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19/10/2006 - 23h26

Lula e Alckmin baixam o tom e marcam diferenças em debate na TV

Larissa Guimarães
Em São Paulo
Menos agressivos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o candidato Geraldo Alckmin (PSDB) baixaram o tom e preocuparam-se em marcar diferenças no debate promovido pelo SBT na noite desta quinta-feira (19/10).

Marlene Bergamo/Folha Imagem
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz último preparativos antes do debate
Marlene Bergamo/Folha Imagem
O candidato Geraldo Alckmin conversa com sua equipe momentos antes do debate
Lula chamou a atenção dos eleitores para as diferenças entre o seu governo e o do ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso, com um discurso recheado de comparações. Alckmin apontou as diferenças de como seria sua gestão com os resultados do governo Lula, principalmente em relação ao crescimento da economia, saúde e combate à corrupção.

Embora menos tensos e agressivos do que no encontro na Rede Bandeirantes, os candidatos não deixaram de trocar farpas e ironias durante os quatro blocos do debate do SBT. Ao contrário do que havia sido noticiado como sua estratégia, Alckmin pouco tocou no caso do dossiê e não repetiu, como fez várias vezes no debate anterior, a pergunta sobre a origem do dinheiro que seria usado na compra dos documentos. O tucano preferiu o tema saúde para fazer críticas a Lula, chegando a questionar por três vezes o atual presidente sobre os investimentos do seu governo no setor.

Mais à vontade neste segundo debate presidencial, Lula escalou o tema privatização para colocar o tucano em saia justa. Criticou a situação da educação no Estado de São Paulo e disparou números de seu governo para fazer contraste com o de FHC.

1º bloco

Enquanto Lula usou ao máximo seu tempo para falar sobre os feitos de seu governo, Alckmin tentou ser didático ao explicar o caso dossiê. O candidato tucano voltou a dizer que o governo "tem de dar o exemplo" e, dirigindo-se a quem "está sentado no sofá", lembrou os escândalos do governo Lula um a um.

"O que nós vimos no atual governo não foram fatos isolados, que seriam graves, mas uma situação endêmica", disse, pouco antes de comentar os casos do mensalão e dos correios, entre outros.

Saindo da pauta de escândalos, Lula destacou os investimentos na área da saúde já na primeira pergunta. O petista comentou o crescimento de programas sociais, como o Saúde da Família.

AFP
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o candidato Geraldo Alckmin (PSDB) cumprimentam-se antes do debate no SBT
EFE
Lula é maquiado momentos antes
Reuters
Alckmin recebe retoques de maquiadora
Alckmin rebateu e disse que a saúde "piorou muito" durante o governo Lula. "Nenhum centavo da CPMF foi para as prefeituras. Foram abandonados os mutirões do (então) ministro José Serra", atacou.

Em resposta, Lula disse que as pesquisas mostravam que o povo avaliava a área da saúde como boa. "Não está bom para Alckmin porque ele não usa hospital público, ele usa convênio médico", ironizou o petista.

Os candidatos voltaram a trocar ironias no fim do primeiro bloco. Após ter sido sorteado para formular uma pergunta sobre segurança pública, Alckmin culpou o governo federal pelo corte de verbas para o setor.

"Que o povo que São Paulo não ouça isso porque vão achar que vai ter PCC no país inteiro. Se em 12 anos (o PSDB) não fez nada, como vai fazer pelo Brasil?", questionou Lula. "Lamento que criminosos do colarinho branco estejam soltos e faceiros", rebateu o tucano.

2º bloco

A temperatura subiu mais no segundo bloco do debate. Lula e Alckmin aumentaram a troca de ironias e fizeram questão de marcar as diferenças entre ambos. Lula cobrou do tucano uma "visão" sobre as privatizações. "Todo mundo sabe o que ocorreu no governo passado, em que tudo foi privatizado. Diga, sem que a gente fique nervoso aqui, só para discutir, qual é a sua visão sobre privatização?", questionou.

Alckmin defendeu as privatizações feitas no governo FHC e citou a telefonia como exemplo. "Não é errado privatizar", disse. "O que não pode é mentir, dizer que vou privatizar o Banco do Brasil", completou.

Em nova sessão de provocações mútuas, o tucano perguntou a Lula se ele sabia qual era a posição do Brasil no ranking de crescimento dos países emergentes, publicado recentemente pela revista The Economist.

Em resposta, Lula disse que Alckmin era "intelectualmente colonizado" e culpou o governo FHC pelo "atrofiamento" da economia. "Ele (Alckmin) é desses que deu no New York Times vale, senão não vale."

O petista comentou o "desastre" na educação em São Paulo, citando o colocação do Estado no ranking do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). "Seu programa de governo não fala em cotas, não fala em Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica)", contrastou Lula.

Para marcar diferença em relação a Lula, Alckmin disse que, se eleito, vai priorizar creches, o ensino infantil e a universalização do ensino médio. Aproveitou para criticar as "trocas de ministros" na pasta da educação. "Cristovam, um dos grandes mestres, foi demitido pelo telefone", alfinetou.

"O Fundeb só não foi aprovado porque me parece que existe uma orientação no PSDB para não aprovar nada que ajude o governo Lula", rebateu o presidente.

3º bloco

Lula começou o terceiro bloco tentando provocar o adversário, voltando ao tema das privatizações. "Me parece que ele (Alckmin) não gosta de responder (sobre as privatizações). Nem vou perguntar mais", ironizou. O presidente aproveitou para falar sobre o programa Luz para Todos e voltou a mostrar números.

"Ele é ótimo para mudar de nome dos programas. O governo anterior (de FHC) tinha o Bolsa-escola e o Bolsa-alimentação, que ele mudou para o Bolsa-Família. O Luz para Todos é o Luz no Campo do FHC", criticou o tucano.

Na réplica, Lula disse que o Luz para Todos não tinha "nada ver" com o programa do implantado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O petista argumentou que o Luz no Campo atendia a poucas famílias e não era gratuito.

Marlene Bergamo/Folha Imagem
Ao lado da primeira-dama Marisa, o presidente Lula fala com jornalistas na saída do debate promovido pelo SBT
Marlene Bergamo/Folha Imagem
Geraldo Alckmin é entrevistado por jornalistas ao sair do debate do SBT
Alckmin voltou a bater nas "diferenças" entre ele e Lula, afirmando que havia duas candidaturas "diametralmente opostas". "(Lula) não vai cortar gastos, vai manter a companheirada nos ministérios", afirmou, após a declaração do presidente de que não cortaria ministérios da área social em um segundo mandato.

4º bloco
Tanto Lula quanto Alckmin apelaram para um tom emocional no fechamento do debate do SBT, no bloco das considerações finais dos candidatos. Parafraseando o líder negro Martin Luther King, Lula disse ter "um sonho" de mais vagas nas universidades do país, entre outros pontos. Voltou a lembrar o número de famílias participantes do programa Bolsa-Família (cerca de 11 milhões). O petista disse também que pedia a Deus reflexão do povo na hora do voto.

Em sua consideração, Alckmin citou o tucano Mário Covas e lembrou que começou a trabalhar aos 18 anos para pagar os estudos. "Como diria Mário Covas, administração primeiro é gente, segundo é gente, terceiro é gente." O tucano resumiu suas críticas a Lula dizendo que o PT "teve sua oportunidade". Classificou o governo Lula como um "descalabro" sob o ponto de vista ético e voltou a dizer que o país não cresceu como poderia.

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