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31/08/2006 - 01h37

"Tenho orgulho dos apoios que recebo", afirma Lula em entrevista na TV

Da Redação
Em São Paulo

Ichiro Guerra/Divulgação - 02.ago.06

Presidente concedeu entrevista na biblioteca do Palácio da Alvorada

Presidente concedeu entrevista na biblioteca do Palácio da Alvorada

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou em entrevista ao "Jornal da Globo" que tem orgulho dos apoios que recebe, ao responder se não sentia constrangimento com o senador Ney Suassuna (PMDB-PB), acusado de envolvimento no esquema dos "sanguessugas", e o deputado federal Jader Brbalho (PMDB-PA), que renunciou ao mandato de senador em 2001 para evitar cassação, em seu conselho político.

"Os integrantes do conselho representam partidos que me apóiam. Uma parte do PMDB me apóia. Eu não escolho nem veto as pessoas indicadas ao conselho", disse o presidente, que mostrou otimismo e afirmou necessitar de apoios para a governabilidade de seu eventual segundo mandato. "Sinto orgulho dos apoios que recebo, vamos ganhar a eleição, se Deus quiser, e teremos a sustentabilidade que o Brasil precisa".

O presidente afirmou que muitos que criticam suas alianças políticas já defenderam uma aproximação dele com o PSDB.

Apresentada na madrugada desta quinta-feira (31/08), a entrevista durou 17 minutos e 47 segundos e concentrou-se na economia e na política social. O presidente interrompeu os entrevistadores por diversas vezes e continuou a falar mesmo quando eles tentavam retomar a palavra, num comportamento assertivo, bem diferente da entrevista ao "Jornal Nacional", no início de agosto.

Carga tributária
O petista negou que seu governo tenha aumentado a carga tributária, como afirmaram os repórteres que o entrevistaram, William Waack e Cristiane Pelajo. De acordo com o presidente, a carga tributária brasileira só aumentou se for medida como proporção do PIB. Neste caso, Lula admitiu que a arrecadação de impostos representava cerca de 32% do Produto Interno Bruto em 2002 e, hoje, atinge 37%.

Mas o presidente explicou que a arrecadação subiu porque o país cresceu e porque a Receita Federal foi mais eficiente. "Diga um único imposto que eu criei ou que aumentou em meu governo", questionou Lula a seus entrevistadores.

Os jornalistas então perguntaram por que o governo não concedeu nenhum alívio fiscal, uma vez que houve aumento da arrecadação, ao que Lula respondeu: "mas como não houve alívio fiscal? Acabei de dizer que nós desoneramos diversos setores da economia".

O presidente, então, informou os repórteres que os preços de arroz, feijão, farinha de mandioca, entre outros produtos alimentícios, e de areia, ciimento e tijolos, entre outros produtos da construção civil, ficaram mais baratos em seu governo jusrtamente porque ele determinou o alívio fiscal para itens de consumo popular, beneficiando as pessoas mais pobres. "Pergunta para a dona de casa".

"No total, desoneramos R$ 19 bilhões, houve também a redução das alíquotas do Imposto de Renda", reiterou Lula, que negou enfaticamente a alegação de que seu governo descumpriu o compromisso de não elevar a carga tributária.

O presidente também foi enfático ao revelar que já definiu os pontos básicos da reforma tributária com seu relator, o deputado federal Virgílio Guiimarães (PT-MG), e que a reforma só não é votada porque a oposição não quer.

"Se eles quisessem, a reforma sairia ainda neste ano. Mas não permitem que os deputados votem, e depois o candidato deles diz que o meu governo aumenta imposto e não faz a reforma", disse Lula, em referência a críticas de Geraldo Alckmin.

Crescimento econômico
Lula também refutou a afirmação de que o Brasil tem crescimento pífio se comparado com o da China e de outros países emergentes. O presidente afirmou que seu governo construiu a infra-estrutura sobre a qual o país poderá crescer com estabilidade e distribuição de renda pelos próximos anos.

"Já vi o Brasil sendo comparado com a Índia, com a China e até com o Haiti. Mas o Brasil deve ser comparado é com o Brasil. Nunca houve uma comjuntura de fatores tão positivos para a economia brasileira, as exportações crescem, o crédito é farto, a balança comercial é postiva, as transações correntes são favoráveis", disse Lula.

O presidente explicou aos repórteres que seu governo também terá definido os marcos regulatórios das PPPs (Parcerias Público-Privadas) que permitirão o aumento do capital privado no investimento, um dos motores do crescimento econômico. Segundo Lula, seu governo estuda a expansão do Brasil em mercados em que pode assumir a liderança global, como o de papel e celulose.

"O Brasil nunca esteve tão preparado para dar o próximo passo", concluiu o presidente, defendendo um ciclo de crescimento contínuo com investimentos em educação.

O caso Volkswagen
Lula foi questionado sobre o que esperaria de um presidente se ainda fosse líder sindical, diante da crise da Volkswagen, que demitiu 1.800 empregados de sua fábrica de São Bernardo do Campo (SP). O presidente revelou que já chorou na porta da Mercedes-Benz no passado, quando esta anunciou a demissão de 8 mil trabalhadores.

"A Volks se precipitou ao anunciar as demissões sem discuti-las com o governo e com o sindicato", disse o petista, que informou que 27 mil empregos na indústria automotiva foram criados em sua gestão.

Lula disse não conhecer a atual situação da montadora, mas afirmou que a Volks optou pelas demissões num momento em que ela "nunca exportou tantos carros e o mercado interno cresce".

"Eu sei o que é a fome"
O presidente demonstrou irritação diante Waack, que perguntou por que o governo investe mais em programas sociais "que dão o peixe" do que na educação "que ensina a pescar". Lula informou que seu governo ataca nas duas frentes e que uma não anula a outra.

"Eu sei o que é a fome. A criança que vai para a escola com fome aprende menos. Nossa política social garante três refeições diárias. Isso está na bíblia, deve estar na consciência de todo homem público", afirmou o presidente. "Eu sei o que é uma mãe ter cinco filhos pedindo comida e ela não ter nada para dar".

Na seqüência, os jornalistas abordaram fraudes no program Bolsa-Família, e a ampliação de famílias atendidas em pleno período eleitoral.

Lula respondeu que o programa é fiscalizado pelo Ministério Público e pelo conjunto da sociedade. "Um programa que atende 11 milhões de famílias pode ter erros. Mas isso não nos impede de expandi-lo em três frentes: ampliar o número de beneficiados, aumentar a fiscalização e gerar empregos, por meio do crescimento econômico, que seriam a porta de saída do programa".

Educação
O presidente discorreu com desenvoltura ao responder sobre a educação, enfatizando a implantação do Fundeb (Fundo para a Educação Básica) que, segundo Lula, destinará R$ 5 bilhões para o setor.

Os jornalistas apontaram apenas 23% das escolas públicas brasileiras com biblioteca, 10% com acesso à Internet e que somente 45% dos professores têm ensino superior completo. "Este não é um quadro desolador?", perguntou a repórter.

Lula concordou, mas afirmou que tal quadro resulta dos 500 anos anteriores a seu mandato e enumerou as realizações em andamento. O petista destacou a implantação da Universidade Aberta, que, segundo ele, estará presente em 80% dos municípios brasileiros, com a função de aprimorar a formação dos professores.

O presidente também destacou que seu governo passou a mensurar a qualidade da educação pelo Prova Brasil, com testes para alunos da 4ª e da 8ª séries, em 41 mil escolas, ao contrário do governo de Fernando Henrique Cardoso, quando apenas cerca de 6 mil escolas aplicavam os testes, só para alunos da 4ª série. Neste momento, Lula deu uma alfinetada em Alckmin:

"Somente o Estado de São paulo se recusou a participar do programa, talvez temendo revelar que, embora sendo o Estado mais rico, não liderava o ranking da educação", disse Lula, que completou: "Depois o Enem [Examen Nacional do Ensino Médio] veio mostrar que São Paulo está na oitava posição no país", concluiu Lula.

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