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24/10/2006 - 01h27

Na Record, Alckmin volta a endurecer os ataques contra Lula

Da Redação
Em São Paulo
Depois da relativa placidez do confronto anterior, no SBT, o candidato Geraldo Alckmin (PSDB) elevou novamente o tom dos ataques ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na frente das câmeras, desta vez no debate da TV Record, com mediação de Celso Freitas.

Reuters
Segundo a emissora, audiência teve média de 17 pontos, com pico de 20. No encontro realizado pelo SBT, os índices foram de 11 e 15 pontos, respectivamente. No primeiro debate, realizado na TV Bandeirantes, a média foi de 16 pontos, com pico de 21,5.
DEBATE É PARA ELEITOR, DIZ ALCKMIN
TARSO VÊ 'RANÇO PRECONCEITUOSO'
Ao final do debate, Lula acusou o golpe. Disse, nas considerações finais, que nunca um governo havia sido tão atacado quanto o seu.

Segundo pesquisas dos institutos Datafolha, Ibope e Vox Populi, Lula abriu vantagem de 20 pontos sobre Alckmin na semana passada. O comportamento na noite desta segunda-feira sinaliza para mais tensão no debate final, na próxima sexta, na Rede Globo.

Lula e Alckmin se enfrentaram pela terceira vez no segundo turno. A primeira foi no debate da Bandeirantes, em 8 de outubro, e a segunda na semana passada, no dia 19, no SBT.

Lula utilizou os minutos iniciais de apresentação para citar, como tema de debate, o problema da desigualdade social entre regiões e entre regiões metropolitanas. "Discutir o problema do Nordeste, que há décadas é tratado como região de segunda classe", sugeriu.


Marlene Bergamo/Folha Imagem
Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin durante debate promovido pela TV Record
"CANDIDATOS FORAM TEATRAIS"
NÚMEROS CITADOS NÃO BATEM
O Nordeste reapareceu como tema ao final, no quarto bloco: o candidato tucano cobrou promessas não cumpridas do governo Lula, enquanto o presidente citou realizações como o programa do leite, a construção de cisternas e a ampliação do Ensino Médio em nove Estados da região.

Já na apresentação, Alckmin partiu direto para as críticas ao adversário. "É importante analisar a atualidade. Temos uma notícia muito ruim, o Brasil é o penúltimo da América Latina em crescimento, e notícia péssima, um novo escândalo do atual governo", disse, citando denúncias de superfaturamento no Aeroporto de Congonhas.

"São duas marcas no atual governo: parado na economia e acelerado nos escândalos."

Também na primeira pergunta, o tucano voltou ao ataque e indagou Lula sobre os seus ex-ministros denunciados pelo Ministério Público e Polícia Federal.

O presidente revidou lembrando as CPIs abafadas na Assembléia paulista durante a gestão de Alckmin: "Se você não tivesse bloqueado 69 CPIs em São Paulo, talvez tivesse mais escândalos do que no governo federal". E Lula retomou um bordão do segundo turno, referindo-se ao seu governo: "Acabou no Brasil a era em que as coisas eram varridas para debaixo do tapete".

A pergunta-refrão da campanha de Alckmin, sobre a origem do dinheiro do dossiê contra tucanos, escândalo que levou a eleição para o segundo turno, surgiu ainda no primeiro bloco. "De onde veio aquele 1,7 milhão em reais e dólares para comprar dossiê fajuto?" O tucano citou nomes de assessores e ministros de Lula afastados por denúncias.

"O povo está repudiando esse comportamento do Alckmin", disse Lula.

Uma pergunta sobre planos para a indústria naval feita pelo petista não foi respondida pelo tucano. Alckmin enveredou pelo tema do desemprego e do baixo crescimento econômico, acusando o governo Lula de prestigiar os banqueiros. No primeiro bloco, Lula ainda não havia perdido o humor: "Esses banqueiros são ingratos porque ganham de mim e votam no Alckmin", respondeu o petista, provocando risos na platéia.

Nas suas perguntas, o candidato do PSDB procurou negar avanços do governo Lula em áreas como atendimento a deficientes físicos, saúde, investimentos no Nordeste. Por várias vezes, Lula se irritou com os dados controversos fornecidos pelo adversário.

"Queria pedir desculpas ao telespectador porque é difícil debater com tanta desinformação", disse o petista. "A taxa Selic era mais alta no governo FHC. Vocês entregaram esse país sem credibilidade sequer para financiar as exportações".

Alckmin prometeu cortar gastos na corrupção. Lula afirmou que 80% dos crimes da máfia das sanguessugas (o superfaturamento das ambulâncias a partir de emendas de parlamentares) começaram nos quatro anos que antecederam a sua posse. O escândalo foi retomado no terceiro bloco, destinado a perguntas de jornalistas.

Ao responder sobre seus defeitos, Alckmin disse que certamente teria vários, mas "roubar não". O tucano cobrou de Lula o conhecimento da origem do dinheiro do dossiê e disse que, como presidente, não jogaria a culpa nos outros.

"Isso poderia ter um efeito prático", Lula sugeriu. "Ele poderia chamar o Barjas Negri (ex-ministro da Saúde no governo FHC) e perguntar até que ponto ele se envolveu nesse negócio (da máfia das ambulâncias)".

Segundo bloco

Lula questionou o adversário sobre o rombo nas contas do Estado de São Paulo que estaria paralisando obras anteriormente "apressadas por conta do processo eleitoral". Segundo Alckmin, o governo de Cláudio Lembo termina este ano com déficit público zero e as contas estão "rigorosamente em dia".

Sobre o suposto superfaturamento nas obras do Aeroporto de Congonhas, apresentado pelo tucano como "o escândalo desta semana", Lula respondeu que "o dado concreto é que não tem nenhum julgamento do Tribunal de Contas". "As ilações feitas por você são maiores do que a força da própria denúncia", afirmou o petista.

Terceiro bloco

Os jornalistas Adriana Araújo, Bob Fernandes e Cristina Lemos fizeram perguntas para os presidenciáveis no terceiro bloco. Fernandes quis saber de Alckmin o seu sentimento em relação às pesquisas, que apontam uma vantagem de cerca de 20 milhões de votos para Lula. O tucano lembrou que obteve nas urnas 11 pontos percentuais a mais de votos do que indicavam as últimas pesquisas no primeiro turno. "A população já não dá muita bola para isso porque sabe que há oscilações (nas pesquisas)".

Neste bloco, o candidato do PSDB acusou Lula de quebrar a agricultura brasileira e provocar a maior crise nos últimos anos. "Ele agiu de forma irresponsável, só pensa em eleição".

"Fomos nós que criamos o seguro agrícola, vocês poderiam ter criado isso 50 anos atrás e não criaram", respondeu Lula. Também diante dos jornalistas, Alckmin prometeu reduzir o Imposto de Renda, os juros e os gastos supérfluos.

Quarto bloco

Como já havia feito no debate na Bandeirantes, Alckmin reiterou a palavra "mentira" no quarto bloco, referindo-se a supostas afirmações de Lula de que ele iria acabar com o Bolsa-Família, com a Zona Franca de Manaus e privatizar o Banco do Brasil e a Petrobras.

"É válida a mentira?", perguntou.

"Tem a história do PSDB que me induz a acreditar que vocês podem privatizar qualquer coisa", respondeu Lula. "Vocês não tem experiência de política social".

"É mais uma mentira. Não há apreço pela verdade", sublinhou o tucano.

"Nosso governo tem feito uma política social que há muitos e muitos anos precisava ser feita", disse Lula.

Antes das considerações finais, os candidatos engataram uma discussão sobre política externa. Lula ficou visivelmente irritado com o fato de o adversário não reconhecer o superávit comercial do Brasil e a ampliação das relações comerciais para diversos países, na África e no Oriente Médio, além dos tradicionais parceiros na América do Norte e na Europa.

"Conheço gente boa do PSDB sobre política externa, mas me parece que esse pessoal não está trabalhando contigo, Alckmin", provocou o presidente. O adversário prometeu, se eleito, privilegiar "economias fortes" e "fazer política externa que defenda o interesse nacional, e não política ideológica".

"Nós criamos condições para a Alca não ser imposta pelos Estados Unidos", disse Lula.
"A diferença entre eu e ele é tão grande que eu não preciso ficar falando isso o tempo inteiro", acrescentou.

Considerações finais

No último bloco, Alckmin lembrou ser "um homem de fé, temente a Deus". "Trabalhei para sustentar meus estudos, fui professor de madureza, de cursinho. Sei o quanto me fez bem aquele salário", disse, anunciando seu compromisso com "emprego, renda, trabalho".

Lula reiterou a necessidade de compatibilizar crescimento econômico com distribuição de renda. "Esse país durante muito tempo foi governado apenas para 35 milhões de habitantes", disse.
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