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08/10/2006 - 23h12

Lula e Alckmin fazem debate na TV com duros ataques

Cris Gutkoski e Daniel Pinheiro
Da Redação, em São Paulo
Começou e terminou crivado de acusações o primeiro debate com os presidenciáveis Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB), realizado na noite deste domingo pela Bandeirantes, na sede da emissora em São Paulo.

Alckmin partiu para o ataque à ausência de Lula nos debates anteriores já na primeira fala, quando lembrou e agradeceu as presenças de Heloísa Helena (PSOL) e Cristovam Buarque (PDT). Segundo o tucano, Lula só compareceu agora por medo de perder a eleição.

Caio Guatelli/Folha Imagem
O candidato tucano à Presidência pelo PSDB, Geraldo Alckmin, acusa o governo Lula de envolvimento no caso do dossiê logo na primeira pergunta do debate
PSDB CONFIRMA ESTRATÉGIA
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Lula e Alckmin trocaram críticas mútuas já a partir da pergunta inicial do mediador, o jornalista Ricardo Boechat. Ele quis saber se e como o próximo governo vai cortar despesas para melhorar os investimentos e fortalecer o crescimento econômico.

"Vou cortar gasto não da Previdência, mas da corrupção", disse Alckmin, citando também a necessidade de cortes nos ministérios "sem nenhuma razão de ser" e nos milhares de cargos em comissão. Prometeu também cortar gastos nas compras superfaturadas através de bolsa eletrônica e pregão eletrônico, experiências realizadas quando governador de São Paulo.

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz comparações de seu governo com a gestão de Fernando Henrique Cardoso
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GARCIA CRITICA ALCKMIN
Lula sequer deu boa-noite aos telespectadores. "O meu adversário decora alguns chavões para participar de debates", disse. Segundo o presidente, os partidos dos adversários já governaram muitos Estados e "ficou claro que a única coisa que sabem fazer é cortar gastos naquilo que não poderiam cortar".

"Nós fizemos o país crescer como em nenhum momento da sua história nos últimos 20 anos", afirmou Lula. "Até parece que o governador não estava no Brasil em 2003. Poderia começar me agradecendo. Esse país estava totalmente falido, não tinha crédito, não conseguia controlar a inflação". Lula disse que seu governo gerou 7 milhões de empregos em apenas quatro anos.

Na hora das perguntas entre candidatos, Alckmin repetiu a pergunta que vem fazendo desde meados de setembro: "De onde veio o dinheiro sujo, 1,7 milhão em dinheiro vivo, para comprar um dossiê fajuto?"

"Faz 30 dias que ele quer saber de onde veio o dinheiro", replicou Lula. "O único ganhador nesse trambique todo foi a candidatura do meu adversário", disse. "A Polícia Federal é muito competente, ela não faz pirotecnia, ela investiga". Lula afirmou que Alckmin possivelmente teria saudade do tempo da ditadura, quando as investigações eram mais rápidas.

"Uma investigação séria é demorada. Afastamos todas as pessoas envolvidas, cabe à PF fazer as investigações", disse Lula.

Ao fazer a pergunta, o presidente e candidato à reeleição citou a participação de Barjas Negri, ministro da Saúde que sucedeu José Serra no governo de Fernando Henrique Cardoso, no escândalo dos sanguessugas e da máfia dos vampiros.

Negri foi secretário de Habitação do então governador Alckmin. "O candidato sabia ou não sabia das transações obscuras do Barjas Negri?"

Alckmin respondeu que os escândalos não diziam respeito ao seu governo.
"Não tem uma prova", afirmou. "Quanto ao Barjas Negri, no meu governo não tem absolutamente nada. Se há alguém que não tem moral para falar de ética, é o candidato Lula."

Lula voltou à carga e lembrou que no governo do PSDB e PFL em São Paulo, 69 pedidos de CPIs foram engavetadas. "A que preço eu não sei", sublinhou. "Sou de formação pobre, mas da formação de quem não deve não teme". Segundo o presidente, Negri tem condenações provisórias do Tribunal de Contas.

O candidato tucano questionou a afirmação de Lula de que não teria tentado impedir a realização de CPIs. "As CPIS só saíram porque o Roberto Jefferson contou a verdade pro Brasil. O governo foi derrotado, por isso é que saíram as CPIs."

Antes do evento, o senador Eduardo Suplicy (PT) lembrou que se trata da primeira vez que um presidente em exercício do mandato se dispõe a debater com um adversário em período eleitoral. Na campanha de 1998, encerrada ainda no primeiro turno, o presidente e candidato à reeleição Fernando Henrique Cardoso (PSDB) não compareceu aos confrontos na TV.

O debate tem mediação do jornalista Ricardo Boechat e se compõe de cinco blocos. No quarto, em vez do confronto direto dos adversários, jornalistas farão perguntas aos presidenciáveis.

No primeiro turno, os presidenciáveis participaram de três debates na TV, todos sem a presença de Lula: na Bandeirantes em 14 de agosto, na Gazeta em 13 de setembro e na Globo em 29 de setembro. Até o momento, está confirmada a realização de um segundo debate no segundo turno, na Globo, em 27 de setembro.

Segundo bloco
O segundo bloco do debate entre Lula e Geraldo Alckmin seguiu o padrão do primeiro, com muitos ataques entre os candidatos. O tucano voltou a falar dos escãndalos de corrupção que ocorreram durante o governo Lula, e insistiu em saber a origem do dinheiro que comprou o dossiê contra José Serra. Já Lula falou de episódios que remontam ao governo de FHC, e questionou: "Por quê não puseram o Fernando Henrique aqui, vergonha?"

No início, Lula voltou a falar das 69 CPIs que Alckmin teria engavetado em sua administração. Antes de responder, Alckmin também retomou um assunto do primeiro bloco e disse que não é preciso tortura para descobrir a origem do dinheiro que comprou o dossiê. Sobre as CPIs, o candidato do PSDB citou o regimento da Assembléia Legislativa de São Pauço, que obriga que os pedidos de abertura de investigações devem ser votados em plenário.

Em seguida, Alckmin passou a falar do Rodoanel, que segundo ele é "a obra mais barata do Brasil". Sobre a participação federal nesta iniciativa, o tucano foi enfático ao falar que "o governo do Lula é contra o Rodoanel".

Lula ironizou Alckimin, que reclamou que o petista apenas lia as suas perguntas, sem ter certeza das saus afirmações. "Eu não sei se o candidato se incomoda com o fato de eu ler, mas eu vou continuar lendo para não cometer nenhuma leviandade".

O tucano voltou a falar sobre os escãndalos de corrupção, em especial do indiciamento de cinco ministros do governo Lula. "Eu não me omito, eu não jogo nas costas do governo as minhas responsabilidades", disse Alckmin sobre a falta de ação do presidente em relação a esses episódios, que chamou de "estranhos".

A reação de Lula foi dizer que "o estranho não é ter ministro envolvidos, o estranho é ter os ministros envolvidos punidos", e citou que o princípio da ética é "cortar na própria carne".

Alckmin replicou, e disse que Lula não cortou na carne, já que os ministros não foram demitidos, e sim pediram demissão, e acusou o governo do petista de ser "violento com os pequenos", como o caseiro Francenildo, que teve seu sigilo bancário quebrado após acusar o então ministro da Fazenda Antonio Palocci de participar de reuniões com lobistas em Brasília, e "pequeno e fraco, fraquíssimo", contra os grandes erros de sua administração.

Lula disse que o mais importante não é dizer que seu governo não tem corrupção, e sim punir com rigor os corruptos quando eles surgiram.

Terceiro bloco
Os temas da corrupção e da ética saíram de cena no terceiro bloco do debate dos presidenciáveis na TV Bandeirantes, na noite deste domingo. Os adversários Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB) trocaram perguntas sobre administração pública, nos temas da segurança, transportes, geração de energia, entre outros.

Primeiro a perguntar, por sorteio, Lula questionou o candidato tucano sobre o calcanhar-de-aquiles de sua campanha, o caos na segurança pública em São Paulo, deflagrado em maio com os atentados atribuídos ao PCC (Primeiro Comando da Capital). O presidente afirmou que, depois de 12 anos de governo do PSDB e PFL, os secretários de segurança e administração penitenciária não se entendiam e "o PCC tomou conta do país".

Alckmin retomou alguns números exibidos anteriormente em sua propaganda eleitoral. Disse que seu governo retirou das ruas 90 mil bandidos, reduziu em 50% os homicídios em São Paulo e construiu 75 unidades prisionais. "O governo Lula só fez uma (cadeia)", provocou o tucano, para quem a polícia de fronteira prometida pelo governo federal "não aconteceu", permitindo o tráfico de drogas e armas no país.

"Fizemos a nossa parte. E o candidato Lula?", indagou Alckmin. Segundo o tucano, o governo federal liberou apenas uma pequena parte, 9%, das verbas do sistema único de segurança pública e ainda cortou verbas do setor na maioria dos Estados.

Lula acusou o adversário, quando governador, de cortar 15% do orçamento da segurança pública e R$ 67 milhões no setor da inteligência. "Há contradição entre os números que você decorou e a realidade da segurança em São Paulo", afirmou o petista.

Na hora de perguntar, Alckmin fez críticas à política externa brasileira, ressaltando o que considera a submissão do país em relação à Bolívia e também a invasão dos produtos chineses no mercado. "Com a Bolívia o Brasil foi humilhado", disse.

Para Lula, "a política externa brasileira é ousada". O presidente citou o aumento expressivo nas exportações no seu governo e disse que a América Latina é hoje o maior comprador do Brasil. "Nos abrimos para a África, para quem os defensores da tua política externa viraram as costas", afirmou Lula.

"Esse país conquistou autoridade moral. A Bolívia fez com o gás dela o que todos os países fizeram com o petróleo. O Brasil tem que ser justo com a Bolívia na negociação. Já houve tempo em que a bravata com os países pobres predominava, agora não, agora é parceria".

Lula citou o presidente norte-americano George Bush e disse que Alckmin "pensa ainda que estamos na Guerra Fria". "Se o Bush tivesse o bom senso que eu tenho, não teria a guerra do Iraque. Ele foi avisado. Ele pensava que nem você, Alckmin, e fez uma barbárie dessas".

Ao fazer a pergunta para o adversário, Lula chamou o candidato a vice-presidente de Alckmin de "rei do apagão" e perguntou qual a sua proposta para a questão energética brasileira.

Em vez de desenvolver seu programa de governo na área, Alckmin fez críticas ao governo Lula. "O Brasil não cresceu, perdeu oportunidades. O Brasil não tem investimento em geração de energia importante. O Brasil está parado na área de energia. As hidrelétricas do Norte não saíram do papel". As críticas foram rebatidas pelo presidente, que citou a auto-suficiência da Petrobras, comemorada em abril deste ano, e a criação de projetos como H-Bio e biodiesel.

Alckmin perguntou sobre a ausência de investimentos nas estradas e disse que apenas no quarto ano do governo Lula houve a operação tapa-buracos, sem concorrência pública. Lula respondeu que o seu governo está restaurando 26 mil quilômetros de estradas e fazendo obras em aeroportos como o de Congonhas, em São Paulo.

"Veja o aeroporto de Congonhas, você poderia me agradecer", afirmou. "Fazemos isso porque o Brasil precisa disso. Quando vocês governaram o Brasil, vocês não acreditavam que o país poderia crescer. Vocês pensavam pequeno, pensavam o Brasil apenas exportando para os Estados Unidos e para a União Européia. E eu quero o Brasil exportando para o mundo inteiro".

Para Alckmin, "o mundo do candidato Lula é o mundo virtual. Ele anda de Aerolula, eu fui ver as estradas brasileiras", lembrou. No final do bloco, o presidente e candidato à reeleição pediu ao adversário que reconhecesse os avanços promovidos desde a sua posse, em 2003. "O fato concreto e objetivo é que o Brasil melhorou. Reconheça pelo menos uma vez. As pessoas estão comendo mais, construindo mais".

Quarto bloco
O quarto bloco do debate entre Lula e Alckmin foi marcado pela mudança em seu formato. Os candidatos tiveram que responder questões feitas por jornalistas do Grupo Bandeirantes.

A primeira questão foi feita pelo comentarista Franklin Martins para o presidente Lula, sobre um dos temas mais abordados durante toda a campanha - o fato do petista dizer que não tinha conhecimento sobre episódios importantes de seu governo, como o escândalo do mensalão, e se ele não repetiria esse mesmo erro em um eventual novo governo.

Lula disse que o mais importante não é saber ou não o que aconteceu, já que "a lógica da ética não é saber antes de acontecer, e sim punir quando acontecer". O atual presidente disse que vai continuar a punir "companheiros de 30 anos" caso eles se envolvam em atos de corrupção. Citou também a eficiência da Polícia Federal em investigar os casos de corrupção. Falou também que "o Presidente da República não se exime de responsabilidades, mas nenhum presidente ou pai de família sabem de tudo".

Em sua réplica, Alckmin disse que Lula não responde às grandes questões sobre valores porque seu governo é "uma lista telefônica de corrupção", e citou como exemplo a impressão de cartilhas com recursos federais que foram distribuídas em diretórios do PT.

Fernando Vieira de Mello propôs a segunda questão, direcionada a Alckmin, sobre a redução da maioridade penal, e falou sobre o assassino de Liana Friedenbach e Felipe Caffé, conhecido como Champinha.

Alckmin disse que é contra a redução da menoridade penal, mas é a favor de aperfeiçoar o Estatuto da Criança e do Adolescente, e prever mais de 3 anos de internação em casos graves, e remover os maiores de 18 anos da Febem, com a interrupção da internação ou a transferência para o sistema prisional, mas separado dos presos comuns. Falou também da falta de exemplo que os jovens tem, e que "a impunidade é a mãe de todo tipo de corrupção".

Ao comentar, Lula disse que problema da segurança pública diz que não é apenas político, mas que envolve a família e a sociedade. E falou de investir nos jovens, na educação, e nas oportunidades de emprego.

A terceira questão foi feita para Lula por José Paulo de Andrade, que citou uma entrevista de um autor de novelas que disse que o brasileiro tem mais simpatia pelos vilões que pelos mocinhos para saber como Lula retomaria a ética e o exemplo para os jovens do país.

Lula não respondeu diretamente e ainda aproveitou para alfinetar a imprensa, que para o petista faz uma cobertura exagerada dos episódios que envolvem seu governo. "Tão grave quanto os problemas do Brasil é a desagregação da sociedade Brasileira", disse o presidente, que pediu a participação de todos para a propagação de bons exemplos que inspirem os jovens, principalmente a divulgação deles na mídia.

O tucano rebateu os argumentos de Lula, dizendo que "quanto a corrupção, o exemplo vem de cima". Alckmin afirmou que Lula não tem autoridade moral para falar sobre assunto depois dos escândalos em seu governo.

O ponto mais quente do terceiro bloco foi exatamente a resposta de Lula à afirmação de Alckmin. "Eu tenho autoridade moral porque 60% dos prefeitos envolvidos com os sanguessugas são do PFL e do PSDB, e tenho autoridade moral poque não deixo sem punição os envolvidos com corrupção".

A economia foi o tema da última questão, que foi formulada por Joelmir Beting para Geraldo Alckmin. O jornalista queria saber onde, quando e como faria cortes significativos nos gastos federais para estimular o crescimento do país.

Em sua resposta, o tucano disse que o Brasil não cresce pela taxa de juros e que "o governo Lula do PT é a tartaruga, tá parado, tá parado", mas não especificou os cortes que faria. Falou em não desperdiçar o dinheiro do povo e promover a eficiência do gasto público. Para atacar o governo Lula, Alckmin afirmou que a gestão do petista gastou mais em propaganda que em saneamento básico.

Lula devolveu o ataque ao tucano em sua réplica. "De gasto em publicidade o Alckmin conhece. É só ver a Nossa Caixa", disse o presidente, fazendo referência a um dos episódios mais explorados na campanha contra o governador de São Paulo.

No contra-ataque, Alckmin disse que a política de Lula é a mesma política da gestão Fernando Henrique, só que de maneira equivocada. "O remédio e o veneno são os mesmos, o que diferencia é a dose".

Considerações finais
No quinto bloco do debate na Bandeirantes, dedicado às perguntas e considerações finais, o candidato Geraldo Alckmin (PSDB) acusou o adversário Luiz Inácio Lula da Silva de manter um comportamento "irônico, arrogante e desrespeitoso". Alckmin fez referência ao que considera "boatos mentirosos" divulgados pela campanha petista sobre o risco de privatizações, num eventual governo tucano.

"Fico triste de ver o presidente do meu país mentir no rádio, dizendo que vou privatizar a Petrobras, a Caixa Econômica Federal, os Correios".

"Todo o mundo sabe que foram PSDB e PFL que privatizaram o país. Não precisa esconder isso de ninguém. Quando não tiver mais o que vender, vai vender a Amazônia?", retrucou Lula. "Ficar bravo não faz teu gênero, Alckmin. Eu te conheço e não faz teu gênero".

Os candidatos trocaram acusações no tema da educação. Lula questionou o tucano sobre as escolas de lata, a não-participação do Estado de São Paulo na Prova Brasil, sobre a redução de vagas no Ensino Médio e o aumento das reprovações dos estudantes de escolas públicas. Alckmin criticou o governo federal pela demora no envio do Fundeb ao Congresso.

Nas considerações finais, Lula afirmou que saiu candidato à reeleição por estar convencido de poder fazer "mais e melhor". "O alicerce está pronto, a parede está levantada, falta o madeiramento e o telhado", comparou, destacando obras em pólos petroquímicos, siderurgias, geração de combustíveis. Segundo Lula, em 20 meses o biodiesel levou emprego para milhares de famílias.

Alckmin reiterou seu compromisso com o desenvolvimento. "O PT já teve a sua chance e deixou passar. Tá com a receita errada, de aumentar gasto e cortar investimentos". O tucano afirmou que seu primeiro compromisso, se eleito, será com emprego e renda.

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