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Plínio Sampaio

Nome: Plínio Arruda Sampaio

Data de nascimento: 26 de julho de 1930

Local: São Paulo (SP)

Partido: Partido Socialismo e Liberdade (PSOL)

Tempo de partido: desde 09/2005

Partidos anteriores: PT

Formação profissional: advogado

"Candidato não é sabonete", diz Sampaio

Marina Motomura
Da Redação
Em São Paulo

Aos 75 anos, o candidato do PSOL ao governo de São Paulo, Plínio Arruda Sampaio, pretende fazer uma campanha à moda antiga, mas nem tanto. O candidato socialista afirma abrir mão dos artifícios de marketing ("candidato não é sabonete", diz), ao mesmo tempo em que recorrerá às ferramentas modernas da Internet para divulgar suas idéias.

Nascido em 26 de julho de 1930 em São Paulo, Sampaio é casado, tem seis filhos e 12 netos. É a segunda vez que concorre ao Palácio dos Bandeirantes: em 1990, quando disputou pelo PT, ficou em quarto lugar, com 12,1% dos votos, atrás de Paulo Maluf, Luiz Antônio Fleury e Mario Covas.

A carreira política começou bem antes da fundação do PT. Na Faculdade de Direito, foi militante da Juventude Universitária Católica (JUC). Durante a ditadura militar, participou de protestos contra o regime e esteve entre os cem primeiros brasileiros cassados.

A cassação levou-o ao exílio no Chile, quando começou a trabalhar na FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação). No Chile, travou contato com Fernando Henrique Cardoso, com quem estreitaria laços na década de 70. Sampaio e FHC chegaram a articular a formação de um partido socialista no Brasil, junto com nomes como Almino Affonso, Marcos Freire e Jarbas Vasconcelos.

A parceria não vingou - tampouco o embrião do partido. "Fui um dos coordenadores da campanha do Fernando a senador em 1976, fomos aliados. Mas ele ficou fascinado pela idéia de ser presidente da República e preferiu ir para o PMDB. Eu rompi exatamente porque ele não quis sair do PMDB para fundar o partido novo. Fiquei fora, e quando se formou o PT, entrei no PT", afirmou Sampaio em entrevista ao UOL.

Segunda campanha para governador
O ano era 1980. Sampaio não podia prever naquela época, mas acabara de cortar relações com FHC, futuro presidente, para aliar-se a outro futuro ocupante do Palácio do Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva, com quem também viria a romper.

O rompimento de Sampaio com o PT demorou 25 anos para acontecer. Antes disso, ele foi deputado federal pela sigla, de 1986 a 1991, e candidato a governador, em 1990. Em 1989, foi também o coordenador da primeira campanha de Lula à Presidência - o petista acabou derrotado por Fernando Collor de Mello.

Quando Lula foi eleito presidente, em 2002, Sampaio já encontrava sinais de "inclinação à direita" no PT. Mesmo assim, continuou colaborando com o presidente e chegou a elaborar um Plano Nacional de Reforma Agrária, em 2003. A política econômica e o que ele considera a reduzida ação no campo social do governo Lula afastaram Sampaio definitivamente do PT. Sua última tentativa de permanecer no partido foi na eleição interna, no final de 2005. "Quando você está em uma organização e está descontente, você primeiro tenta fazer a mudança lá dentro mesmo. Por isso eu saí candidato a presidente do PT. Foi o último esforço que eu fiz", afirma.

No primeiro turno das eleições internas, Sampaio, candidato pela corrente Ação Popular Socialista, teve 13,4% dos votos dos quase 295 mil petistas que foram às urnas. A vitória ficou com o Campo Majoritário, do candidato Ricardo Berzoini, ex-ministro de Lula.

A derrota no partido foi o estopim para a saída do PT - além dele, cerca de 400 filiados, como o deputado Ivan Valente, deixaram a legenda rumo ao PSOL.

Agora, o partido lança Sampaio para bater de frente contra seus ex-aliados - a disputa pelo governo do Estado, a exemplo do que acontece no plano federal, deve ser protagonizada por PSDB e PT. Mas essa polarização, segundo Plínio, é falsa. "A oposição entre o PT e o PSDB é uma oposição política, mas, na verdade, são maneiras de encarar o mesmo projeto, que é o de inserir o Brasil na ordem internacional", afirma.

Os 12 anos de governo do PSDB no Estado são, para Sampaio, prova disso. "O que eu vejo é que é um governo das classes dominantes. Não existe a intenção de romper a dependência econômica, de enfrentar o imperialismo, e, por outro lado, diminuir realmente as disparidades sociais. É um governo que quer atenuar essas diferenças, com medidas compensatórias que apenas diminuem a pressão social. Mas não querem mudar de verdade", afirma.

Eleição ajuda a organizar o PSOL
Contra mais do mesmo, o PSOL apresenta uma proposta socialista. "Nós queremos que o Brasil tenha uma atitude soberana em relação ao comércio internacional. Internamente, queremos fazer todas as reformas, tributária e agrária, para diminuir a disparidade social no país e tornar mais homogênea a população brasileira", afirma. O partido ainda não tem definido seu programa de governo, mas Plínio Arruda Sampaio afirma que há três eixos principais. O primeiro consiste no combate à barbárie (sinônimo, para ele, de violência), o segundo é a redução da desigualdade e o terceiro é a redução da pobreza, através da reforma agrária e mudança no modelo agrícola.

Este último ponto é defendido por Sampaio há décadas. Ele é presidente da Abra (Associação Brasileira de Reforma Agrária) e aliado ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra). Sampaio apóia, inclusive, protestos e ocupações na luta pela reforma agrária. "É um gesto de desespero dentro de uma sociedade insensível. A sociedade está ficando insensível. Com esses atos, pelo menos isso fica na imprensa durante 15 dias e o povo fica sabendo", diz.

No discurso de Sampaio cabem, além das críticas a Lula e FHC, elogios ao presidente da Bolívia Evo Morales. "A nacionalização é um gesto maravilhoso, que merece aplauso. Uma riqueza natural importante como o petróleo é do povo, não pode ser de uma empresa privada nem de uma empresa de outro país. Acho que o Evo Morales atuou bem. Ninguém acredita que um político faça o que fala, e ele fez", afirma.

Fiel às propostas socialistas, Sampaio afirma que só entram partidos de esquerda em sua chapa ao governo, mas não adianta nomes.

A fidelidade aos ideais, no entanto, vai interferir diretamente na campanha. A coalizão com partidos pequenos vai dar ao PSOL pouco tempo de propaganda no horário eleitoral gratuito. Além disso, o fato de ser filiado a um partido relativamente recente se reflete no número de diretórios no Estado de São Paulo - apenas cerca de 100 das 645 cidades do Estado têm núcleos do partido. "Vamos procurar suprir esses problemas isso através de uma série de atividades, com campanha na rua e na internet", diz.

Sampaio nega que a candidatura do PSOL seja de protesto ("é uma campanha para valer"), mas reconhece as dificuldades para vencer. "As eleições servem inclusive para montar o partido, para divulgar as idéias. Vamos aproveitar a campanha para deixar núcleos firmes em várias cidades do estado, para continuar uma marcha, não vai acabar aí."

A campanha deve ser espartana. "Vou abrir mão totalmente dos marqueteiros. Não tem cabimento. Um candidato não é um sabonete, não é um produto que precisa de um envoltório", critica. "Uma coisa é usar técnicas de se comunicar com o povo. Outra coisa é a propaganda, que consiste em excitar a imaginação das pessoas. Isso eu não acho que seja correto para uma decisão política. Eu acho que o candidato deve expor claramente o que ele pensa dos problemas do Brasil. Nada disso de me transformar em um jovenzinho", diz, rindo.








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