Palácio dos Bandeirantes seu estilo centralizador, o trabalho com fuso horário pouco usual -o tucano acorda na hora do almoço e trabalha até a madrugada- e o pó de guaraná, que costuma usar com freqüência, de acordo com reportagem da "Folha de S.Paulo".

E dará seqüência à trajetória política que sucedeu o passado de líder estudantil -Serra foi presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) em 1963-, exilado da ditatura -morou no Chile, onde conheceu Mônica e tornou-se mestre em economia, e nos EUA, onde fez doutourado- na década de 70 e professor da Unicamp, universidade que ainda paga quase R$ 7 mil ao governador eleito de São Paulo todos os meses.







Data de nascimento:
19/03/1942

Local: São Paulo

Partido: PSDB

Formação profissional: economista

Hobbies: assistir a jogos do Palmeiras

Na eleição presidencial [de 2002], eu disse que as pessoas que iam votar no Lula se enganariam se achavam que estavam votando num governo mais à esquerda. [O governo mais à esquerda] não seria o Lula, seria eu.

Serra, dizendo que fará um governo "de esquerda" no Estado de São Paulo

38

programas de TV foram veiculados por Serra no horário eleitoral. Em nenhum deles o tucano detalhou propostas para a segurança pública, um de seus maiores desafios no novo cargo, de acordo com reportagem da "Folha de S.Paulo"

Agora é... Kassab

Como afirmava "slogan" da campanha de Marta Suplicy, derrotada por Serra na eleição à Prefeitura de São Paulo, em 2004, o tucano deixou o cargo de prefeito mesmo após ter assinado documento em que se comprometia a cumprir o mandato. Agora, poderá ter no ex-vice, Gilberto Kassab (PFL), hoje o prefeito de São Paulo, um parceiro para eventuais políticas públicas.