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05/10/2006 - 19h42

Constrangido, Alckmin promete apoiar Jaques Wagner se for eleito

Por Natuza Nery

SALVADOR (Reuters) - Geraldo Alckmin pisou nesta quinta-feira em um campo minado. Derrotado na Bahia por uma margem expressiva de votos, o candidato à Presidência pela coligação PSDB-PFL enfrentou, no reduto eleitoral do adversário, o constrangimento da divisão local entre as duas legendas que sustentam sua chapa e teve de declarar "parceria" ao petista recém-eleito governador do Estado, Jaques Wagner, caso seja eleito.

Wagner é um dos principais cabos eleitorais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato à reeleição, e teve uma vitória surpreendente na Bahia, interrompendo a hegemonia do senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA). O candidato Paulo Souto, afilhado político de ACM, perdeu a disputa após todos os institutos de pesquisa apontá-lo como favorito.

O presidenciável marcou sua visita ao Estado após um pedido do próprio ACM, que organizou um encontro com cerca de 150 lideranças políticas regionais. Como o evento iria melindrar o PSDB local, adversário do chamado "carlismo", foi incluído de última hora na agenda do tucano um encontro com seus colegas de partido.

Mas a reunião do tucanato acabou provocando uma saia justa. O líder do PSDB na Câmara e presidente do partido na Bahia, deputado Jutahy Magalhães, declarou, diante do candidato, que votou em Jaques Wagner, dizendo estar "muito feliz" com a vitória do petista. Em seguida, fez dois pedidos especiais ao correligionário: vencer a disputa nacional e, eleito, atender "todos os pleitos" do petista.

"Se aqui na Bahia passar a idéia de que sua vitória é a tábua de salvação do carlismo, sua derrota será imensa", disparou o deputado.

Alckmin, demonstrando incômodo, não comentou a alfinetada em ACM, mas entendeu o recado. Ao longo do dia, repetiu inúmeras vezes que trataria o "companheiro Jaques Wagner" como "parceiro."

O objetivo da declaração é não perder votos de eleitores que pensam que ele esquecerá o Estado caso assuma o Palácio do Planalto e esconde, nas entrelinhas, o temor de alguns baianos de uma reedição do cenário político de 1986.

Naquele ano, Waldir Pires, no PMDB, fora eleito governador, colocando a influência de ACM no exílio por quatro anos.

"A moeda de troca que ACM vai pedir é impedir o governo Jaques Wagner, como fez em 1986 com Waldir Pires", acrescentou Jutahy, acusando o adversário de inviabilizar, na época, a administração do peemedebista por mera competição política.

PSDB X PFL

Após ouvir o que não queria, Alckmin trocou de local e de aliado. Desta vez ao lado de Antônio Carlos e Paulo Souto, ele tentou amenizar o efeito das divergências locais.

"São partidos diferentes. Cada Estado tem sua singularidade. Tem Estado em que o PSDB e o PFL estão juntos, o PPS também. Tem Estado (em) que (há) disputa. Aqui, só teve a disputa para o Senado. Acho que a gente tem de respeitar os partidos políticos e somar esforços", disse ele a jornalistas.

Este é mais um capítulo da novela "alianças complicadas". A campanha ainda tenta reverter o mal-estar causado com o prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia, e com a candidata ao governo fluminense, Juíza Denise Frossard (PPS), após o tucano receber o apoio público do ex-governador do Rio Anthony Garotinho, inimigo político dos Maia.

Alguns interlocutores do candidato chegaram a avaliar que não seria uma boa idéia o tucano visitar a Bahia um dia depois de protagonizar a crise carioca, mas estrategistas não tiveram como negar o pedido de ACM, que prometeu trabalhar duro para dar o troco no PT.

Ao lado do senador pefelista, Geraldo Alckmin disse que Lula "virou as costas" aos baianos nesses quase quatro anos de governo. Entretanto, o presidente venceu o primeiro turno no Estado com 66,7 por cento dos votos, ante os 25,7 por cento conquistados pelo tucano.

A Bahia é o principal destino do programa social de Lula, com 1,4 milhão de famílias atendidas, e um dos principais lugares contemplados com o programa Luz Para Todos.

No evento com ACM, uma mulher da platéia gritou: "Isso, diga que vai dobrar o bolsa família", enquanto Geraldo Alckmin prometia "manter" e "ampliar" o programa e realizar investimentos no metrô de Salvador, cujas obras estão engessadas desde a administração federal de Fernando Henrique Cardoso.

"Ele devia ter dito que ia desenvolver o Nordeste como desenvolveu São Paulo", aconselhou um homem que esperava para tirar uma foto com o presidenciável.

Na sexta-feira, é a vez de Lula aterrissar no maior colégio eleitoral do Nordeste. Ele fará um comício no Farol da Barra, onde irá comemorar a principal vitória do PT neste 1o turno.