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Lula

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ÁLBUM DE FOTOS

Nome: Luiz Inácio Lula da Silva

Data de nascimento: 27 de outubro de 1945

Local: Garanhuns (PE)

Partido: Partido dos Trabalhadores (PT)

Tempo de partido: Desde a fundação (1980)

Partidos anteriores: Nenhum

Formação profissional: metalúrgico

Site: www.lulapresidente.org.br

A 5ª campanha de Luiz Inácio, a 1ª como presidente

Cris Gutkoski
Da Redação
Em São Paulo

Eleito presidente com 52,8 milhões de votos, o petista Luiz Inácio Lula da Silva foi saudado com as melhores expectativas pela esquerda brasileira e estrangeira. Era a quarta vez, em 2002, que enfrentava uma campanha pelo Palácio do Planalto, talvez a última, se perdesse. O historiador Eric Hobsbawn definiu a vitória do ex-sindicalista como "um dos poucos eventos do começo do século 21 que nos dá esperança para o resto deste século". Em Londres, em 14 de julho de 2003, o sociólogo Anthony Giddens manifestou o otimismo que o presidente transformasse não apenas o Brasil, mas "o mundo".

Por ora, sabe-se que o governo Lula mudou a história do Partido dos Trabalhadores, até então pautada pela bandeira da ética na política. Denúncias de corrupção e caixa dois acumularam-se na segunda metade do mandato, fazendo soar a palavra "impeachment". Para espanto da oposição, os sucessivos meses de ataques em CPIs a parlamentares petistas, aliados e integrantes do governo federal não conseguiram abalar a preferência do eleitorado por Lula, estável em cerca de 40% das intenções de voto.

Aos 60 anos, o petista está na quinta campanha para presidente. Pela primeira vez, vai rechear sua biografia na propaganda com o que fez e será cobrado pelo que deixou de fazer no poder. A aposta era alta, da parte do próprio Lula. "Qualquer outro presidente da República pode ser eleito e não fazer nada, que o povo já está acostumado, mas nós não temos esse direito, porque tem gente que carrega a nossa bandeira há 10, 20, 30 anos", ele declarou em Fortaleza, em 24 de outubro de 2002. "Quero provar que metalúrgico é capaz de governar este país melhor do que a elite brasileira conseguiu nestes últimos cento e tantos anos de República".

Três derrotas distintas
Como metalúrgico e sindicalista, Lula foi um dos fundadores do PT, em 1980, e o primeiro presidente do partido. Naquele ano, havia sido preso, por um mês, pela Lei de Segurança Nacional, por ter liderado as primeiras greves do setor automobilístico no ABC paulista. Desde 1975, conquistara a presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema.

No final da ditadura militar, quando foi deflagrado no país o movimento pelas eleições diretas para presidente, em 1984, Lula já era um líder reconhecido, ex-candidato a governador de São Paulo (fez 1,3 milhão de votos, em 1982). A comissão de frente do Diretas-Já, com Ulysses Guimarães, Franco Montoro e Teotônio Vilela, incorporava um político da classe operária, ainda sem mandato parlamentar.

A primeira (e única) eleição para a Câmara dos Deputados foi em 1986. Os mais de 650 mil votos deram a Lula o status de deputado mais votado do país, voz a ser ouvida nos embates que elaboraram a nova Constituição. Estava se pavimentando o caminho para o PT lançar candidato próprio na primeira eleição direta para presidente em quase três décadas de abstinência cívica.

Foram três campanhas e três derrotas distintas, em 1989, 1994 e 1998. Na estréia como presidenciável, Lula apresentava-se em comícios e passeatas vestido de jeans e camiseta, de barba comprida, a expressão do rosto fechada e uma dicção sofrível. O visual despojado contribuiu para solidificar o preconceito de vastas camadas da população contra o líder operário. Mas Lula foi crescendo nas pesquisas, bateu o veterano Leonel Brizola (PDT) por pouco e chegou ao segundo turno contra Fernando Collor (PRN). Perdeu a eleição depois de um debate na TV cuja edição, pela Rede Globo, é mencionada e estudada até hoje como exemplo de manipulação da mídia.

Vencedores e vencidos
A chance real de vitória em 1989 animou os petistas, e Lula desembarcou na campanha seguinte, em 1994, como favorito até a metade do ano, até o lançamento do Plano Real. O partido trocou de discurso em relação ao plano econômico e precisou também trocar de candidato a vice-presidente. Aloizio Mercadante substituiu José Paulo Bisol, senador do PSB gaúcho. Em agosto, Fernando Henrique Cardoso já ultrapassava Lula nas pesquisas. O tucano venceu no primeiro turno.

Surgiu nesta segunda campanha uma das comparações biográficas que mais enfureceram Lula. Em evento de que participava Ruth Cardoso, a empresária de teatro Ruth Escobar anunciou que os brasileiros teriam duas opções: "Votar em Sartre ou escolher um encanador". No bunker petista em São Paulo, para aliviar o clima, falava-se em injustiça não só com os encanadores, mas com o escritor francês Jean Paul Sartre. Lula não riu. Nos comícios seguintes, lançaria torpedos que continuariam ecoando dez anos depois, já na Presidência da República:

"A elite sabe que sou um vencedor. Uma criança nordestina que não morreu de fome até os cinco anos já venceu na vida. Um nordestino que desembarcou de um pau-de-arara, fugindo da seca, e não virou marginal é um vencedor. No meu governo, um filho de encanador vai disputar vaga na universidade com o filho de uma empresária de teatro como a senhora Ruth Escobar."

Em 1998, aprovada no Congresso a novidade da reeleição, Lula demorou a se lançar candidato. Perdeu de novo, no primeiro turno. Em 2002, o PT abriu o leque de alianças para o PL, que atraiu o voto dos empresários e dos evangélicos. Embalado por uma campanha eficiente na TV que explorava a imagem do "Lulinha paz e amor", o petista manteve-se na dianteira nas pesquisas. Venceu José Serra (PSDB) no segundo turno por uma diferença superior a 19 milhões de votos.

Os discursos de Lula
No primeiro discurso como presidente eleito, antes da posse, Lula privilegiou o tema do combate à fome. Três anos e meio depois, em 17 de maio de 2006, uma pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revelou que eram precisas até as projeções de Lula, de dezenas de milhões de vítimas da falta de comida suficiente.

Em 2004, somando-se as pessoas com insegurança alimentar grave (as que passaram fome) e moderada (as que ficaram preocupadas em não ter alimentos), chegava-se a um contingente de 39,5 milhões de brasileiros. A história da mãe, Eurídice, e dos irmãos do presidente viajando do Nordeste para o litoral paulista, em 1952, abastecidos apenas com água, farinha e rapadura, é conhecida. Nas centenas de comícios e passeatas que fez em quatro campanhas presidenciais, em zonas urbanas e rurais, Lula era capaz de identificar crianças famintas sem necessidade de perguntas.

A história de vida do metalúrgico e sindicalista que se elegeu presidente o separa dos antecessores e possivelmente dos sucessores. Essa clivagem reflete-se nos discursos, em especial nos improvisados. Em 3 de abril deste ano, na troca de ministros em preparação à campanha eleitoral, o presidente falou sobre pescadores e estádios de futebol. Em 5 de maio, no auge da crise com a Bolívia, aproveitou a inauguração de uma linha turística de trem em Ouro Preto para revelar seus conhecimentos de cachaça mineira e citou as infidelidades conjugais de dom Pedro 1º. Na fala de Lula, esses temas ausentes nos discursos de José Sarney, Itamar Franco ou FHC surgem naturalmente, e estabelecem com a população laços que as denúncias e as ameaças de impeachment não conseguiram quebrar até agora.

Na campanha até outubro, o candidato vai reforçar sua biografia com realizações de governo como o crescimento das exportações e do crédito para a população de baixa renda, a queda no risco Brasil, a diminuição do desemprego e da miséria, o aumento real do salário mínimo, as bolsas para estudantes carentes em universidades privadas. Lula tem quatro campanhas presidenciais de experiência em debates e décadas de negociação dura com os oponentes. Para os fugitivos da seca, as adversidades sempre estiveram por todos os lados, no chão estéril e no céu sem nuvens.








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