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02/10/2006 - 12h09

Eleito senador, Collor sinaliza apoio a ex-adversário Lula

Por Maurício Savarese

MACEIÓ (Reuters) - O povo que o senador eleito Fernando Collor (PRTB-AL) chama de seu não deixará só o presidente-candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno das eleições ao Palácio do Planalto, disse o ex-presidente nesta segunda-feira.

EM MACEIÓ
EFE
Collor vota em Maceió
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"Grande parte deste povo que vota por ele (Lula) também vota por mim", disse Collor a jornalistas nesta manhã.

Collor venceu Lula no segundo turno da eleição presidencial em 1989 e foi afastado da Presidência após processo de impeachment em 1992.

Lula enfrentará neste ano o tucano Geraldo Alckmin no segundo turno das eleições, após a votação que deu ao presidente 48,6 por cento dos votos ante 41,6 do candidato do PSDB. "Não faço críticas ao Alckmin, só mostro minha simpatia à candidatura do Lula. Eu entendo que ele é o que melhor para o Brasil, é o que mais compreende a alma nacional, o que melhor se identifica com o país e com o povo", disse Collor.

Apesar disso, o único senador eleito pelo partido nanico PRTB não definiu se pedirá votos para Lula em Alagoas. O Estado elegeu Collor com 550,7 mil votos no domingo, cerca de 44 por cento do total. Com isso, ele bateu o ex-governador Ronaldo Lessa (PDT), que teve 501,2 mil votos.

Ele afirma que volta à Brasília com a "consciência tranquila e alma lavada".

Questionado sobre eventuais mágoas em relação aos que se voltaram contra ele em meio a denúncias de corrupção no seu governo em Brasília, Collor, que portava broche de Nossa Senhora Aparecida na lapela da jaqueta, descartou haver ressentimentos.

"O meu pai sempre disse que quem não sabe virar a página não merece ler o livro. A gente tem de continuar virando as páginas, a vida prossegue. Não tem de ficar olhando para a relação pessoal que se teve no passado para ditar a qualidade da relação no futuro", afirmou o senador eleito.

"Da minha parte eu dialogo com qualquer um. Mas é claro que a conversa só existe se ambas as partes aceitarem", acrescentou o ex-presidente, que comemorou a vitória noite adentro em Maceió com uma carreata de dezenas de carros.

VINTE OITO DIAS QUE ABALARAM ALAGOAS

Para Collor, o seu triunfo em uma campanha de apenas 28 dias e com menos de um minuto de horário gratuito no rádio e na televisão "é uma resposta do povo alagoano às injustiças e ao sofrimento a que eu fui submetido".

Desde que Collor entrou na disputa pela vaga no Senado, o popular ex-governador Lessa despencou nas pesquisas. A queda de Lessa teria se dado, em parte, pelo pouco empenho demonstrado por antigos caciques regionais, como o candidato derrotado ao governo João Lyra (PTB) e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), em sua campanha.

Como no passado, fez uma campanha com forte apelo popular, declarando-se o "senador do povo". Mas adotou uma postura muito mais moderada desta vez. O Collor raivoso, que costumava apresentar punho cerrado e retórica agressiva, moderou o discurso e as atitudes nesta campanha.

Eleito, prevê uma relação respeitosa com os colegas de Senado e com o governador eleito por Alagoas, Teotonio Vilela Filho (PSDB).

"Vai ser tudo institucional. Não estou entrando na casa de ninguém sem pedir permissão. Todos estão chegando com um mandato dado pelo povo. Teremos um diálogo franco, aberto e, espero, de alto nível", afirmou Collor, que substituirá na Casa a candidata derrotada à Presidência Heloísa Helena (PSOL).

"Muita coisa mudou entre o Fernando Collor de ontem e o de hoje. Hoje sou uma pessoa mais experiente, mais preparada, mas que continua com a mesma determinação de lutar por aquilo que acredita", completou.